O Ba-Vi das lições técnicas, táticas e sociais

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova
Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova Marcelo Malaquias/EC Bahia/Divulgação

A primeira metade do clássico Ba-Vi refletiu o que as duas equipes tem feito no Campeonato Brasileiro, mesmo que o segundo tempo não me dê razão. Enquanto o Bahia tentou jogar com a bola nos pés, como gosta Paulo Cézar Carpegiani, o Vitória apostou no jogo reativo, como o grupo se sente confortável e Vagner Mancini teve que se adaptar.

Parte dos números do jogo ajuda a explicar as posturas. Na primeira etapa, o Bahia teve pouco mais de 67% de posse de bola, mas apenas duas finalizações – mesmo número do Vitória, que ficou um terço do tempo com a pelota em seus domínios.

Carpegiani optou por começar o jogo com Allione, meia armador com características diferentes de Régis, um meia-atacante com poder de infiltração na área. O argentino se encarregou de dar apoio ofensivo a Edigar Júnio, usado novamente como atacante de referência. O Bahia, por muitas vezes, espelhou o esquema tático do Vitória e jogou no 4-4-2, formando duas linhas de quatro e dando liberdade para Mendoza flutuar no último terço do campo. Criou volume, mas pouco incomodou o goleiro Caíque.

O Vitória não soube jogar com a bola nos pés. Com Ramon no meio-campo, ao lado de Uillian Correia, somente Yago tentava o jogo de posse. Neilton e David, verticais, buscava o confronto um contra um o tempo inteiro. Uma identidade do rubro-negro de Vagner Mancini, sobretudo como visitante.

O Vitória até melhorou no segundo tempo. Sem espaço para contra-ataques, o time buscou a compactação e tentou a troca de passes. Porém, ainda tivesse 58% de posse de bola, sofreu o primeiro gol oferecendo espaços na defesa e contando com a falha individual de Wallace, que rebateu a bola nos pés do inquieto Stiven Mendoza.

Veja os gols de Bahia 2 x 1 Vitória

Com o Bahia se fechando após o 1 a 0, principalmente com a entrada de Matheus Sales em lugar de Zé Rafael, Carpegiani abriu mão de atacar para fazer algo que diz odiar: se defender. Ele diz, inclusive, que não sabe jogar na defensiva. Provou isso ao sofrer o gol de empate, mesmo em bola parada. Fez a Fonte Nova vir abaixo graças a uma substituição que havia feito minutos antes, quando colocou Régis em campo e deu um pouco de verticalidade ao time. Foi dele o passe para a finalização de Edigar Júnio, bem defendida por Caíque. No escanteio, desvio de Edson e gol de Edigar.

A posse de bola e o controle do jogo voltaram ao Bahia. É uma evolução. O Vitória segue com o jogo reativo e tem dificuldades para jogar com a posse da bola. Precisa criar alternativas. Na gangorra do Brasileirão, o tricolor voltou a viver tranquilo justamente por retomar suas origens.

Insultos e suas consequências

Antes do apito final do árbitro, Renê Júnior e Santiago Tréllez se desentenderam. O volante do Bahia acusou o atacante do Vitória de chamá-lo de “macaco” – uma injúria racial que, infeliz e absurdamente, tem virado rotina no futebol brasileiro. Renê saiu de campo chorando e Tréllez foi embora do estádio sem dar declarações, se pronunciando apenas horas depois, através de vídeo divulgado pela assessoria rubro-negra.

O que se viu na Arena Fonte Nova foi um despreparo de muitos personagens ao tratar do tema. Por viverem num mundo fechado, onde o futebol é prioridade quase que 24 horas por dia, a maioria dos profissionais do esporte não sabem lidar com situações que interferem diretamente na sociedade. Ao chamar Renê Júnior de “macaco”, a intenção de Tréllez era desestabilizar o atleta, mas esqueceu de que atingiu o ser humano. Não dá para aceitar tudo o que acontece dentro de campo como algo que “faz parte do jogo”. Não, mesmo.

As declarações do técnico Vagner Mancini e do presidente em exercício, Agenor Godilho, deixam claro o despreparo. Apesar de o treinador ponderar que a atitude de seu atacante é errada, tentou justificar alegando falta de fair play de Renê, que não havia devolvido uma bola. O dirigente classificou o caso como um “mal entendido”. Lógico que ambos defenderam o seu comandado, mas faltou bom senso ao tratar de um tema tão delicado.

A comunidade futebolística precisa ultrapassar as fronteiras do campo e se arriscar a respirar o ar rarefeito das questões sociais no Brasil.

'Tenho muito orgulho da minha raça e sou maior que isso', afirma Renê Júnior sobre Tréllez tê-lo chamado de macaco


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Carpegiani, o eterno vanguardista, usa do óbvio para fazer o Bahia evoluir no Brasileirão

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Paulo César Carpegiani é o quarto treinador do Bahia em 2017
Paulo César Carpegiani é o quarto treinador do Bahia em 2017 Felipe Oliveira/EC Bahia

O Bahia conquistou quatro pontos em duas partidas sob o comando de Paulo César Carpegiani, e é lógico que quase todos fazem relação dos resultados com o trabalho do novo técnico do tricolor. É cedo para dizer que o gaúcho mudou a cara do time, mas algo não se pode negar: Carpegiani não pode ser colocado na galeria dos ‘ultrapassados’ do futebol brasileiro.

A discussão sobre o nível de conhecimento dos treinadores em nosso país já dura um bom tempo. Quando aparece um novo nome no mercado, a esperança é de que ele revolucione e traga novas ideias, sobretudo táticas. Porém, a cada fracasso, a frustração toma conta da maioria dos analistas. Foi assim com Roger Machado, Rogério Micale, Zé Ricardo, Rogério Ceni, dentre outros. Jair Ventura, com um bom trabalho no Botafogo, e Fábio Carille, líder do Brasileiro com o Corinthians, são as exceções. Sobram os chamados ‘medalhões’: Mano Menezes, campeão da Copa do Brasil com o Cruzeiro; Renato Gaúcho, o famoso ‘técnico boleiro’, que conquistou a mesma copa em 2016, com o Grêmio; Cuca, quase sempre ortodoxo, faturou o Brasileirão do ano passado.

Apesar de contestados, os técnicos de uma geração mais antiga seguem em alta no mercado. Não era o caso de Paulo César Carpegiani. A última vez em que Carpê treinou uma equipe do chamado G-12 foi entre 2010 e 2011, quando comandou o São Paulo. Seus últimos anos tem sido de trabalhos razoáveis, como nas passagens por Vitória, Ponte Preta e Coritiba. Desde 2009, quando foi campeão estadual com o rubro-negro baiano, não levanta uma taça. No Bahia, tem a chance de mostrar que não está superado.

Carpegiani sempre defendeu que futebol é jogo de imposição de estilos. Seus times tentam jogar de forma propositiva, independente do adversário. Paga caro, muitas vezes, por ceder espaços e sofrer com contragolpes rivais, mas não abre mão de atacar. O Bahia dois últimos dois jogos é prova disso.

Rafa Oliveira mostra como Bahia pressionou, surpreendeu e venceu o Corinthians

Mesmo sendo defensor da posse de bola, Paulo César Carpegiani teve que abrir mão de algumas convicções para encarar Palmeiras e Corinthians. Contra o alviverde, teve mais posse de bola no primeiro tempo (53,2%), mas jogou muito melhor na etapa final, quando teve “apenas” 46,8%. Diante do alvinegro, a história se repetiu: 58,9% de posse de bola nos primeiros 45 minutos e 43,3% na segunda metade do confronto. Dos quatro gols marcados nas duas partidas, três aconteceram nos períodos em que o tricolor teve a bola nos pés por menos tempo.

Carpegiani, em suas primeiras semanas treinando o Bahia, já mostrou que a prioridade é reorganizar taticamente a equipe, que já mostra uma compactação perdida durante a passagem de Preto Casagrande. O time oferece menos espaços aos adversários e, ao mesmo tempo, ataca em bloco. Mesmo criando poucas chances de gol contra Palmeiras e Corinthians (13 chutes, no total), foi eficiente graças ao seu posicionamento ofensivo.

O novo técnico do Bahia, óbvio, não está entre os mais badalados do país faz um bom tempo. No entanto, mostra conceitos de jogo que se encaixam perfeitamente na realidade do futebol brasileiro. Pelo seu conhecimento, poderia contribuir para a evolução tática do esporte no país, mas pode, ao menos, levar o Bahia a um patamar superior na atual edição do Brasileirão.

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A autenticidade de Vanderlei Luxemburgo é também sua autodefesa

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Treinador vê no Sport a oportunidade de dar a volta por cima na carreira
Treinador vê no Sport a oportunidade de dar a volta por cima na carreira Carlos Ezequiel Vannoni/Gazeta Press

As duras palavras de Vanderlei Luxemburgo, após a goleada sofrida contra o Grêmio, foram o assunto do fim de semana no futebol brasileiro. O técnico do Sport foi enfático ao dizer que o grupo não tem se esforçado o bastante nas últimas partidas do Campeonato Brasileiro, dando a entender que alguns atletas não estão comprometidos com o clube. Uma entrevista coletiva corajosa, e que mostrou que Luxa está muito bem respaldado.

Normalmente, quando um técnico de futebol expõe o grupo publicamente, a tendência é que o comando seja trocado. Quase nenhum dirigente gosta de bater de frente com um elenco de 30 jogadores, e a solução mais cômoda é contratar outro treinador. Além disso, os jogadores se sentem “traídos” pelo comandante, o que resulta em declínio técnico intencional e, consequentemente, na queda do comandante.

Luxemburgo, ao que parece, utilizou de sua experiência no futebol para antecipar um cenário negativo. O treinador está cansado de ser rotulado como um profissional em decadência, e sabe que não pode dar mais uma brecha para as críticas. Quando foi aos microfones para expor seu ponto de vista sobre o desempenho do Sport no Brasileirão, sabia que precisava se isentar da maior parte da culpa. Quando diz que os jogadores precisam ter mais comprometimento, inibe a possibilidade do time fazer “corpo mole” para derrubá-lo – uma indolência em campo seria facilmente detectada pelo torcedor, que acharia o verdadeiro culpado. Nenhum passo de Vanderlei foi aleatório.

