Fraco, covarde, prolixo, comunista: o que faz sentido nas críticas a Tite após 5 anos de trabalho?
Em 56 jogos, foram 42 vitórias, 10 empates e apenas 4 derrotas nos 5 anos da seleção brasileira comandada por Tite. Um incrível aproveitamento de 81% dos pontos disputados que tornam no mínimo contestáveis as críticas feitas ao técnico da seleção.
Vale a breve recapitulação: Tite substituiu Dunga na 7ª rodada das Eliminatórias da Copa 2018, quando a seleção, no 6º lugar, somava 9 pontos em 6 jogos. Dali pra frente, mesmo sem alterações substanciais no elenco que era convocado por Dunga, venceu 10 jogos e empatou 2, encerrando o torneio na liderança com 10 (!) pontos sobre o vice-líder Uruguai.
No Mundial da Rússia, a queda contra a ótima Bélgica nas quartas-de-final se deu em um jogo no qual o Brasil finalizou 27 vezes (9 no alvo) contra 9 finalizações (3 no alvo) dos europeus. Não significa dizer que Tite não pudesse ter feitos outras escolhas (podia), mas vale nos perguntarmos se um jogo com aquele roteiro deveria bastar para invalidar seu trabalho.
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Excluídos os amistosos, vieram então o título da Copa América de 2019, um aproveitamento até agora de 100% em seis jogos nas Eliminatórias da Copa de 2022 e um bom início na atual edição da Copa América. Até mesmo a alegação dos maus resultados contra europeus é contestável: em 8 confrontos até hoje, foram 6 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota (justamente para a Bélgica) contra equipes do velho continente.
São todos fatos, objetivos e, ainda que no futebol um ou outro resultado possa não representar o que se passou em campo e possa não ser necessariamente consequência de um bom trabalho, isso não se aplica quando tratamos de um recorte com mais de 50 partidas.
Que técnicos de futebol no Brasil sofrem cobranças e pressões exageradas não é novidade. E se isso já ocorre com qualquer técnico, é compreensível que o da seleção brasileira sofra em dobro num país onde a relação conflituosa entre clubes e seleção é maior do que em qualquer outro lugar.
A seleção de Tite não é brilhante, de acordo. Mas qual é? A França, hoje com um elenco até superior ao do Brasil, venceu a última Copa do Mundo (e segue jogando) com uma estratégia que, se utilizada pelos clubes brasileiros mais poderosos, geraria críticas de quem acredita que o mérito, no futebol, advém da posse, da imposição, do domínio territorial.
Portanto, mesmo quem não gosta de como joga a seleção brasileira precisa admitir que suas boas campanhas não são frutos do acaso, mas de uma ideia de jogo, de solidez, de consistência e, talvez, também do que muitos consideram (justificadamente ou não) excesso de prudência de seu treinador.
Em um torneio curto como a Copa do Mundo, Tite poderia ter levado mais em consideração as respostas positivas que teve ao fazer substituições nas fases iniciais. Tite poderia ter aproveitado seu imenso prestígio no início do trabalho para tentar antecipar, ainda em 2018, o que parece (parece!) ser um Neymar mais focado e responsável de 2021.
Bem menos relevante, Tite poderia até repensar a forma de se comunicar, ser menos prolixo e usar menos termos técnicos para falar diretamente aos torcedores, não precisando assim de “intérpretes”. Ao aceitar a seleção, lá atrás, Tite não precisaria ter cumprimentado com beijo o mesmo Marco Polo Del Nero que pouco antes criticava. Tite não precisaria ter ameaçado contestar a Copa América no Brasil se era para as coisas terminarem como terminaram.
Elogiar o que Tite fez em cinco anos de seleção brasileira não significa aprovar todas suas atitudes e decisões. Mas dizer que seu trabalho é ruim, hoje, soa quase tão bizarro quanto chamá-lo de comunista.
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