É grave (e arriscado) o que está acontecendo com o Palmeiras
Primeiro é bom relembrar: o cenário relatado abaixo refere-se ao time que venceu dois dos últimos três Campeonatos Brasileiros. Ao time que conquistou três títulos relevantes desde 2015, um ano depois de escapar por pouco do rebaixamento para a segunda divisão.
Trata-se, portanto, de um clube cujo trabalho de reestruturação, constatado não apenas pelos resultados desportivos, é inquestionável.
Esse cenário, de completa reorganização e recuperação do Palmeiras nos últimos cinco anos, torna ainda mais absurda e incompreensível a reação da torcida organizada "Mancha Alvi Verde" no último sábado, na porta do centro de treinamento do time, assim como já havia ocorrido após a eliminação nos pênaltis durante o último Campeonato Paulista.
Até aí, nenhuma novidade. Buscar bons argumentos para compreender a truculência e ignorância deste e de outros grupos similares é missão natimorta, e os constrangedores “comunicados oficiais” emitidos por seus líderes deixam claro que qualquer esforço nesse sentido seria em vão.
O problema do Palmeiras é outro.
O principal problema do Palmeiras, de uns tempos para cá, é o estreitamento das relações entre os responsáveis pelas cenas bizarras vistas no último sábado e aqueles que comandam ou ainda virão a comandar o clube.
Na semana passada, numa reunião extraordinária, o Conselho Deliberativo do clube não titubeou ao decidir pela suspensão de Genaro Marino, conselheiro e candidato à presidência palmeirense na última eleição, por ter levado, supostamente com intenções eleitoreiras, uma proposta (de fato bizarra) de patrocínio às vésperas do último pleito.
O ex-presidente Paulo Nobre, ligado a Genaro Marino, recebeu uma advertência pelo mesmo caso, apelidado de “caso Blackstar”, e por ter sido submetido a esse processo de sindicância resolveu renunciar ao seu cargo no Conselho Deliberativo.
Não vale aqui entrar nos méritos deste caso e das punições aplicadas, possivelmente corretas. Mas chama atenção que o mesmo rigor utilizado para tomar decisões nesse episódio não seja aplicado, por exemplo, aos conselheiros palmeirenses indiscutivelmente ligados à liderança da "Mancha Alvi Verde".
O Palmeiras tem hoje em seu quadro de diretores estatutários, nomeados pelo presidente, alguns nomes ligados à organizada – se não mais formalmente, ao menos com relação de proximidade, como se nota numa breve passagem por suas redes sociais.
Além disso, Paulo Serdan, presidente da escola de samba "Mancha Verde" e ainda figura das mais influentes da organizada, também famoso por sua irresponsável intempestividade nas redes sociais após qualquer derrota palmeirense, é muito próximo a Leila Pereira – conselheira mais votada, patrocinadora e futura candidata (favorita) à presidência do clube.
Como se vê, o distanciamento entre o Palmeiras e sua principal torcida organizada, que havia sido imposto por Paulo Nobre durante sua gestão, já não existe faz tempo. E mesmo após episódios como o de sábado as manifestações do clube nesse sentido têm sido muito discretas – uma breve nota no site, neste caso.
Depois de tudo que tem ocorrido, convenhamos, não caberia outro caminho ao Palmeiras que não brecar completamente a influência e os privilégios da "Mancha Alvi Verde" dentro do clube. Mas isso não ocorre.
Por que? Política e medo são provavelmente as melhores respostas.
A estreita relação entre Leila Pereira – principal patrocinadora não só do Palmeiras como da escola de samba "Mancha Verde" – e Paulo Serdan evidentemente não ajuda para que o presidente Maurício Galliote, também muito ligado a Leila (mas nem por isso poupado das ofensas da "Mancha Alvi Verde"), atue com mais firmeza diante dos absurdos protagonizados pela organizada. Para que se tenha uma ideia do problema: há no Palmeiras quem tema ver Paulo Serdan como um dos vice-presidentes de Leila Pereira em seu eventual mandato.
Há, por outro lado, conselheiros que gostariam e até ameaçaram agir, mas que não o fazem temendo por sua integridade física se iniciarem, em relação aos nomes ligados à "Mancha Alvi Verde", um processo interno similar (embora por razões diferentes) ao que foi iniciado para apurar o envolvimento de Genaro Marino no “caso Blackstar”. Sejamos justos: é preciso entender esse temor, considerando o modus operandi daqueles que estariam envolvidos nas investigações.
E assim caminha o Palmeiras: recuperado dentro de campo. Recuperado financeiramente. Recuperado em suas categorias de base. Mas vivendo uma turbulência incompreensível e incompatível com o desenvolvimento dos últimos anos e com sua situação atual nos mais diversos aspectos.
Mauricio Galliote faz até aqui uma gestão competente para dar prosseguimento ao processo de recuperação iniciado por Paulo Nobre e somando a ele, por seus próprios méritos, vitórias importantes como o significativo aumento de receitas de televisão decorrente de árduas e desgastantes negociações.
Porém, se não agir rápido e com vigor, Galliote poderá ser lembrado no futuro como o presidente que abriu a porta do Palmeiras para que figuras desequilibradas e despreparadas assumissem o futebol do clube que ele mesmo ajudou a recuperar.
Seria um desastre, e não é preciso explicar as razões.
Porque o trabalho de recuperação de um clube de futebol costuma ser longo. Mas para destruir tudo podem bastar poucos meses.
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Fonte: Gian Oddi
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