Luxemburgo se diz envergonhado com goleada sofrida e detona 'jogadores que tiveram atuação pífia' no Sport

Neste caso específico, parece que a diretoria ficou do lado de Luxa. Alexandre Faria, executivo de futebol do Sport, defendeu o técnico e afirmou que o time viveu o seu melhor momento nas mãos do “pofexô”. No entanto, os cartolas terão que ter um pulso que jamais tiveram na temporada, buscando dissolver os pequenos grupos formados dentro do elenco. Luxemburgo, ao dizer que só vai trabalhar com ele “os jogadores que vão sofrer e se doar 100%”, deu também um recado às referências técnicas da equipe, como Rithely e Diego Souza. Criou uma zona de atrito na Ilha do Retiro e espera vencer a queda de braço com o apoio da direção.

É inegável que Vanderlei Luxemburgo tem a sua parcela de culpa na má fase do Sport. Na coletiva, ele se isenta dos resultados e, em momento nenhum, se coloca como parte da vergonha - talvez temendo mais um fracasso na carreira. Porém, ao fazer uma cobrança pública aos atletas, escancara a necessidade de um maior nível de profissionalismo e comprometimento nos grandes clubes do Nordeste. Muitos atletas se sentem maiores que as instituições e, por muitas vezes, se acham donos delas. Acreditam que qualquer clube que esteja fora dos grandes centros é menor que a sua carreira no futebol. O rubro-negro pernambucano tem a grande oportunidade de fazer seus profissionais entenderem quem é o gigante desta história.


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Elton Serra fala sobre frustração e oscilação do time do Bahia no Campeonato Brasileiro

Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova
Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova Marcelo Malaquias/EC Bahia/Divulgação

A primeira metade do clássico Ba-Vi refletiu o que as duas equipes tem feito no Campeonato Brasileiro, mesmo que o segundo tempo não me dê razão. Enquanto o Bahia tentou jogar com a bola nos pés, como gosta Paulo Cézar Carpegiani, o Vitória apostou no jogo reativo, como o grupo se sente confortável e Vagner Mancini teve que se adaptar.

Parte dos números do jogo ajuda a explicar as posturas. Na primeira etapa, o Bahia teve pouco mais de 67% de posse de bola, mas apenas duas finalizações – mesmo número do Vitória, que ficou um terço do tempo com a pelota em seus domínios.

Carpegiani optou por começar o jogo com Allione, meia armador com características diferentes de Régis, um meia-atacante com poder de infiltração na área. O argentino se encarregou de dar apoio ofensivo a Edigar Júnio, usado novamente como atacante de referência. O Bahia, por muitas vezes, espelhou o esquema tático do Vitória e jogou no 4-4-2, formando duas linhas de quatro e dando liberdade para Mendoza flutuar no último terço do campo. Criou volume, mas pouco incomodou o goleiro Caíque.

O Vitória não soube jogar com a bola nos pés. Com Ramon no meio-campo, ao lado de Uillian Correia, somente Yago tentava o jogo de posse. Neilton e David, verticais, buscava o confronto um contra um o tempo inteiro. Uma identidade do rubro-negro de Vagner Mancini, sobretudo como visitante.

O Vitória até melhorou no segundo tempo. Sem espaço para contra-ataques, o time buscou a compactação e tentou a troca de passes. Porém, ainda tivesse 58% de posse de bola, sofreu o primeiro gol oferecendo espaços na defesa e contando com a falha individual de Wallace, que rebateu a bola nos pés do inquieto Stiven Mendoza.

Veja os gols de Bahia 2 x 1 Vitória

Com o Bahia se fechando após o 1 a 0, principalmente com a entrada de Matheus Sales em lugar de Zé Rafael, Carpegiani abriu mão de atacar para fazer algo que diz odiar: se defender. Ele diz, inclusive, que não sabe jogar na defensiva. Provou isso ao sofrer o gol de empate, mesmo em bola parada. Fez a Fonte Nova vir abaixo graças a uma substituição que havia feito minutos antes, quando colocou Régis em campo e deu um pouco de verticalidade ao time. Foi dele o passe para a finalização de Edigar Júnio, bem defendida por Caíque. No escanteio, desvio de Edson e gol de Edigar.

A posse de bola e o controle do jogo voltaram ao Bahia. É uma evolução. O Vitória segue com o jogo reativo e tem dificuldades para jogar com a posse da bola. Precisa criar alternativas. Na gangorra do Brasileirão, o tricolor voltou a viver tranquilo justamente por retomar suas origens.

Insultos e suas consequências

Antes do apito final do árbitro, Renê Júnior e Santiago Tréllez se desentenderam. O volante do Bahia acusou o atacante do Vitória de chamá-lo de “macaco” – uma injúria racial que, infeliz e absurdamente, tem virado rotina no futebol brasileiro. Renê saiu de campo chorando e Tréllez foi embora do estádio sem dar declarações, se pronunciando apenas horas depois, através de vídeo divulgado pela assessoria rubro-negra.

O que se viu na Arena Fonte Nova foi um despreparo de muitos personagens ao tratar do tema. Por viverem num mundo fechado, onde o futebol é prioridade quase que 24 horas por dia, a maioria dos profissionais do esporte não sabem lidar com situações que interferem diretamente na sociedade. Ao chamar Renê Júnior de “macaco”, a intenção de Tréllez era desestabilizar o atleta, mas esqueceu de que atingiu o ser humano. Não dá para aceitar tudo o que acontece dentro de campo como algo que “faz parte do jogo”. Não, mesmo.

As declarações do técnico Vagner Mancini e do presidente em exercício, Agenor Godilho, deixam claro o despreparo. Apesar de o treinador ponderar que a atitude de seu atacante é errada, tentou justificar alegando falta de fair play de Renê, que não havia devolvido uma bola. O dirigente classificou o caso como um “mal entendido”. Lógico que ambos defenderam o seu comandado, mas faltou bom senso ao tratar de um tema tão delicado.

A comunidade futebolística precisa ultrapassar as fronteiras do campo e se arriscar a respirar o ar rarefeito das questões sociais no Brasil.

'Tenho muito orgulho da minha raça e sou maior que isso', afirma Renê Júnior sobre Tréllez tê-lo chamado de macaco


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Elton Serra fala sobre frustração e oscilação do time do Bahia no Campeonato Brasileiro

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Elton Serra diz que futebol do Vitória dá esperanças: ‘Desempenho tem sido muito melhor com Mancini’

Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova
Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova Marcelo Malaquias/EC Bahia/Divulgação

A primeira metade do clássico Ba-Vi refletiu o que as duas equipes tem feito no Campeonato Brasileiro, mesmo que o segundo tempo não me dê razão. Enquanto o Bahia tentou jogar com a bola nos pés, como gosta Paulo Cézar Carpegiani, o Vitória apostou no jogo reativo, como o grupo se sente confortável e Vagner Mancini teve que se adaptar.

Parte dos números do jogo ajuda a explicar as posturas. Na primeira etapa, o Bahia teve pouco mais de 67% de posse de bola, mas apenas duas finalizações – mesmo número do Vitória, que ficou um terço do tempo com a pelota em seus domínios.

Carpegiani optou por começar o jogo com Allione, meia armador com características diferentes de Régis, um meia-atacante com poder de infiltração na área. O argentino se encarregou de dar apoio ofensivo a Edigar Júnio, usado novamente como atacante de referência. O Bahia, por muitas vezes, espelhou o esquema tático do Vitória e jogou no 4-4-2, formando duas linhas de quatro e dando liberdade para Mendoza flutuar no último terço do campo. Criou volume, mas pouco incomodou o goleiro Caíque.

O Vitória não soube jogar com a bola nos pés. Com Ramon no meio-campo, ao lado de Uillian Correia, somente Yago tentava o jogo de posse. Neilton e David, verticais, buscava o confronto um contra um o tempo inteiro. Uma identidade do rubro-negro de Vagner Mancini, sobretudo como visitante.

O Vitória até melhorou no segundo tempo. Sem espaço para contra-ataques, o time buscou a compactação e tentou a troca de passes. Porém, ainda tivesse 58% de posse de bola, sofreu o primeiro gol oferecendo espaços na defesa e contando com a falha individual de Wallace, que rebateu a bola nos pés do inquieto Stiven Mendoza.

Veja os gols de Bahia 2 x 1 Vitória

Com o Bahia se fechando após o 1 a 0, principalmente com a entrada de Matheus Sales em lugar de Zé Rafael, Carpegiani abriu mão de atacar para fazer algo que diz odiar: se defender. Ele diz, inclusive, que não sabe jogar na defensiva. Provou isso ao sofrer o gol de empate, mesmo em bola parada. Fez a Fonte Nova vir abaixo graças a uma substituição que havia feito minutos antes, quando colocou Régis em campo e deu um pouco de verticalidade ao time. Foi dele o passe para a finalização de Edigar Júnio, bem defendida por Caíque. No escanteio, desvio de Edson e gol de Edigar.

A posse de bola e o controle do jogo voltaram ao Bahia. É uma evolução. O Vitória segue com o jogo reativo e tem dificuldades para jogar com a posse da bola. Precisa criar alternativas. Na gangorra do Brasileirão, o tricolor voltou a viver tranquilo justamente por retomar suas origens.

Insultos e suas consequências

Antes do apito final do árbitro, Renê Júnior e Santiago Tréllez se desentenderam. O volante do Bahia acusou o atacante do Vitória de chamá-lo de “macaco” – uma injúria racial que, infeliz e absurdamente, tem virado rotina no futebol brasileiro. Renê saiu de campo chorando e Tréllez foi embora do estádio sem dar declarações, se pronunciando apenas horas depois, através de vídeo divulgado pela assessoria rubro-negra.

O que se viu na Arena Fonte Nova foi um despreparo de muitos personagens ao tratar do tema. Por viverem num mundo fechado, onde o futebol é prioridade quase que 24 horas por dia, a maioria dos profissionais do esporte não sabem lidar com situações que interferem diretamente na sociedade. Ao chamar Renê Júnior de “macaco”, a intenção de Tréllez era desestabilizar o atleta, mas esqueceu de que atingiu o ser humano. Não dá para aceitar tudo o que acontece dentro de campo como algo que “faz parte do jogo”. Não, mesmo.

As declarações do técnico Vagner Mancini e do presidente em exercício, Agenor Godilho, deixam claro o despreparo. Apesar de o treinador ponderar que a atitude de seu atacante é errada, tentou justificar alegando falta de fair play de Renê, que não havia devolvido uma bola. O dirigente classificou o caso como um “mal entendido”. Lógico que ambos defenderam o seu comandado, mas faltou bom senso ao tratar de um tema tão delicado.

