Luis Esperanço (BSOP)Felipe Cardoso
Durante o BSOP Recife, que aconteceu entre os dias 4 e 9 de maio na capital pernambucana, fiquei conhecendo a história do Felipe "Panda" Cardoso, um jovem de 23 anos nascido no interior do Piauí. Fui apresentado a ele depois que várias pessoas me disseram que deveria publicar sua história aqui no blog. E que era melhorar me preparar, pois iria ficar emocionado...
A Brazilian Series Of Poker é o campeonato brasileiro da modalidade, com doze anos de tradição. Por ser o maior e melhor circuito de poker do país, é objeto de desejo da imensa maioria de jogadores amadores do Brasil, que sonham em disputar seus torneios e buscar a glória nas mesas. A história do Felipe é parecida com essa... Mas tem um detalhe: o sonho dele não era jogar!
Humilde e tímido, Felipe é daquelas pessoas que conquistam a simpatia de todos em poucos instantes. Quando fui apresentado a ele, seu sorriso me lembrou aquele de uma criança abrindo os presentes na manhã de Natal. Mas depois da nossa conversa, a característica que me marcou foi sua determinação, a vontade de superar as estatísticas e as adversidades da vida e se tornar um vencedor.
"Trabalho com poker há mais ou menos um ano e dois meses", me contou Felipe. "Sou formado em Contabilidade, e era realizado no trabalho. Mas não era realizado na vida... Aí decidi largar meu emprego. Comecei a jogar poker através de uns amigos, fui conhecendo um pouco mais sobre o jogo e me apaixonei pela profissão de dealer, que é muito boa, muito digna. Fiz o curso e acabei sendo chamado para os torneios no meu estado, o Piauí, e depois em outras capitais do Nordeste".
Foi em um desses eventos que ele ficou sabendo que poderia participar da primeira edição da Brazilian Series Of Poker em Pernambuco.
"Em um torneio que aconteceu em Fortaleza fizeram uma lista com 20 dealers, para sortear aqueles que trabalhariam no BSOP Recife. O único nome que não foi sorteado foi o meu... Só que eu já tinha comprado passagem, já tinha acertado os detalhes da minha hospedagem. Então resolvi ir para o torneio, sem garantia nenhuma de que iria trabalhar. Eu queria conhecer o evento, o torneio e muitas pessoas que eu só conhecia pela televisão. Pensei comigo mesmo: "eu vou, se der certo, deu. Se não der certo, pelo menos vou conhecer várias pessoas legais".
O acaso acabou ajudando Felipe a realizar o maior sonho de sua nova carreira profissional. Um dos dealers contratados para o evento acabou ficando doente e deu chance para quem teve a coragem e determinação para estar no lugar certo, na hora certa.
"Fui para a entrada do hotel, fiquei sentado lá fora, com todos os dealers uniformizados e eu de calça jeans e camisa, não queria entrar na sala dos dealers porque não tinha sido convocado", confidenciou Felipe emocionado. "Mas a organização ficou sabendo que estava lá e acabou me oferecendo a oportunidade de trabalhar. Eu fui, meu primeiro BSOP! Logo no primeiro dia do evento já me chamaram para dar cartas no torneio de Omaha, não tinha nem entrado em um salão de BSOP na minha vida... Cheguei na porta e não acreditei. Sentei na mesa, rendi o colega, e sendo bem sincero, minha mão tremeu no começo! Depois veio a tranquilidade, vi que era realidade e que agora só ia depender de mim".
Luis Esperanço (BSOP)Felipe Cardoso
O que chama atenção na história do Felipe é que seus ídolos no esporte são outros... Mesmo com a oportunidade de conhecer jogadores famosos que estavam presentes no evento, como o campeão mundial André Akkari (Team PokerStars), ele tem como referências seus companheiros de profissão, que passou a admirar depois de muito tempo acompanhando os torneios na TV e na internet.
"Eu sou muito fã do Tininho (Nilton Vieira, um dos dealers mais antigos na equipe do BSOP), que só conhecia pela televisão. Quando cheguei, logo no primeiro dia, já dei de cara com ele. Na minha cabeça parecia que ele não existia de verdade! Ele ficou do meu lado, conversou, parou no salão para tirar foto comigo! Desde que eu comecei a dar cartas eu assisto muito poker na televisão e nas transmissões pela internet. Acompanhava o Tininho, a Ruth (Vianna), o (Daniel) Gatão e o Zang (Bruno Padilha), os quatro que eu mais acompanhei na minha trajetória até hoje, eles são um espelho para mim. E eu reconheci você pela voz que sempre vi nas transmissões da ESPN, assisto sempre. Quando você estava do meu lado, não olhei nem o crachá, mas já pensei: "É o Sérgio Prado, é a voz do cara da TV"!
Ter a coragem para mudar nunca é fácil, principalmente quando as condições são adversas. Mas depois que conheceu o poker, Felipe só se imaginava trabalhando com o esporte que aprendeu a amar.
"Eu costumo falar que uma pessoa do interior do Piauí não tem muitas oportunidades se comparado com as outras pessoas dessa área, porque os centros principais são São Paulo e Rio de Janeiro. Mas ter chegado aonde cheguei, vindo de onde eu vim, não sei nem o que falar... Nunca imaginei que isso aconteceria na minha vida. Muitas pessoas me criticaram, acharam que eu era louco por ser formado e largar meu emprego fixo para viver do poker. Mas eu só posso ser feliz trabalhando no que eu quero. E isso para mim não é um trabalho, é a minha felicidade! Eu venho trabalhar todo dia com um sorriso no rosto".
Confesso que quando ouvi a história também fiquei emocionado. Mas não chorei... Sorri, assim como o Felipe, por ter recebido uma lição de vida, humildade e determinação. E torço para que o poker continue criando histórias fantásticas como essa, dentro e fora das mesas!
Sérgio Prado
Trilha Sonora do dia: "Grimspound", Big Big Train
Facebook: Sérgio Prado
Twitter: @seprado
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