Era melhor ficar calado: Jair Ventura 'tomou' lugar de locais de país africano onde 36% dos jovens não têm emprego
Jair Ventura é uma das melhores novidades do futebol brasileiro. Com trabalho duro e conceitos modernos, faz campanha histórica com o modesto elenco do Botafogo na Libertadores e levou o time às semifinais da Copa do Brasil.
Mas a grande revelação das pranchetas tropeçou feio ao criticar a contratação do colombiano Reinaldo Rueda pelo Flamengo, dizendo que isso tira espaço dos treinadores brasileiros. Como faz Donald Trump com a ideia maluca de construir um muro na fronteira dos EUA com o México e barrar estrangeiros que buscam apenas uma chance de trabalho, Jair parece querer criar uma reserva de mercado para os treinadores brasileiros, impedindo que um profissional busque um futuro melhor para a sua carreira ou barrando até alguém com o currículo vitorioso como Rueda, campeão da Libertadores em 2016.
Pior ainda alguém que também tenha tentado uma real oportunidade no exterior em busca de um caminho na carreira tenha sido o autor de tamanha bobagem.
Antes de virar treinador, Jair, filho de Jairzinho, um dos craques brasileiros na conquista do tricampeonato mundial, foi um jogador futebol que não teve sucesso. Em entrevista no ano passado ao ESPN.com.br, ele contou como tentou dar um impulso para sua carreira.
"Fiquei naquela de aposentar ou não, mas aí meu pai for ser treinador do Gabão para tentar classificar na eliminatória africana pra Copa do Mundo de 2006. Fui visitá-lo um dia e fiquei treinando por lá sem clube. Só que um dirigente viu meu treino, gostou e me ofereceu um contrato pra jogar por um time de lá. Eu pensei, pensei... E topei! Fiquei morando com meu pai e joguei no TP Akwenb", lembrou. "Fiquei dois anos lá com meu pai. Era uma cultura de vida muito diferente, mas como eu falava francês até que me virei bem. Até tentei me naturalizar para tentar jogar a Copa pelo Gabão, mas a seleção ficou de fora por um ponto na eliminatória", completou.
Agora reclamando que estrangeiros tomem o mercado brasileiro de treinadores, Jair não viu problema (e não havia nenhum mesmo) em tomar o lugar de um jogador local em um país africano onde nada menos do que 36% dos jovens entre 15 e 24 anos não têm emprego. E com índice de saúde pública até razoáveis para os padrões africanos, mas bem longe até dos brasileiros: a mortalidade infantil é de 51 para cada 1.000 nascidos, contra 16 no Brasil, e onde 3,8% da população entre 15 e 49 anos têm o vírus HIV, contra 0,6% do Brasil.
Jair Ventura é jovem. Vai aprender e fazer muito no futebol. Dá tempo de sobra para deixar de lado esse protecionismo do emprego tolo. Já nesta terça-feira divulgou nota para justificar suas declarações. Melhor assim.
Fonte: Paulo Cobos, blogueiro do ESPN.com.br
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