A comunidade futebolística precisa ultrapassar as fronteiras do campo e se arriscar a respirar o ar rarefeito das questões sociais no Brasil.

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Elton Serra diz que futebol do Vitória dá esperanças: ‘Desempenho tem sido muito melhor com Mancini’

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Os ecos de Itaquera: do ‘bairrismo’ ao desabafo, méritos do Vitória... e do Corinthians

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Vitória, de Vagner Mancini, impôs primeira derrota do Corinthians na Série A
Vitória, de Vagner Mancini, impôs primeira derrota do Corinthians na Série A Gazeta Press

Ao final do jogo entre Corinthians e Vitória, quando o time baiano derrubou uma invencibilidade de 34 jogos da equipe paulista, a grande discussão ficou em torno da coletiva de Vagner Mancini.  O técnico retrucou os argumentos de um jornalista que, ao tentar justificar o resultado, usou como argumento uma hipotética atuação ruim do time de Fábio Carille, se apegando aos números de posse de bola e finalizações. Mancini classificou como “bairrista” a postura do repórter e defendeu a igualdade de tratamento entre as equipes que não fazem parte do eixo Rio-São Paulo.

A discussão sobre bairrismo na imprensa esportiva é antiga. Muitos profissionais, talvez por conta da disparidade financeira entre os clubes do Sudeste e o restante dos times do país, acreditam que o resultado de uma partida, obrigatoriamente, precisa ser favorável ao mais rico. É inadmissível Corinthians e Flamengo perderem para o Vitória em suas casas, ainda mais quando o adversário está na zona de rebaixamento. O futebol, para muitos, segue a receita do basquete ou do automobilismo, certamente: é quase certo que quem tem mais investimento sairá vencedor de um confronto.

A arte de defender o que é seu também distorce fatos do jogo. Normalmente, é mais fácil apontar os erros do perdedor do que as virtudes do vencedor – e, por muitas vezes, ambos tiveram mais virtudes que defeitos. Essa defesa provoca fissuras nas relações entre as regiões do país, ao ponto de nordestinos, por exemplo, não aceitarem que seus conterrâneos elogiem ou até torçam por clubes de outra região, justamente por certa prepotência existente fora do Nordeste.

Vagner Mancini questiona números e discute com repórter em coletiva após vitória sobre o Corinthians

Ah! Sábado, em Itaquera, tivemos um jogo.

A estratégia do Vitória foi tentar deixar o Corinthians desconfortável em seu próprio campo. E como fazer isso? Dar a bola ao time de Carille. Os alvinegros, acostumados com um jogo reativo e rápida troca de passes, ficou com a posse da bola durante 65% do confronto. Além disso, Mancini negou todos os espaços possíveis ao time paulista, impedindo as fatais infiltrações dos meias na área defendida pelo goleiro Fernando Miguel. Uma estratégia arriscada, mas que deu certo. Num contra-ataque, o Vitória garantiu o resultado que queria.

A derrota em Itaquera não significa que o Corinthians jogou mal. Futebol também é um confronto de estratégias, e a rubro-negra foi mais eficiente. Não há demérito algum em perder uma partida em que seu adversário apresentou um plano de jogo quase perfeito. O time de Fábio Carille impôs ao Vitória o desafio de se superar técnica e taticamente – não foi o Corinthians que diminuiu o seu nível, e sim a equipe de Vagner Mancini que buscou, em 90 minutos, chegar ao nível alvinegro.

O desabafo do técnico do Vitória expõe novamente um bairrismo exagerado, mas também toca numa ferida aberta há um bom tempo na imprensa esportiva: precisamos evoluir nas análises, assim como o futebol evolui dentro e fora de campo. Conclusões superficiais, cheia de chavões, parciais, de cunho populista e baseada apenas em números só reforçam o quanto ainda estamos muito longe do ideal. 

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Bahia age em silêncio na busca por um técnico. Medo de novo erro faz diretoria manter prudência

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Preto Casagrande segue como interino do Bahia
Preto Casagrande segue como interino do Bahia Felipe Oliveira/ECB

Ao contrário do que fez após a saída de Guto Ferreira, quando acertou a contratação de Jorginho poucas horas depois, a diretoria não Bahia não tem se apressado para anunciar um novo treinador. Quando entrar em campo contra o Atlético-PR, no domingo, o clube completará duas semanas com técnico interino. Ações silenciosas, porém, têm sido feitas.

A direção tricolor entende que o atual mercado não entrega boas opções. Alguns técnicos foram oferecidos ao Bahia, mas nenhum convenceu os dirigentes, que buscam um perfil compatível com a filosofia do clube - Jorginho foi a "ideia perfeita" na cabeça da cúpula do clube, mas tornou-se uma decepção na prática não só pelo desempenho da equipe, mas também por não ter conseguido fazer com que o grupo se convencesse de que seus conceitos fariam o time evoluir no Campeonato Brasileiro.

Preto Casagrande, interino desde o jogo contra a Chapecoense, na 18ª rodada, conta com o apoio do grupo para ser efetivado. Ele, inclusive, já declarou publicamente o seu desejo de se tornar técnico do Bahia. Pesa ao seu favor o ótimo relacionamento que tem com todos dentro do Fazendão, mas a diretoria ainda não está convencida de que seu nome é o ideal para comandar o tricolor no segundo turno da Série A. O temor é que Preto se torne um segundo Charles Fabian, auxiliar técnico efetivado em 2015, mas que fracassou na tentativa de recolocar o Baha na Série A - saiu do clube, inclusive, deixando desafetos no elenco.

O fato é que, mesmo com a desconfiança, Preto Casagrande tem deixado a diretoria bem à vontade. Como o time se distanciou da zona de rebaixamento e o interino tem deixando o ambiente mais leve, o presidente Marcelo Sant'Ana ganhou tempo para tomar sua decisão. O Bahia tem esperado o mercado de treinadores aquecer novamente para, aí sim, encontrar um profissional que se encaixe no que o clube deseja. Esta decisão, no entanto, deverá ser tomada logo após o jogo contra o Atlético-PR. É o tempo limite. Caso fracasse na tentativa de um novo nome, Preto deverá ser efetivado, sobretudo se conquistar um bom resultado em Curitiba.

O medo de errar novamente tem feito o Bahia ser mais prudente. A diretoria tem sido favorecida pelos resultados, que têm soprado à favor do clube, dando mais tempo para que a decisão seja tomada. Mais uma lição que a temporada deixou aos gestores tricolores.


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A demissão de Jorginho não é absurda, mas gestão do Bahia corre o risco do ‘mais do mesmo’

Elton Serra
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Jorginho durou 14 jogos à frente do comando técnico do Bahia
Jorginho durou 14 jogos à frente do comando técnico do Bahia Felipe Oliveira/EC Bahia

Numa conclusão rasa, poderíamos dizer que Jorginho, no Bahia, foi o técnico certo na hora errada. Com conceitos de jogo modernos e ampla visão do futebol, o tetracampeão mundial poderia ter encontrado no tricolor o lugar ideal para decolar novamente a sua carreira e, de quebra, ajudar o clube baiano a se reestabelecer entre os grandes do futebol brasileiro. Não foi o que aconteceu.

Escrevi aqui no blog, quando Jorginho foi contratado, que o Bahia agiu com correção. Buscou no mercado um treinador que daria continuidade ao trabalho de Guto Ferreira, procurando aprimorar elementos que ainda estavam crus na equipe tricolor. A convicção da diretoria era tão grande que não demorou mais que dois dias para anunciar o técnico. A tacada parecia perfeita.

O futebol, como já sabemos, é um esporte que conta muito com o imponderável. É muito difícil cravar que as coisas darão certo. Jorginho, quando foi apresentado, elogiou o trabalho de seu antecessor e falou até em “brigar por coisas grandes” dentro do Campeonato Brasileiro. Comprou a ideia de que o Bahia, com o elenco que tinha, era capaz de lutar por uma vaga na Copa Libertadores. Talvez, precipitado, não percebeu que existia ainda um caminho muito longo a percorrer – o time, apesar de jogar bem, ainda tinha problemas. O discurso é extremamente positivo e força o clube a pensar grande, mas o técnico precisava entender a sua realidade.

Guto Ferreira deixou um Bahia com padrão de jogo. Sólido defensivamente, com transições ofensivas rápidas e um ataque de intensa movimentação no último terço do campo. O tricolor, em casa, era quase imbatível; fora dela, mesmo quando jogava mal, vendia caro as derrotas. A saída de bola, basicamente feita com os laterais, gerava amplitude que obrigava os adversários a abrir o campo: momento ideal para o trio formado por Zé Rafael, Allione e Régis trabalharem por dentro e criarem estrago.

Jorginho tinha a missão de corrigir defeitos. O time de Guto não era perfeito – aliás, passava longe disso. A equipe pecava demais nas finalizações e, além disso, carecia de alternativas táticas. Viciado no 4-2-3-1 com um atacante móvel à frente de três meias, o Bahia não encontrava soluções quando os oponentes neutralizavam seus pontos fortes. O novo treinador, talvez tentando encontrar essas alternativas, mexeu demais no time. O tricolor se desmanchou e, consequentemente, perdeu sua identidade. Jorginho, inclusive, passou a odiar comparações com o trabalho de seu antecessor.

O Bahia trocou a posse bola no campo ofensivo e a intensa movimentação no último terço por um estilo de jogo mais reativo, esperando o adversário no campo de defesa e partindo para decidir o jogo nos contra-ataques. Para isso, Jorginho efetivou o veloz Mendoza como titular e, aos poucos, jogadores como Régis e Allione foram perdendo espaço, a despeito de ambos não viverem grande fase. Longe de Salvador as coisas até que funcionaram, mas na Fonte Nova a equipe já não conseguia assimilar os novos conceitos. Com cinco jogos sem vencer como mandante, despencou na tabela da Série A.

É importante salientar que o Bahia também sofre com a falta de atletas capazes de manter o bom nível da equipe quando os titulares caem de rendimento ou, por algum motivo, desfalcam o time. Põe na conta da diretoria.

