Bahia completará dois anos de ‘bipolaridade’
Os últimos jogos do Bahia na Arena Fonte Nova, por três competições distintas, trazem com fidelidade um recorte do desempenho do time nas últimas duas temporadas. A constatação parece estranha quando analisamos a irregular campanha do tricolor na Série A, mas ajuda a entender o trabalho de Guto Ferreira à frente da equipe baiana.
A lógica é bem simples: o Bahia é um time que tem como principal característica o jogo de posse de bola no campo ofensivo. Nos jogos que venceu até a sétima rodada do Campeonato Brasileiro, teve média de 55% de posse contra seus adversários. O volume de jogo depende muito da troca de passes entre a intermediária ofensiva e o último terço do campo. Quando falhou no propósito, tropeçou em casa – empatou com Atlético-PR e São Paulo tendo 41% e 49% de posse de bola, respectivamente.
Os números não trazem uma opinião definitiva, mas colaboram para o entendimento dos métodos de Guto Ferreira. Desde que chegou ao Bahia, em junho de 2016, refuta o jogo reativo e busca ter a bola nos pés. Foi campeão do Nordeste ano passado com um time leve e de bastante movimentação. Deixou a herança para seus sucessores, Jorginho e Carpegiani, que investiram na leveza de Mendoza para fazer o tricolor surpreender no Campeonato Brasileiro.
O treinador tentou, ao retornar à Salvador no início da atual temporada, o 4-1-4-1 como a formação tática inicial de sua equipe, mas logo percebeu que precisava novamente reforçar o meio-campo para dar liberdade aos leves Zé Rafael, Marco Antônio (ou Élber) e Edigar Junio. O volante Elton entrou na equipe e hoje forma dupla com Gregore. Vinícius, testado como um meia mais recuado, voltou a ser utilizado como meia armador na linha de três do 4-2-3-1. Guto resolveu retornar às suas origens.
Por gostar da bola, o Bahia tem um problema crônico desde 2016: é uma equipe frágil longe de Salvador. O time mostra uma incapacidade de jogar recuado, marcando a partir da intermediária. Dar a bola para o adversário é algo estranho para um grupo que está acostumado com o jogo de posse. Em sua trajetória no tricolor, Guto Ferreira venceu 13 jogos como visitante, mas apenas dois em competições nacionais – ambos na Série B de 2016, contra Avaí e Vila Nova. A maioria absoluta das vitórias fora da Arena Fonte Nova foi construída no frágil Campeonato Baiano.
O ‘fator Régis’
No jogo contra o Vasco, domingo passado, Guto Ferreira surpreendeu a torcida quando, na metade do segundo tempo, tirou o centroavante Júnior Brumado para colocar o meia-atacante Régis. O time ficou sem uma referência no ataque, mas deslanchou no jogo e marcou três gols na sequência. A ideia, apesar de não ter sido assimilava pela maioria que assistia ao confronto, era de confundir a defesa vascaína e abrir espaços para as infiltrações de Élber, Zé Rafael e do próprio Régis. Deu muito certo.
Régis já havia sido um fator de desequilíbrio na partida contra o Blooming, quatro dias antes, pela Copa Sul-Americana. Entrou no intervalo como um extremo direito, mas sua intensa movimentação no último terço do campo foi fundamental para que a goleada de 4 a 0 contra os bolivianos fosse construída. Na atual temporada, Régis entrou em campo em 23 jogos, mas foi titular em apenas seis. Vindo do banco de reservas, o meia tem sido mais útil, o que traz um grande dilema para Guto Ferreira: escalá-lo como titular, ou não?
É possível que a boa fase de Vinícius no primeiro trimestre tenha ajudado Guto a manter Régis no banco de reservas. Mesmo com a queda de rendimento do atual titular, o treinador o mantém no time, entendendo que Vinícius contribui defensivamente em muitos momentos do jogo. A solidez da defesa do Bahia, sexta melhor entre os clubes da Série A na temporada, também contribui para que o ataque tenha números expressivos – a participação de Régis na fase defensiva é mínima.
Ter um jogador de qualidade no banco, capaz ser decisivo quando escalado no segundo tempo, não é uma ideia tão ruim. Lógico que a titularidade também está atrelada ao nível de desempenho daquele que começa entre os 11, mas Régis já mostrou ser o atleta ideal para desmontar estratégias adversárias durante os jogos.
Com ou sem Régis, o Bahia ainda não encontrou o seu equilíbrio em 2018. Ao mesmo tempo em que consegue ser quase imbatível na Arena Fonte Nova, não oferece tanta resistência quando atua longe de Salvador. Um problema crônico, e que não é de hoje. No fiel da balança, Guto Ferreira faz um bom trabalho no tricolor, mas ainda precisa fazer seu time ser mais ousado como visitante. Desta forma, quem sabe, dê o salto que todos esperam há tempos.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
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