Bahia segue com seu longo e difícil processo de reconstrução de identidade
Há alguns anos era comum ouvir a frase "o Bahia é um bando em campo". Uma constatação justa e fiel ao que o tricolor apresentava nas competições que disputava, fruto de uma falta de planejamento, de critério nas contratações, de filosofia, identidade e cultura tática. Elementos que resultam em times competitivos e vencedores, acima de tudo.
Mesmo que muitos torcedores ainda reclamem, e até acreditem que o Bahia fez péssima partida contra o Grêmio na última segunda-feira, é preciso enxergar que as coisas mudaram lá pelas bandas do Fazendão. E o jogo contra o tricolor gaúcho mostra que, de fato, os elementos que faltavam para o time baiano voltar a ter identidade podem ser vistos na equipe comandada por Jorginho. Algumas coisas ainda engatinham, mas muitas são bastante cristalinas.
Voltando no tempo, o Bahia sentiu que precisava ter novamente uma identidade para voltar ao caminho das glórias. Esse processo começou com Sérgio Soares, em 2015: o técnico conseguiu plantar a semente de um time montado no 4-3-3, com transições ofensivas rápidas e organização defensiva consistente. O tricolor foi campeão baiano e finalista da Copa do Nordeste e, apesar de ter fracassado na Série B, muito por falta de qualidade técnica de alguns jogadores, solidificou uma filosofia que foi passada para os trabalhos seguintes. Doriva conseguiu contribuir com a mudança do esquema para o 4-2-3-1 e fortalecendo a marcação no meio-campo. Guto Ferreira, em 2016, "poliu" o sistema e consolidou a identidade do Bahia.
O atual técnico do Internacional foi fundamental para que o Bahia pudesse caminhar com passos firmes nas grandes competições. Em casa, o time baiano joga à vontade, com as transições ofensivas inteligentes de Sérgio Soares e com o meio-campo de posse de bola de Doriva, mas com a consistência defensiva e intensa movimentação no último terço do campo, com meias armadores que atuam como pontas, heranças de Guto Ferreira, que também trouxe a variação para o 4-1-4-1. É óbvio também que, mesmo com todos esses elementos, o Bahia ainda não é um time pronto para encarar qualquer desafio, e o próximo passo ficou nas mãos de Jorginho.
Na arena gremista, o Bahia enfrentou um adversário que já passou por todas essas etapas. Renato Portaluppi herdou um trabalho bem feito por Roger Machado, e deu a sua cara. O Grêmio tem muitos passos à frente do tricolor baiano em cultura tática, mas sentiu imensa dificuldade na partida dessa segunda-feira - o time de Jorginho só perdeu a partida graças a uma jogada que não é comum na equipe gaúcha: cobrança direta de escanteio, jogador escorando a bola no primeiro poste e um segundo atleta finalizando sem marcação. O Grêmio precisou ser pragmático para vencer o jogo na sua casa.
A estratégia de Jorginho era neutralizar as virtudes do Grêmio. Para isso, o Bahia precisaria jogar de uma maneira um pouco diferente da que está acostumado. É uma necessidade natural, fruto de um time que ainda está construindo sua identidade, sobretudo quando atua longe da Fonte Nova. O time azul, vermelho e branco ainda encontra muitas dificuldades em impor o seu jogo como visitante, mas, mesmo assim, colocou em práticas situações já conhecidas na equipe: uma primeira linha defensiva sólida e muito bem organizada; uma compactação defensiva capaz de negar todos os espaços possíveis para o ataque adversário; paciência para suportar uma pressão que já era prevista em Porto Alegre. Como disse, sofreu um gol numa situação pouco comum no time de Renato - foi um dos jogos mais difíceis do Grêmio como mandante na temporada.
Com uma estrutura forte, fica fácil enxergar o que precisa evoluir. A tendência, com isso, é fazer mudanças pontuais. O Bahia, por exemplo, precisa de uma saída mais forte pelo meio-campo; no ataque, um bom centroavante é necessário para mudar as características do time, com um jogador que faça bem o pivô e dê a oportunidade dos meias tabelarem próximos à área, quebrando linhas de equipes mais fechadas. Esta estrutura já permite que o Bahia não tenha que começar do zero toda vez que mudar um treinador.
Muitos torcedores ainda reclamarão da postura do Bahia fora de casa. Porém, instintivamente, sabe que a equipe mostra algo que sequer era visto há três temporadas. Jorginho ainda precisa dar mais maturidade ao time para pontuar como visitante, e isso passa por trabalhos táticos e, pelo visto, psicológicos. O técnico já mostrou que quer dar esse passo quando faz substituições que visam sempre o gol. É mais um tijolo que se encaixa no castelo de ideias que formam a identidade, a filosofia, a cultura tática do Esporte Clube Bahia. Algo que boa parte da torcida pode não ter paciência para enxergar, mas que ajuda a deixar uma base montada para várias gerações futuras.
Fonte: Elton Serra, blogueiro do ESPN.com.br
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