Com sua demissão, Jorginho voltou a levantar a interminável discussão sobre o tempo de trabalho dado aos treinadores de futebol no Brasil. O companheiro Renato Rodrigues, em seu blog, analisa muito bem a questão e escreve algo que concordo muito: “Apesar do pouco tempo no cargo, Jorginho não conseguiu mostrar um horizonte melhor pela frente, uma tendência de crescimento. Então a questão aí não é o tempo de trabalho, e sim o trabalho”. As poucas virtudes consolidadas que o Bahia possuía foram se perdendo ao longo de 14 partidas.

É extremamente ruim ter que mudar de treinador após dois meses de trabalho. Olhando o copo meio vazio, a diretoria do Bahia, agora, será criticada pela atitude “intempestiva”. Analisando pelo copo meio cheio, conseguiu enxergar que o time não iria evoluir nas mãos de Jorginho, e que os resultados já não estavam compensando a falta de bons desempenhos. Na ciranda do futebol, onde ontem você foi bom e hoje você é ruim, cabe ao clube encontrar a solução mais eficaz: buscar um técnico capaz de trazer de volta as virtudes da equipe, sem criar um novo conceito no meio da temporada, dificultando a assimilação dos atletas e, ao mesmo tempo, capaz de consolidar a tão sonhada identidade tática que o Bahia busca há algumas temporadas.


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A demissão de Jorginho não é absurda, mas gestão do Bahia corre o risco do ‘mais do mesmo’

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O ‘engenheiro’ Vagner Mancini

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Mancini retornou ao Vitória após passagem pela Chapecoense
Mancini retornou ao Vitória após passagem pela Chapecoense Maurícia da Matta/EC Vitória

A Chapecoense, em janeiro, começou o maior processo de reconstrução de um clube de futebol no Brasil. A tragédia que devastou a Arena Condá fez com que uma verdadeira força-tarefa fosse montada em Chapecó, a fim de resgatar um dos times mais tradicionais do sul do país, e que ganhou projeção intercontinental após a excelente campanha na Copa Sul-Americana e, sobretudo pela história que envolveu o acidente na Colômbia, em novembro do ano passado.

Para comandar este processo dentro de campo, a Chape escolheu Vagner Mancini. O treinador, que definiu o desafio como o maior de sua vida, ajudou a escolher nome por nome, redefiniu conceitos táticos, construiu um elenco e começou uma batalha que quase não dava folga aos alviverdes. Uma reconstrução que resultou, em curto prazo, no título catarinense e numa boa campanha na Copa Libertadores – a Chapecoense só não avançou ao mata-mata por conta de um erro da diretoria, que avalizou a escalação de um atleta que deveria cumprir suspensão. Diretoria essa que resolveu demitir Mancini após heroico empate por 3 a 3 com o Fluminense, no Rio de Janeiro. O técnico saiu do clube com 45 partidas oficiais em menos de sete meses de trabalho.

Não vou entrar nos méritos das escolhas da diretoria, pois o futebol brasileiro é repleto de dirigentes com a mesma linha de pensamento. Focar numa sequência de resultados e esquecer todo o processo que envolve a construção de uma equipe é algo comum – e equivocado – no nosso país. A impressão que ficou para todos que acompanharam a reconstrução da Chapecoense é que seu treinador estava cumprindo o que se esperava, já que a equipe catarinense não fez feio nas competições que disputou, além de sequer flertar com a zona de rebaixamento no Brasileiro – algo que, para o objetivo do projeto, é totalmente aceitável. 

É justo e lícito discutir ideias de jogo, já que nenhum treinador é perfeito. A Chape, com Mancini, sofria muitos gols, é bem verdade. Porém, era natural que uma equipe totalmente nova oscilasse em busca do equilíbrio. Faltou paciência.

Vagner Mancini aceitou o desafio de treinar o Vitória. É óbvio que qualquer comparação com o projeto da Chapecoense será totalmente descabida, mas o rubro-negro baiano também vive um processo de reconstrução. Com presidente interino, diretor de futebol chegando ao clube esta semana, comissão técnica toda desfeita, jogadores sendo dispensados e o time na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, a missão é a mais ingrata possível. Às vezes, não é pecado imaginar o porquê de um profissional aceitar uma proposta tão arriscada, tendo em vista o período da temporada. Mancini parece ter colocado o lápis atrás da orelha, sacado uma prancheta cheia de projetos e encarnado um verdadeiro "engenheiro" em 2017.

Apresentado, Vagner Mancini fala sobre momento: 'O Vitória tem que entender que tem alguma coisa errada'

No Vitória, espera-se o que Mancini não conseguiu dar segmento na Chapecoense. Arrumar a defesa rubro-negra, a pior do Brasileirão, é uma das grandes prioridades. Estancar a sangria defensiva é o ponto de partida para um time que precisa encontrar o equilíbrio para voltar a vencer. O ataque, que marcou 16 gols – dois a menos que o Santos, terceiro colocado, por exemplo – precisa trabalhar sem a necessidade de compensar o prejuízo que dá a retaguarda do time baiano.

O time do Vitória, convenhamos, não é tão ruim, apesar de ser mal montado. Mancini terá 11 opções para criação e ataque, mas apenas um volante capaz de atuar como um marcador no meio-campo, que é Fillipe Soutto – Willian Farias e José Welison se recuperam de lesões. É um desequilíbrio enorme, tendo em conta os investimentos feitos pelo clube em 2017, mas não é o suficiente para decretar falência técnica. O Vitória tem grupo para fazer muito mais do que tem feito na Série A. Este é o grande desafio do seu “novo” treinador.

O processo de remontagem começou na Chapecoense e pode terminar no Vitória. Com pesos diferentes, níveis emocionais incomparáveis, mas com a mesma essência. No difícil, voraz e traiçoeiro mundo do futebol brasileiro, Vagner Mancini resolveu assumir o papel de reconstrutor. Uma atitude tão arriscada quanto louvável.


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O ‘engenheiro’ Vagner Mancini

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Petkovic é mais um personagem do 'efeito dominó' no Vitória

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Ivã de Almeida, Petkovic e Sinval Vieira: os três fora do Vitória
Ivã de Almeida, Petkovic e Sinval Vieira: os três fora do Vitória Maurícia da Matta/EC Vitória

Os últimos dias de Dejan Petkovic no Vitória não foram dos mais tranquilos. Desde a demissão de Alexandre Gallo, na semana passada, seu telefone não parou. Na busca por um substituto para treinar o rubro-negro, ouviu alguns “nãos” – inclusive de Paulo César Carpegiani que, ao contrário do que foi divulgado, sequer quis abrir negociação para retornar à Toca do Leão. Coube a Petkovic negar, em entrevista coletiva, que o Vitória já havia contratado um técnico. Na verdade, o clube estava na estaca zero.

O sérvio, hoje ex-diretor de futebol do Vitória, sempre foi um profissional bem intencionado. Suas boas ideias de gestão impressionavam quem as ouvia. Porém, o discurso passou bem longe da prática, naturalmente pela impossibilidade de aplicar essas ideias num ambiente que ainda tenta se profissional. Vítima de um “efeito dominó”, que derrubou o presidente Ivã de Almeida, o antigo diretor de futebol Sinval Vieira e o próprio Alexandre Gallo, Petkovic não resistiu à pressão de um clube que, tradicionalmente, é pautado de fora para dentro.

É bem verdade, também, que Pet alcançou um cargo importante de uma maneira muito precoce. Não tinha experiência suficiente para conduzir um departamento vital num clube de futebol, que disputa um dos maiores campeonatos do mundo. É como se um jogador da equipe sub-20, com poucos jogos na equipe principal, recebesse a camisa 10 e a faixa de capitão. Petkovic não se preparou o suficiente para ser o líder de uma mudança organizacional no Vitória, além de não ter apoio de profissionais mais experientes na diretoria. Pagou caro por isso.

A decisão da diretoria em desligar Dejan Petkovic da direção de futebol do clube tem um motivo bem específico: criar terreno para a chegada de um novo técnico, capaz de motivar novamente o grupo e fazer a equipe jogar de maneira mais organizada. Por mais que o sérvio tenha melhorado a relação com os atletas após sua rápida passagem como treinador, o desgaste persistiu e não foi capaz de transformar o ambiente. Agora, porém, são três cargos vagos dentro do Vitória – além de um técnico e um diretor, o rubro-negro terá que buscar um gerente de futebol no mercado.

O Vitória, com Pet ocupando cargos executivos, contratou 11 jogadores em dois meses. Nem todos são titulares, e alguns sequer estrearam. Após sua chegada, o clube deixou de apostar em “medalhões” e se dedicou em buscar atletas menos notados no mercado, mas com certa experiência no futebol brasileiro, como os meias Carlos Eduardo e Danilinho. Apesar de não ser garantia de sucesso, a estratégia mudou. Era tarde demais.

Petkovic, digamos, foi um cara certo na hora errada. O erro em estar numa diretoria que vive constante processo de encontro da sua identidade, e o erro em ocupar um cargo que exigiria muito mais experiência pesaram bastante. Ficaram as lições, que ninguém sabe se serão aprendidas pelos dois lados. Só o tempo dirá.


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O sofrido Brasileirão de um Vitória sem ideias

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Rubro-negro segue com pior campanha como mandante na Série A
Rubro-negro segue com pior campanha como mandante na Série A Maurícia da Matta/EC Vitória

As vaias entoadas pela torcida no Barradão nos últimos jogos ainda ecoam dentro do estádio. O Vitória, que perdeu mais um jogo em casa, desta vez para o Grêmio, é o pior mandante do Brasileirão e afunda cada vez mais na zona de rebaixamento. A revolta do torcedor é tão grande que a média de público despenca a cada partida do rubro-negro em Salvador. O time é reflexo de um clube cada vez mais perdidos em suas ideias – ou na falta delas.

Ao final da partida contra a equipe gaúcha, o presidente do Conselho Deliberativo, Paulo Catharino, convocou entrevista coletiva. Nela, anunciou que o presidente do Vitória, Ivã de Almeida, havia entregado uma carta de licença e ficaria afastado por 90 dias. Quem assume o clube, então, é o vice-presidente, que curiosamente também declarou, horas antes, que estava abandonando suas funções por incompatibilidade com o gestor-mor. Atitudes que mostram que o rubro-negro baiano tem copiado com fidelidade a receita do rebaixamento. A política se sobrepõe ao futebol, como tem sido de costume.

