O pior do futebol. E de nós
E lá se vão mais de dois meses desde que o Brasil começou, ainda que aos trancos e barrancos, entre reiterados surtos de negacionismo, a suspensão de aulas e atividades de serviços e comércios não essenciais para tentar conter a propagação da Covid-19.
Também já se passaram mais de dois meses desde que foram disputadas as últimas partidas de futebol em campeonatos oficiais pelo país.
Se havia, porém, alguma esperança de que essa interrupção forçada em meio a um período tão triste da nossa história pudesse trazer aos protagonistas do nosso futebol qualquer tipo de reflexão capaz de alterar seus padrões de comportamento, essa esperança já era.
Basta constatar, ao consultar qualquer canal com o noticiário relacionado ao futebol brasileiro nos últimos 70 dias, que, com raras exceções, o período da pandemia só serviu para escancarar nossas inúmeras mazelas:
> escancarou a intenção de certos clubes e o caráter de certos dirigentes cujos interesses econômicos se colocam acima de absolutamente tudo, incluindo vidas humanas;
> escancarou as dívidas daqueles que, por ficarem um único mês sem receitas de torcida ou TV, já não tinham recursos para pagar suas dívidas, salários de funcionários ou até contas mais básicas como luz e água;
> escancarou a velha tática de certos cartolas que, sem um centavo no banco, devendo para Deus e o mundo, apostam em contratações surreais para tentar ocultar (e na prática agravar) a crise;
> escancarou o modus operandi dos que se aproveitam de qualquer brecha, ainda que às custas de mais de 22 mil mortes, para estreitar laços com políticos visando, é claro, benefícios adiante;
> escancarou a alienação e a ignorância da maioria dos jogadores de primeiro nível do futebol brasileiro, que, mesmo com recursos mais que suficientes para deixar essas condições para trás, não mostra a mínima intenção de fazê-lo;
> escancarou a falta de união e posicionamento dos treinadores que, supostamente mais preparados para se posicionar contra o absurdo proposto por alguns dirigentes, preferem silenciar;
> escancarou todos os “torcedores de cartolas” do Brasil que, cegados pelo suposto “amor ao clube”, são incapazes de ver o quanto dirigentes de futebol podem causar danos em seus próprios clubes e torcedores;
> escancarou a dependência e subserviência da CBF em relação às federações estaduais e seus campeonatos, cujos cancelamentos ou pelo menos adaptações para 2021 não são nem sequer cogitados como opção para resolver a questão do calendário;
> escancarou também parte da imprensa esportiva, que, com menos material sobre o qual trabalhar, apela para não-notícias na tentativa de manter uma relevância ou audiência que, nessas condições, é impossível manter.
Mais de dois meses já se foram desde que passamos a ser bombardeados com propagandas de todo tipo de produto, de margarinas a bancos, nos garantindo, através da voz mansa de serenos locutores, que “tudo isso vai passar”.
É só uma meia verdade.
O vírus vai passar. O resto, pelo menos no futebol, seguirá como sempre.
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Fonte: Gian Oddi
O pior do futebol. E de nós
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