A demissão de Jorginho não é absurda, mas gestão do Bahia corre o risco do ‘mais do mesmo’
Numa conclusão rasa, poderíamos dizer que Jorginho, no Bahia, foi o técnico certo na hora errada. Com conceitos de jogo modernos e ampla visão do futebol, o tetracampeão mundial poderia ter encontrado no tricolor o lugar ideal para decolar novamente a sua carreira e, de quebra, ajudar o clube baiano a se reestabelecer entre os grandes do futebol brasileiro. Não foi o que aconteceu.
Escrevi aqui no blog, quando Jorginho foi contratado, que o Bahia agiu com correção. Buscou no mercado um treinador que daria continuidade ao trabalho de Guto Ferreira, procurando aprimorar elementos que ainda estavam crus na equipe tricolor. A convicção da diretoria era tão grande que não demorou mais que dois dias para anunciar o técnico. A tacada parecia perfeita.
O futebol, como já sabemos, é um esporte que conta muito com o imponderável. É muito difícil cravar que as coisas darão certo. Jorginho, quando foi apresentado, elogiou o trabalho de seu antecessor e falou até em “brigar por coisas grandes” dentro do Campeonato Brasileiro. Comprou a ideia de que o Bahia, com o elenco que tinha, era capaz de lutar por uma vaga na Copa Libertadores. Talvez, precipitado, não percebeu que existia ainda um caminho muito longo a percorrer – o time, apesar de jogar bem, ainda tinha problemas. O discurso é extremamente positivo e força o clube a pensar grande, mas o técnico precisava entender a sua realidade.
Guto Ferreira deixou um Bahia com padrão de jogo. Sólido defensivamente, com transições ofensivas rápidas e um ataque de intensa movimentação no último terço do campo. O tricolor, em casa, era quase imbatível; fora dela, mesmo quando jogava mal, vendia caro as derrotas. A saída de bola, basicamente feita com os laterais, gerava amplitude que obrigava os adversários a abrir o campo: momento ideal para o trio formado por Zé Rafael, Allione e Régis trabalharem por dentro e criarem estrago.
Jorginho tinha a missão de corrigir defeitos. O time de Guto não era perfeito – aliás, passava longe disso. A equipe pecava demais nas finalizações e, além disso, carecia de alternativas táticas. Viciado no 4-2-3-1 com um atacante móvel à frente de três meias, o Bahia não encontrava soluções quando os oponentes neutralizavam seus pontos fortes. O novo treinador, talvez tentando encontrar essas alternativas, mexeu demais no time. O tricolor se desmanchou e, consequentemente, perdeu sua identidade. Jorginho, inclusive, passou a odiar comparações com o trabalho de seu antecessor.
Análise feita no Cartão Verde: Posse do Bahia é marcada por improdutividade. Poucas triangulações, nenhuma infiltração, jogo afunilado. pic.twitter.com/qMIklqWfca
— Elton Serra (@eltonserra) 31 de julho de 2017
O Bahia trocou a posse bola no campo ofensivo e a intensa movimentação no último terço por um estilo de jogo mais reativo, esperando o adversário no campo de defesa e partindo para decidir o jogo nos contra-ataques. Para isso, Jorginho efetivou o veloz Mendoza como titular e, aos poucos, jogadores como Régis e Allione foram perdendo espaço, a despeito de ambos não viverem grande fase. Longe de Salvador as coisas até que funcionaram, mas na Fonte Nova a equipe já não conseguia assimilar os novos conceitos. Com cinco jogos sem vencer como mandante, despencou na tabela da Série A.
É importante salientar que o Bahia também sofre com a falta de atletas capazes de manter o bom nível da equipe quando os titulares caem de rendimento ou, por algum motivo, desfalcam o time. Põe na conta da diretoria.
Com sua demissão, Jorginho voltou a levantar a interminável discussão sobre o tempo de trabalho dado aos treinadores de futebol no Brasil. O companheiro Renato Rodrigues, em seu blog, analisa muito bem a questão e escreve algo que concordo muito: “Apesar do pouco tempo no cargo, Jorginho não conseguiu mostrar um horizonte melhor pela frente, uma tendência de crescimento. Então a questão aí não é o tempo de trabalho, e sim o trabalho”. As poucas virtudes consolidadas que o Bahia possuía foram se perdendo ao longo de 14 partidas.
É extremamente ruim ter que mudar de treinador após dois meses de trabalho. Olhando o copo meio vazio, a diretoria do Bahia, agora, será criticada pela atitude “intempestiva”. Analisando pelo copo meio cheio, conseguiu enxergar que o time não iria evoluir nas mãos de Jorginho, e que os resultados já não estavam compensando a falta de bons desempenhos. Na ciranda do futebol, onde ontem você foi bom e hoje você é ruim, cabe ao clube encontrar a solução mais eficaz: buscar um técnico capaz de trazer de volta as virtudes da equipe, sem criar um novo conceito no meio da temporada, dificultando a assimilação dos atletas e, ao mesmo tempo, capaz de consolidar a tão sonhada identidade tática que o Bahia busca há algumas temporadas.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
A demissão de Jorginho não é absurda, mas gestão do Bahia corre o risco do ‘mais do mesmo’
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