O Vitória se manteve na Série A com muito sacrifício. Garantiu permanência apenas no penúltimo jogo de 2016, contra o Coritiba, no Couto Pereira, graças ao inspirado atacante Marinho – jogador que, aliás, carregou o time nas costas durante boa parte do Brasileiro. Com nova diretoria, o clube começou 2017 buscando causar impacto e contratando jogadores conhecidos do futebol brasileiro. Os reforços anunciados contrastavam com o estilo de jogo do seu treinador, Argel Fucks, o que já caracterizava uma falta de ideias por parte dos cartolas: eles sequer sabiam qual filosofia de jogo queriam implantar na Toca do Leão.

Assista aos gols do triunfo por 3 a 1 do Grêmio sobre o Vitória

Depois de vencer um estadual de nível técnico fraco e ser eliminado da Copa do Brasil e do Nordestão, o Vitória vem fazendo um Campeonato Brasileiro muito abaixo do que se espera, sobretudo pelo alto investimento feito. Argel deu lugar ao interino Wesley Carvalho, que foi substituído por Petkovic, que abriu mão da vaga de técnico para contratar Alexandre Gallo. Quatro treinadores, quatro ideias diferentes, nenhum conceito impregnado no time.

A preocupação do torcedor rubro-negro é totalmente compreensível, afinal, lhe venderam a ideia de um time campeão em 2017. Com tantas contratações no meio da temporada, mudanças de técnico, de diretor de futebol e até de presidente, permanecer na Série A torna-se um lucro enorme. De briga por grandes conquistas à briga contra o rebaixamento, a frustração é do tamanho do vexame que o Vitória proporciona na Série A até agora.

O futebol não tem mais espaço para amadores. Sem planejamento, sem conceito, sem ideias, a tendência é se perder num mar de tubarões. Com um ambiente político turbulento, a insegurança dos jogadores aumenta ainda méis dentro do Vitória. A equipe pode até reagir na Série A, iniciar uma arrancada espetacular e terminar o campeonato de uma maneira mais tranquila. Porém, 2017 já fica marcado na história do rubro-negro como um ano onde sua diretoria vendeu gato por lebre.


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Qual será o Bahia de Jorginho de agora em diante?

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Com atuação defensiva sólida, Bahia venceu a Ponte em Campinas
Com atuação defensiva sólida, Bahia venceu a Ponte em Campinas Fábio Leoni/PontePress

O Bahia venceu a primeira fora de casa na Série A e quebrou um jejum de sete jogos sem vencer na competição. Ficava evidente que, para sair da fase ruim, o time teria que se reinventar. Contra a Ponte Preta, no Moisés Lucarelli, o tricolor apresentou uma faceta já ensaiada pelo técnico Jorginho há algumas partidas, e bateu com autoridade os donos da casa.

Um time acostumado a ter a bola nos pés abriu mão de tê-la em boa parte do confronto em Campinas. O Bahia terminou a partida com 45% de posse, mas chegou a ter apenas 31% nos primeiros 20 minutos e 27% até os 10’ do segundo tempo. Na etapa inicial, inclusive, suportou forte pressão da Ponte Preta quando o jogo estava 1 a 0, pois optou por jogar de maneira reativa na casa do adversário. Foram 15 finalizações da Macaca só na primeira metade do jogo. Com um 4-2-3-1 tradicional, Jorginho optou em baixar suas linhas e marcar em seu campo defensivo, abrindo mão da posse de bola no campo rival.

Mapas de calor de Ponte e Bahia: tricolor jogou de maneira reativa
Mapas de calor de Ponte e Bahia: tricolor jogou de maneira reativa Footstats

Um dos personagens que ilustra a ideia de Jorginho é o colombiano Stiven Mendoza. O técnico do Bahia manteve o meia-atacante na equipe titular e colocou Allione, líder de assistências do tricolor na Série A, no banco de reservas. Mendoza, durante boa parte da partida, atuou no campo de defesa e auxiliou o lateral-esquerdo Matheus Reis na marcação. Com mais velocidade que o argentino Allione, era constantemente acionado nos contra-ataques do time baiano no Moisés Lucarelli. Jogar de maneira reativa foi a solução que Jorginho encontrou para reencontrar os trilhos dos triunfos.

Outro aspecto que beneficiou o jogo do Bahia foi a entrada de Rodrigão no time titular. Sem um centroavante de ofício na equipe desde a lesão de Hernane (Gustavo foi pouco utilizado neste período), o tricolor encontrou uma alternativa de jogar que deu certo: com Edigar Junio fazendo o papel de referência, o tricolor ganhou intensa movimentação e constante infiltrações dos meias, mas passou a ser estudado pelos adversários e perdeu o fator surpresa. Com Rodrigão na equipe, o Bahia ganhou profundidade, um jogador com força para segurar zagueiros e proporcionar interações com o trio de meias, além de gols. Em Campinas, foram dois.

Ainda é cedo para dizer se o Bahia mudou sua forma de jogar, implantada ainda nos tempos de Guto Ferreira, ou apenas encontrou uma alternativa tática para sair da previsibilidade. O fato é que Jorginho voltou a respirar tranquilo. A expectativa é saber se o tricolor passará mudará o seu rótulo daqui em diante: o time da valorização da bola, ou o time do contra-ataque?

Brasileiro: Gols de Ponte Preta 0 x 3 Bahia


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As preocupantes e controversas saídas de Sport e Náutico da Liga do Nordeste

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br

Rubro-negros e alvirrubros não disputarão a Copa do Nordeste em 2018
Rubro-negros e alvirrubros não disputarão a Copa do Nordeste em 2018 Gazeta Press

“Pagamos para jogar a Copa do Nordeste”. Com esta frase, o presidente do Sport, Arnaldo Barros, sintetizou a saída do clube da Liga de Clubes do Nordeste, responsável pela organização da competição. Ao lado do Náutico, o rubro-negro pernambucano anunciou sua desfiliação e não disputará o Nordestão a partir de 2018.

A decisão de dois dos grandes clubes da região aparenta, também, ter um tom político. O presidente da Federação Pernambucana, Evandro Carvalho, afirmou que o modelo de disputa da Copa do Nordeste não atende o interesse dos seus filiados, nem da FPF. O curioso é que as cotas pagas aos clubes no estadual são menores que as recebidas pelos integrantes do Nordestão – além disso, o Sport, por exemplo, faturou muito mais com bilheteria na competição regional: R$ 1,1 milhão contra aproximadamente R$ 850 mil no Campeonato Pernambucano. Carvalho, inclusive, participou da coletiva ao lado os presidentes do Leão e do Timbu.

O intrigante, também, é que o único argumento concreto dos clubes para a saída da Liga do Nordeste é a divisão das cotas de TV. Durante todo o discurso de Arnaldo Barros, o que se ouviu foram ideias vazias. Não há um projeto para se criar uma liga independente, nem uma ideia do que se fazer com o “tempo livre”, já que a Copa do Nordeste sai do calendário do Sport. O intuito foi apenas o de comunicar o desligamento do grupo. Ao invés de buscar o fortalecimento da competição, a decisão foi de romper com a Liga – a atitude mais extrema possível, por mais que o presidente rubro-negro tenha afirmado que buscou diálogo.

Sport deve disputar apenas o Pernambucano; estadual terminou semana passada
Sport deve disputar apenas o Pernambucano; estadual terminou semana passada Williams Aguiar/Sport Club do Recife

Sport e Náutico fazem parte do grupo de fundadores da Liga do Nordeste, composto por mais 14 clubes. Desde a sua fundação, em 2000, o Leão da Ilha foi campeão em 2015 e vice em 2001 e 2016. O Timbu foi terceiro em 2001 e 2002, e já estava fora da próxima edição, justamente por ter fracassado no Campeonato Pernambucano. O Sport também já teve seu ex-presidente, Luciano Bivar, como vice-presidente da Liga.

Os outros fundadores da Liga do Nordeste, com exceção do Santa Cruz, não se manifestaram oficialmente.  O clube coral irá reunir seu Conselho Deliberativo para tomar uma decisão.

Qualquer clube de futebol tem direito de defender suas ideias. É justo e lícito. Porém, fica claro que existe certa hipocrisia no discurso de muitos. Os grandes clubes do Nordeste, ao longo dos anos, têm reclamado da disparidade entre os valores das cotas de TV pagas aos clubes da Série A, mas querem aplicar este mesmo abismo no Nordestão. Com a mudança da fórmula de disputa do torneio, que agora privilegia os mais bem rankeados na lista anual da CBF, os clubes menores perderão cada vez mais espaço, estancando o crescimento do futebol na região.

A expectativa é saber se os posicionamentos de Sport e Náutico serão mantidos, ou a Liga do Nordeste irá contornar a situação. Enquanto isso, a região observa mais uma rachadura numa ideia que trouxe esperanças de dias melhores para o futebol nordestino.


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Cara a cara: Elton Serra analisa e 'escolhe' entre jogadores do Bahia e Vitória; veja quem teve mais escolhidos

Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova
Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova Marcelo Malaquias/EC Bahia/Divulgação

A primeira metade do clássico Ba-Vi refletiu o que as duas equipes tem feito no Campeonato Brasileiro, mesmo que o segundo tempo não me dê razão. Enquanto o Bahia tentou jogar com a bola nos pés, como gosta Paulo Cézar Carpegiani, o Vitória apostou no jogo reativo, como o grupo se sente confortável e Vagner Mancini teve que se adaptar.

Parte dos números do jogo ajuda a explicar as posturas. Na primeira etapa, o Bahia teve pouco mais de 67% de posse de bola, mas apenas duas finalizações – mesmo número do Vitória, que ficou um terço do tempo com a pelota em seus domínios.

Carpegiani optou por começar o jogo com Allione, meia armador com características diferentes de Régis, um meia-atacante com poder de infiltração na área. O argentino se encarregou de dar apoio ofensivo a Edigar Júnio, usado novamente como atacante de referência. O Bahia, por muitas vezes, espelhou o esquema tático do Vitória e jogou no 4-4-2, formando duas linhas de quatro e dando liberdade para Mendoza flutuar no último terço do campo. Criou volume, mas pouco incomodou o goleiro Caíque.

O Vitória não soube jogar com a bola nos pés. Com Ramon no meio-campo, ao lado de Uillian Correia, somente Yago tentava o jogo de posse. Neilton e David, verticais, buscava o confronto um contra um o tempo inteiro. Uma identidade do rubro-negro de Vagner Mancini, sobretudo como visitante.

O Vitória até melhorou no segundo tempo. Sem espaço para contra-ataques, o time buscou a compactação e tentou a troca de passes. Porém, ainda tivesse 58% de posse de bola, sofreu o primeiro gol oferecendo espaços na defesa e contando com a falha individual de Wallace, que rebateu a bola nos pés do inquieto Stiven Mendoza.

Veja os gols de Bahia 2 x 1 Vitória

Com o Bahia se fechando após o 1 a 0, principalmente com a entrada de Matheus Sales em lugar de Zé Rafael, Carpegiani abriu mão de atacar para fazer algo que diz odiar: se defender. Ele diz, inclusive, que não sabe jogar na defensiva. Provou isso ao sofrer o gol de empate, mesmo em bola parada. Fez a Fonte Nova vir abaixo graças a uma substituição que havia feito minutos antes, quando colocou Régis em campo e deu um pouco de verticalidade ao time. Foi dele o passe para a finalização de Edigar Júnio, bem defendida por Caíque. No escanteio, desvio de Edson e gol de Edigar.

A posse de bola e o controle do jogo voltaram ao Bahia. É uma evolução. O Vitória segue com o jogo reativo e tem dificuldades para jogar com a posse da bola. Precisa criar alternativas. Na gangorra do Brasileirão, o tricolor voltou a viver tranquilo justamente por retomar suas origens.

Insultos e suas consequências

Antes do apito final do árbitro, Renê Júnior e Santiago Tréllez se desentenderam. O volante do Bahia acusou o atacante do Vitória de chamá-lo de “macaco” – uma injúria racial que, infeliz e absurdamente, tem virado rotina no futebol brasileiro. Renê saiu de campo chorando e Tréllez foi embora do estádio sem dar declarações, se pronunciando apenas horas depois, através de vídeo divulgado pela assessoria rubro-negra.

O que se viu na Arena Fonte Nova foi um despreparo de muitos personagens ao tratar do tema. Por viverem num mundo fechado, onde o futebol é prioridade quase que 24 horas por dia, a maioria dos profissionais do esporte não sabem lidar com situações que interferem diretamente na sociedade. Ao chamar Renê Júnior de “macaco”, a intenção de Tréllez era desestabilizar o atleta, mas esqueceu de que atingiu o ser humano. Não dá para aceitar tudo o que acontece dentro de campo como algo que “faz parte do jogo”. Não, mesmo.

As declarações do técnico Vagner Mancini e do presidente em exercício, Agenor Godilho, deixam claro o despreparo. Apesar de o treinador ponderar que a atitude de seu atacante é errada, tentou justificar alegando falta de fair play de Renê, que não havia devolvido uma bola. O dirigente classificou o caso como um “mal entendido”. Lógico que ambos defenderam o seu comandado, mas faltou bom senso ao tratar de um tema tão delicado.

A comunidade futebolística precisa ultrapassar as fronteiras do campo e se arriscar a respirar o ar rarefeito das questões sociais no Brasil.

'Tenho muito orgulho da minha raça e sou maior que isso', afirma Renê Júnior sobre Tréllez tê-lo chamado de macaco


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Bahia e Vitória no Z-4 em semana de clássico. Cenário preocupante, mas sem terra arrasada

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Felipe Oliveira/EC Bahia
Vitória e Bahia se enfrentarão no Barradão, pela 11ª rodada do Brasileiro
Vitória e Bahia se enfrentarão no Barradão, pela 11ª rodada do Brasileiro

Já se passaram sete semanas desde o último Ba-Vi, disputado pela final do Campeonato Baiano, e que encerrou uma sequência de quatro confrontos consecutivos entre tricolores e rubro-negros. No próximo domingo, o sexto clássico da temporada terá um ingrediente bem amargo: os dois estão na zona de rebaixamento da Série A.

É preciso entender o aconteceu neste ínterim. Ambos os times mudaram de treinador (o Vitória por duas vezes, inclusive), contrataram jogadores e sofreram soluções de continuidade. Dois processos duros, mas que funcionaram de maneiras bem diferentes nos dois clubes.

O Vitória, com a eliminação para o Bahia nas semifinais da Copa do Nordeste, acreditou que o planejamento estava mal feito. Contratou Dejan Petkovic como gerente de futebol, demitiu o técnico Argel Fucks e alçou Wesley Carvalho como interino. Sem convicções, mesmo com o título estadual, buscou um novo treinador no mercado e não obteve êxito - Petkovic, então, acumulou funções e o rubro-negro criou a figura do team manager: uma espécie de técnico responsável por todas as áreas do departamento de futebol, desde a captação de novos atletas até a discussão de orçamento com a área financeira.

Com o fracasso nas primeiras rodadas do Brasileirão, o Vitória anunciou a saída do diretor Sinval Vieira, responsável pela montagem do time no início da temporada. Petkovic, então, resolveu dedicar-se exclusivamente ao papel de gestor e foi ao mercado buscar um novo técnico. Alexandre Gallo, numa lista de quase 30 nomes, foi o escolhido pela diretoria. Ao final deste processo, o rubro-negro já acumulava quatro jogos sem vencer e três derrotas consecutivas na Série A.

Há algumas semanas, Jorginho elogiou trabalho deixado por Guto Ferreira, mas admite: 'Há muito o que melhorar'

O Bahia conquistou o título do Nordeste e começou o Campeonato Brasileiro com um 6 a 2 contra o Atlético Paranaense. Em meio a duas derrotas fora de casa, para Vasco e Botafogo, o técnico Guto Ferreira recebeu proposta do Internacional e deixou o tricolor. A diretoria buscou no mercado um perfil parecido com o de "Gordiola", e chegou ao nome de Jorginho, profissional capaz de manter o padrão tático da equipe e não mexer profundamente na estrutura deixada por seu antecessor.

Mesmo com um time organizado, Jorginho convive com algo comum a clubes com orçamento restrito: a falta de boas opções no banco de reservas. Sem Régis, o Bahia perdeu muito de sua critividade; com a ausência de Edson, o time deixou de ter força defensiva no meio-campo, algo destacado durante boa parte da temporada; Renê Júnior, suspenso no último jogo, foi ausência sentida na saída de bola e construção do jogo a partir do campo de defesa. Somam-se as lesões de jogadores como Jackson e Hernane aos problemas, e o técnico tricolor tem uma realidade aproximada do que a Série A lhe oferece.

Com todos as dificuldades já conhecidas, a dupla Ba-Vi, porém, não possui equipes para encabeçar uma zona de rebaixamento. O Vitória tem dois volantes, Willian Farias e Uillian Correia, capazes de dar consistência ao meio-campo, tanto na saída de bola como na marcação; Patric qualifica a transição ofensiva pelos lados; David e Neilton são atacantes rápidos e habilidosos, assim como Kieza, jogador de constante movimentação ofensiva; Cleiton Xavier dá toques de experiência e qualidade, necessários em momentos complicados do jogo; André Lima é um centroavante capaz de decidir jogos, desde que esteja em condições físicas para isso. Falta ao Vitória reencontrar um padrão de jogo e, a partir daí, buscar variações táticas -Alexandre Gallo terá pela primeira vez uma semana inteira para trabalhar. Óbvio que o rubro-negro, com todas as qualidades citadas, não tem o time dos sonhos, capaz de buscar Libertadores ou título, mas pode sofrer menos sufoco.

Brasileiro: Gols de Atlético-PR 4 x 1 Vitória

O padrão tático que Gallo tanto busca já é visível no Bahia. A etapa seguinte é buscar as variações, algo que Jorginho também terá tempo de trabalhar durante a semana. Encontrar alternativas para a falta de bons substitutos é um desafio para o treinador tricolor, que tem um excelente time titular nas mãos.

A semana será dura para tricolores e rubro-negros. É, sem dúvida, o Ba-Vi mais duro do ano, pelo cenário criado por ambos no Campeonato Brasileiro. Porém, de tudo se tira boas lições. Não há terra arrasada: o clássico de domingo pode ser um recomeço para dois times que podem mostrar muito mais do que tem apresentado até agora.

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Elton Serra analisa fraco desempenho do Vitória partida contra Atlético-PR fora de casa

Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova
Bahia venceu o último Ba-Vi de 2017 por 2 a 1, na Arena Fonte Nova Marcelo Malaquias/EC Bahia/Divulgação

A primeira metade do clássico Ba-Vi refletiu o que as duas equipes tem feito no Campeonato Brasileiro, mesmo que o segundo tempo não me dê razão. Enquanto o Bahia tentou jogar com a bola nos pés, como gosta Paulo Cézar Carpegiani, o Vitória apostou no jogo reativo, como o grupo se sente confortável e Vagner Mancini teve que se adaptar.

Parte dos números do jogo ajuda a explicar as posturas. Na primeira etapa, o Bahia teve pouco mais de 67% de posse de bola, mas apenas duas finalizações – mesmo número do Vitória, que ficou um terço do tempo com a pelota em seus domínios.

Carpegiani optou por começar o jogo com Allione, meia armador com características diferentes de Régis, um meia-atacante com poder de infiltração na área. O argentino se encarregou de dar apoio ofensivo a Edigar Júnio, usado novamente como atacante de referência. O Bahia, por muitas vezes, espelhou o esquema tático do Vitória e jogou no 4-4-2, formando duas linhas de quatro e dando liberdade para Mendoza flutuar no último terço do campo. Criou volume, mas pouco incomodou o goleiro Caíque.

O Vitória não soube jogar com a bola nos pés. Com Ramon no meio-campo, ao lado de Uillian Correia, somente Yago tentava o jogo de posse. Neilton e David, verticais, buscava o confronto um contra um o tempo inteiro. Uma identidade do rubro-negro de Vagner Mancini, sobretudo como visitante.

O Vitória até melhorou no segundo tempo. Sem espaço para contra-ataques, o time buscou a compactação e tentou a troca de passes. Porém, ainda tivesse 58% de posse de bola, sofreu o primeiro gol oferecendo espaços na defesa e contando com a falha individual de Wallace, que rebateu a bola nos pés do inquieto Stiven Mendoza.

Veja os gols de Bahia 2 x 1 Vitória

Com o Bahia se fechando após o 1 a 0, principalmente com a entrada de Matheus Sales em lugar de Zé Rafael, Carpegiani abriu mão de atacar para fazer algo que diz odiar: se defender. Ele diz, inclusive, que não sabe jogar na defensiva. Provou isso ao sofrer o gol de empate, mesmo em bola parada. Fez a Fonte Nova vir abaixo graças a uma substituição que havia feito minutos antes, quando colocou Régis em campo e deu um pouco de verticalidade ao time. Foi dele o passe para a finalização de Edigar Júnio, bem defendida por Caíque. No escanteio, desvio de Edson e gol de Edigar.

A posse de bola e o controle do jogo voltaram ao Bahia. É uma evolução. O Vitória segue com o jogo reativo e tem dificuldades para jogar com a posse da bola. Precisa criar alternativas. Na gangorra do Brasileirão, o tricolor voltou a viver tranquilo justamente por retomar suas origens.

Insultos e suas consequências

Antes do apito final do árbitro, Renê Júnior e Santiago Tréllez se desentenderam. O volante do Bahia acusou o atacante do Vitória de chamá-lo de “macaco” – uma injúria racial que, infeliz e absurdamente, tem virado rotina no futebol brasileiro. Renê saiu de campo chorando e Tréllez foi embora do estádio sem dar declarações, se pronunciando apenas horas depois, através de vídeo divulgado pela assessoria rubro-negra.

O que se viu na Arena Fonte Nova foi um despreparo de muitos personagens ao tratar do tema. Por viverem num mundo fechado, onde o futebol é prioridade quase que 24 horas por dia, a maioria dos profissionais do esporte não sabem lidar com situações que interferem diretamente na sociedade. Ao chamar Renê Júnior de “macaco”, a intenção de Tréllez era desestabilizar o atleta, mas esqueceu de que atingiu o ser humano. Não dá para aceitar tudo o que acontece dentro de campo como algo que “faz parte do jogo”. Não, mesmo.

As declarações do técnico Vagner Mancini e do presidente em exercício, Agenor Godilho, deixam claro o despreparo. Apesar de o treinador ponderar que a atitude de seu atacante é errada, tentou justificar alegando falta de fair play de Renê, que não havia devolvido uma bola. O dirigente classificou o caso como um “mal entendido”. Lógico que ambos defenderam o seu comandado, mas faltou bom senso ao tratar de um tema tão delicado.

A comunidade futebolística precisa ultrapassar as fronteiras do campo e se arriscar a respirar o ar rarefeito das questões sociais no Brasil.

'Tenho muito orgulho da minha raça e sou maior que isso', afirma Renê Júnior sobre Tréllez tê-lo chamado de macaco


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Elton Serra analisa fraco desempenho do Vitória partida contra Atlético-PR fora de casa

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Por correção de planejamento, Vitória trocou aventura sul-americana por receita caseira

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Mauricia da Matta/EC Vitória
Cárdenas foi dispensado após apagada passagem pelo Vitória
Cárdenas foi dispensado após apagada passagem pelo Vitória

O Vitória foi um dos clubes que mais investiu no mercado Sul-Americano no início de 2017. Em janeiro, anunciou as contratações dos argentinos Jesus Dátolo e Leonardo Pisculichi, além do chileno Paul Pineda. Como já tinha o colombiano Sherman Cárdenas no elenco, completou o quarteto de jogadores estrangeiros para disputar a temporada.

Seis meses se passaram e a ideia de contar com uma ‘escola' diferente na Toca do Leão foi para o espaço. Dátolo, que já vive no Brasil há algum tempo, foi dispensado após sete jogos com a camisa rubro-negra - um a mais que seu conterrâneo Pisculichi, colocado à disposição do mercado pela diretoria do Vitória. Pineda, com 18 partidas e três gols, todos no Campeonato Baiano, não teve seu curto contrato renovado. Cárdenas, que veste a camisa do clube desde o ano passado, fez sete jogos em 2017 e também foi dispensado.

As investidas do Vitória no mercado sul-americano não tem dado muito certo nas últimas duas temporadas. Em 2016, além de Cárdenas, o time contou com o atacante boliviano Rodrigo Ramallo, que passou em branco com a camisa do Leão. Os dois chegaram após boas passagens do goleiro paraguaio Gatito Fernandez e do meia argentino Damian Escudero, que ajudaram o rubro-negro no retorno à Série A em 2015.

Assista aos gols do triunfo do Vitória sobre o Sport por 3 a 1!

Com exceção de Pineda, que passou por clubes menores do Chile, os estrangeiros chegaram ao Vitória com currículos vencedores - inclusive com títulos da Copa Libertadores. Cárdenas foi campeão com Atlético Nacional em 2016; Dátolo, ainda jovem, faturou a taça com o Boca Juniors, em 2007; já Pisculichi, em 2015, ganhou o torneio sul-americano com o River Plate.

Sem estrangeiros no elenco, o Vitória agora se concentra no mercado nacional para reforçar o time visando a sequência do Brasileiro. Esse processo, por ironia, é comandado pelo sérvio Dejan Petkovic, que não cogita contratar gringos em curto prazo. O rubro-negro, também, baixou a média de idade com as mudanças de planejamento - os quatro sul-americanos, juntos, somavam 30 anos de média, enquanto o grupo beira os 26. Caíque Sá (25), Yago (22), Fillipe Soutto (26) e Neilton (23) foram os últimos reforços apresentados.

Com pouco tempo de adaptação e rendimentos abaixo do esperado, os estrangeiros do Vitória deixaram o torcedor decepcionado. O rubro-negro, agora, tenta mudar a receita para poder se reequilibrar na temporada. Faz, com o perdão do trocadilho, o famoso arroz com feijão.

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Bahia segue com seu longo e difícil processo de reconstrução de identidade

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Divulgação/Gêmio FPA
Bahia foi derrotado pelo Grêmio por 1 a 0, em Porto Alegre
Bahia foi derrotado pelo Grêmio por 1 a 0, em Porto Alegre

Há alguns anos era comum ouvir a frase "o Bahia é um bando em campo". Uma constatação justa e fiel ao que o tricolor apresentava nas competições que disputava, fruto de uma falta de planejamento, de critério nas contratações, de filosofia, identidade e cultura tática. Elementos que resultam em times competitivos e vencedores, acima de tudo.

Mesmo que muitos torcedores ainda reclamem, e até acreditem que o Bahia fez péssima partida contra o Grêmio na última segunda-feira, é preciso enxergar que as coisas mudaram lá pelas bandas do Fazendão. E o jogo contra o tricolor gaúcho mostra que, de fato, os elementos que faltavam para o time baiano voltar a ter identidade podem ser vistos na equipe comandada por Jorginho. Algumas coisas ainda engatinham, mas muitas são bastante cristalinas.

Voltando no tempo, o Bahia sentiu que precisava ter novamente uma identidade para voltar ao caminho das glórias. Esse processo começou com Sérgio Soares, em 2015: o técnico conseguiu plantar a semente de um time montado no 4-3-3, com transições ofensivas rápidas e organização defensiva consistente. O tricolor foi campeão baiano e finalista da Copa do Nordeste e, apesar de ter fracassado na Série B, muito por falta de qualidade técnica de alguns jogadores, solidificou uma filosofia que foi passada para os trabalhos seguintes. Doriva conseguiu contribuir com a mudança do esquema para o 4-2-3-1 e fortalecendo a marcação no meio-campo. Guto Ferreira, em 2016, "poliu" o sistema e consolidou a identidade do Bahia.

O atual técnico do Internacional foi fundamental para que o Bahia pudesse caminhar com passos firmes nas grandes competições. Em casa, o time baiano joga à vontade, com as transições ofensivas inteligentes de Sérgio Soares e com o meio-campo de posse de bola de Doriva, mas com a consistência defensiva e intensa movimentação no último terço do campo, com meias armadores que atuam como pontas, heranças de Guto Ferreira, que também trouxe a variação para o 4-1-4-1. É óbvio também que, mesmo com todos esses elementos, o Bahia ainda não é um time pronto para encarar qualquer desafio, e o próximo passo ficou nas mãos de Jorginho.

Confira o gol da vitória do Grêmio sobre o Bahia por 1 a 0

Na arena gremista, o Bahia enfrentou um adversário que já passou por todas essas etapas. Renato Portaluppi herdou um trabalho bem feito por Roger Machado, e deu a sua cara. O Grêmio tem muitos passos à frente do tricolor baiano em cultura tática, mas sentiu imensa dificuldade na partida dessa segunda-feira - o time de Jorginho só perdeu a partida graças a uma jogada que não é comum na equipe gaúcha: cobrança direta de escanteio, jogador escorando a bola no primeiro poste e um segundo atleta finalizando sem marcação. O Grêmio precisou ser pragmático para vencer o jogo na sua casa.

A estratégia de Jorginho era neutralizar as virtudes do Grêmio. Para isso, o Bahia precisaria jogar de uma maneira um pouco diferente da que está acostumado. É uma necessidade natural, fruto de um time que ainda está construindo sua identidade, sobretudo quando atua longe da Fonte Nova. O time azul, vermelho e branco ainda encontra muitas dificuldades em impor o seu jogo como visitante, mas, mesmo assim, colocou em práticas situações já conhecidas na equipe: uma primeira linha defensiva sólida e muito bem organizada; uma compactação defensiva capaz de negar todos os espaços possíveis para o ataque adversário; paciência para suportar uma pressão que já era prevista em Porto Alegre. Como disse, sofreu um gol numa situação pouco comum no time de Renato - foi um dos jogos mais difíceis do Grêmio como mandante na temporada.

Felipe Oliveira/EC Bahia
Jorginho tem a missão de dar continuidade ao processo de evolução do Bahia
Jorginho tem a missão de dar continuidade ao processo de evolução do Bahia

Com uma estrutura forte, fica fácil enxergar o que precisa evoluir. A tendência, com isso, é fazer mudanças pontuais. O Bahia, por exemplo, precisa de uma saída mais forte pelo meio-campo; no ataque, um bom centroavante é necessário para mudar as características do time, com um jogador que faça bem o pivô e dê a oportunidade dos meias tabelarem próximos à área, quebrando linhas de equipes mais fechadas. Esta estrutura já permite que o Bahia não tenha que começar do zero toda vez que mudar um treinador.

Muitos torcedores ainda reclamarão da postura do Bahia fora de casa. Porém, instintivamente, sabe que a equipe mostra algo que sequer era visto há três temporadas. Jorginho ainda precisa dar mais maturidade ao time para pontuar como visitante, e isso passa por trabalhos táticos e, pelo visto, psicológicos. O técnico já mostrou que quer dar esse passo quando faz substituições que visam sempre o gol. É mais um tijolo que se encaixa no castelo de ideias que formam a identidade, a filosofia, a cultura tática do Esporte Clube Bahia. Algo que boa parte da torcida pode não ter paciência para enxergar, mas que ajuda a deixar uma base montada para várias gerações futuras.

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Clubes já enfrentam suas primeiras dificuldades no Brasileiro: 'proibição' de uso de jogadores

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Mauricia da Matta/EC Vitória
Patric está emprestado ao Vitória pelo Atlético-MG até o fim do ano
Patric está emprestado ao Vitória pelo Atlético-MG até o fim do ano

O Vitória venceu o Atlético-MG neste domingo, no Barradão, mas não teve a oportunidade de contar com um de seus principais titulares no Campeonato Brasileiro. O lateral-direito Patric teve que assistir o jogo da arquibancada por culpa do clube mineiro, detentor dos seus direitos federativos. Como pertence ao Galo, a diretoria alvinegra "vetou" a sua utilização quando o rubro-negro baiano enfrentasse o time treinado por Roger Machado.

Vetar a utilização de jogadores emprestados contra o time cedente virou uma prática no Brasil. Um clube ativa cláusula no contrato de empréstimo para evitar o "fogo amigo", e o outro aceita sem reclamar. Caso queira se arriscar a utilizar o atleta, terá que pagar uma multa quase milionária. A CBF, em 2015, proibiu a prática, mas voltou atrás nesta temporada.

Assim como as vendas de mando de campo, as cláusulas proibitivas tiram a isonomia do Campeonato Brasileiro. Jogadores podem atuar em quase todas as partidas - exceto nas quais seu clube de origem está do outro lado. A depender da situação do clube cedente na competição e do momento do atleta cedido, a prática pode beneficiar apenas quem empresta.

Felipe Oliveira/EC Bahia
Allione não estará em campo contra o Palmeiras, no próximo domingo
Allione não estará em campo contra o Palmeiras, no próximo domingo

O Bahia também passará por situação parecida nas próximas semanas. Allione e Matheus Sales, por exemplo, não poderão enfrentar o Palmeiras no domingo, na Arena Fonte Nova. O mesmo se aplica aos atacantes Mendoza e Gustavo, que pertencem ao Corinthians, adversário do tricolor no próximo dia 22, em Itaquera. Como nos quatro casos os empréstimos se deram de forma gratuita, a diretoria do Bahia teve pouco poder de argumentação, assim como o Vitória no caso Patric.

Um exemplo que ilustra que a proibição é desnecessária vem de um dos melhores jogadores do Brasileirão no momento: Lucca. Ao contratá-lo por empréstimo, a Ponte Preta garantiu que o atacante poderia enfrentar o Corinthians enquanto defendesse o time de Campinas, e o jogador foi destaque no confronto da primeira fase do Campeonato Paulista. Lucca também atuou nas finais do estadual normalmente, aproveitando a vitrine, mostrando a Fábio Carille que pode ser últil no futuro e mostrando para o Corinthians que sua ausência poderia causar um prejuízo técnico na decisão da competição.

Os clubes brasileiros seguem na contramão do bom senso, talvez por medo do constrangimento em ter que assistir um jogador que não faz parte dos seus planos fazer um gol que determine sua derrota. Quando o futebol no país parecia ter dado um passo para se afastar da mesquinharia, eis que aqueles que deveriam fomentar a competitividade resolvem dar dois passos atrás.

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De Sascha Lewandowski à criação de um nova cultura: as aspirações de Alexandre Gallo no Vitória

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Mauricia da Matta/EC Vitória
Alexandre Gallo tem inspirações alemãs para se reinventar no futebol
Alexandre Gallo tem inspirações alemãs para se reinventar no futebol

Alexandre Gallo começou a sua era no Vitória. Sua contratação foi questionada por torcedores, parte da imprensa e até alguns diretores do clube. O rubro-negro, porém, afirma que está contratando um técnico e uma nova ideia de trabalho. Unir os resultados no Campeonato Brasileiro com a formação de novos jogadores, DNA do time baiano e função de Gallo nos últimos anos, é o grande objetivo de Dejan Petkovic, agora diretor de futebol.

Será fácil implantar uma nova filosofia de trabalho no Vitória? A resposta, com certeza, é negativa. E por um motivo bem simples: treinar a Seleção Brasileira é muito diferente de trabalhar num clube de futebol, onde o treinador precisa se adaptar à realidade financeira e de gestão dos cartolas, sem a regalia de contar com o jogador que quiser. Alexandre Gallo precisará superar obstáculos políticos e culturais para começar a mudar o que encontrou no rubro-negro. E mais: ele treinará jogadores, e não ideias.

DataESPN: Rafael Oliveira mostra os erros do Vitória na derrota para o Fluminense

Gallo chega ao Vitória num momento politicamente turbulento, mas tem ao seu favor o total respaldo de Petkovic, com quem trabalhou no Atlético-MG, em 2008. E Pet, obcecado por mudanças no clube, dará carta branca para o novo técnico mexer na estrutura do time e do elenco, de acordo com a nova filosofia de trabalho da equipe baiana.

Para começar essa tão sonhada transformação, Alexandre Gallo chega ao Vitória com algumas inspirações. A maior delas é Sascha Lewandowski, técnico alemão que faleceu ano passado, aos 44 anos, e que teve grande destaque no Bayer Leverkusen. Lewandowski fez famosa dupla com Sami Hyypia, ex-zagueiro finlandês que fez sucesso no Liverpool e que, após se aposentar no Leverkusen, treinou a equipe alemã entre 2012 e 2014. Quando Hyypia assumiu o primeiro time, Sascha ficou responsável pelas categorias de base - por isso, a admiração de Gallo por seu trabalho.

O que Sascha Lewandowski tinha que fazia o novo técnico do Vitória admirá-lo? A primeira questão, de acordo com o próprio Gallo, era a vocação ofensiva dos times treinados pelo alemão. De fato, Sascha gostava de atuar num 4-3-3, com um trio de meio-campistas capazes de marcar e criar. Por muitas vezes, um desses meias fazia o papel de terceiro zagueiro, liberando habilidosos e rápidos laterais, dando amplitude e profundidade ao time. No Leverkusen, por exemplo, o volante Bender ditava a variação tática, se transformava num defensor e dava liberdade para o lateral Daniel Carvajal, hoje no Real Madrid, apoiar o ataque - uma variação para o 3-4-3, que funcionava com muita fluidez na equipe alemã.

Getty
Sascha Lewandowski foi treinador do União Berlim na última temporada
Sascha Lewandowski foi treinador do Bayer Leverkusen e faleceu em 2016

Sem tempo para muitas mudanças na equipe e, claro, com jogadores que possuem características diferentes das vistas no Bayer Leverkusen, Alexandre Gallo lutará contra a impaciência de muitos para fazer o Vitória dar certo. E, aos poucos, tentará colocar em prática as suas ideias. Nos primeiros treinamentos na Toca do Leão, formou o time no 4-3-3, sacando Cleiton Xavier e escalando Gabriel Xavier na linha de três do meio-campo. Percebe-se que a inspiração alemã começou a tomar corpo na equipe rubro-negra, com Willian Farias ditando a variação para o 3-4-3, dando liberdade para Patric e Thallyson apoiarem o trio formado pelos rápidos David, Neilton e Kieza. Como Gabriel tem mais capacidade física, segundo Gallo, de recompor com mais velocidade de Cleiton, o time ganha mais dinâmica no meio-campo. O grande teste será contra o São Paulo, nesta quinta-feira, no Morumbi.

As ideias de jogo de Alexandre Gallo podem dar certo se o elenco absorvê-las o mais rápido possível. O Vitória, na teoria, é um clube que oferece condições para construir uma proposta onde a cultura de transições rápidas, mas com posse de bola, seja implantada sem restrições. Buscando variações à moda alemã, Alexandre Gallo, que busca esse equilíbrio entre agredir o adversário e fazer a equipe saber se defender, pode encarnar o melhor de Sascha Lewandowski. A aposta já está feita.

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Bahia 'costura' duplo empréstimo com Atlético-MG para manter destaque do Brasileirão

Elton Serra
Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
Felipe Oliveira/EC Bahia
Capitão do Bahia, zagueiro Tiago pertence ao Atlético-MG
Capitão do Bahia, zagueiro Tiago pertence ao Atlético-MG

O Bahia segue buscando manter um de seus principais jogadores no elenco para a sequência do Campeonato Brasileiro, e parece ter achado uma solução que irá, inclusive, aliviar as finanças do clube. O zagueiro Tiago, destaque da defesa tricolor na Série A, ainda é personagem de uma negociação que está próxima de um fim.

O presidente Marcelo Sant'Ana havia antecipado que Tiago seria contratado, em definitivo, por três temporadas. No entanto, o Atlético-MG, dono de seus direitos federativos, resolveu valorizar o negócio e se interessou no meia Gustavo Blanco, cria das divisões de base do Bahia e que vive boa fase no América-MG.

As negociações já duram algumas semanas. O Atlético quer Gustavo Blanco por empréstimo até o final de 2018, e em troca mantém Tiago em Salvador, também por empréstimo, até o fim deste ano. Nos dois negócios, os clubes terão opção de compra. O Bahia, no entanto, quer aumentar o vínculo com Blanco antes de repassá-lo ao Galo, com o objetivo de valorizar a multa rescisória, já que o contrato se encerra justamente no final da próxima temporada. A diretoria alvinegra já entrou em contato com o América e busca se acertar com os representantes do meia.

Divulgação/América Mineiro
Gustavo Blanco é um dos destaques do América na temporada
Gustavo Blanco é um dos destaques do América na temporada

Com tudo praticamente acertado, o Bahia vê com bons olhos o negócio. Com uma compra futura de Tiago praticamente acertada, o clube, com o valor que teria que ser desembolsado para a aquisição do zagueiro ainda este mês, pode investir em outros reforços ou até fazer o seu caixa respirar.

Tiago tem 26 anos e chegou ao Bahia em 2016. Com 44 jogos pelo tricolor, marcou três gols e levantou a Copa do Nordeste deste ano como capitão do time. O zagueiro, inclusive, faz parte da seleção do prêmio ESPN Bola de Prata Sportingbet após quatro rodadas do Campeonato Brasileiro.

Já Gustavo Blanco tem 22 anos e está no América-MG desde o início da temporada. Pelo Coelho atuou em 19 jogos, todos como titular, e não marcou nenhum gol.

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