Palmeiras, Nobre, Mustafá e Crefisa: méritos e perigos que muitos não querem enxergar
O Palmeiras não depende do dinheiro da Crefisa, nem do dinheiro de Paulo Nobre, e não vive de "mecenato". O Palmeiras, contudo, corre riscos pela maneira como se comporta institucionalmente para agradar sua generosa patrocinadora.
Embora ambas as frases, não excludentes, sejam óbvias para quem acompanha o dia a dia do clube nos últimos 5 anos, elas continuam a ser negadas — com veemência — por lados "opostos".
Há aqueles que se recusam a ver a evolução do clube em praticamente todos os seus segmentos nos últimos anos, assim como existem os que preferem fazer vistas grossas aos privilégios indevidos oferecidos à patrocinadora, personificada em sua presidente, Leila Pereira.
Estudos e reportagens publicados nestas duas últimas semanas, contudo, tornam mais complicada a missão daqueles que se recusam a enxergar o óbvio.
Comecemos com o estudo divulgado pelo Itaú BBA no último dia 20, que conclui, textualmente: "se o patrocinador deixasse o clube e os valores voltassem a patamares de mercado, a capacidade de investimentos diminuiria, mas não tornaria o clube inviável... o Palmeiras se coloca como um dos líderes no processo de organização da estrutura do futebol e candidato a permanecer na disputa por todos os títulos que disputar".
É inegável que os empréstimos feitos pelo ex-presidente Paulo Nobre, caminho longe do ideal para que um clube de futebol resolva seus problemas financeiros, foram determinantes para o Palmeiras chegar à boa situação relatada pelo estudo do Itaú BBA.
É importante, porém, ressaltar que as condições de tais empréstimos, a juros baixos e com contratos que impedem qualquer tipo de ônus futuro ao clube (pelo contrário, como mostra matéria do Diário Lance!), não deixam o Palmeiras numa situação de suscetibilidade ou dependência em relação ao seu ex-presidente — algo admitido até mesmo por seus opositores, embora o atual presidente, Maurício Galiotte, esteja se esforçando para quitar a dívida rapidamente.
Devido à personalidade de Nobre, intransigente, avesso a escutar até mesmo os mais próximos e, para muitos, "mimado", foi essencial para o Palmeiras que os acordos fossem firmados como foram, sem permitir que, num eventual acesso de irritação ou rompimento com a gestão seguinte (que de fato veio a ocorrer), ele pudesse onerar o clube de alguma forma.
Fato é que, no período de sua gestão, o Palmeiras estancou a sangria com seu empréstimo, mas soube trabalhar, paralelamente, para estruturar o clube e seu departamento de futebol (da base aos profissionais), além de aumentar as receitas significativamente sem depender de uma fonte única — o propagado patrocínio respondeu por não mais que 19% das receitas de 2016, quando o time se sagrou campeão brasileiro, um ano após o título da Copa do Brasil.
No cenário atual, já estruturado e com receitas significativas variadas (patrocínio, bilheteria, sócio torcedor, novo acordo de televisão, venda de produtos...), a Crefisa, principal patrocinadora do Palmeiras, tomou as manchetes por seus investimentos vultosos e, como admitiu seu dono, José Roberto Lamacchia, ao blog de Mauro Cezar Pereira, acima do valor de mercado.
Receber muito dinheiro não é, evidentemente, o problema do Palmeiras em relação à Crefisa. Afinal, qual deveria ser a postura dos atuais dirigentes do clube? "Seu Lamacchia e Dona Leila, infelizmente não podemos aceitar um patrocínio assim, com tanto dinheiro, desculpem-nos". A reação soaria bizarra e insensata, não apenas no Palmeiras, mas em qualquer clube de futebol.
A Crefisa tem o direito de gastar quanto dinheiro entender ser necessário para tornar o time competitivo, trazendo assim resultados desportivos que aumentarão a exposição de sua marca. E o Palmeiras, desde que cumprindo todas suas obrigações fiscais e legais, tem o direito de recebê-lo.
A questão a ser debatida, portanto, não deveria ser focada no montante de dinheiro investido pela patrocinadora, mas no motivo do investimento. E é neste ponto que não podem ser ignoradas as duas matérias publicadas nesta semana pelo repórter Danilo Lavieri, do UOL Esporte: "Palavra de Mustafá permitiu Leila ser conselheira" (fechada para assinantes) e "Parecer jurídico questiona ação de Mustafá, que avalizou Leila no conselho".
Lavieri teve acesso a documentos que demonstram, sem deixar margem a dúvidas, ter havido um único motivo para que Leila Pereira tivesse alterada a data de sua associação ao clube (de 2015 para 1996!): o pedido de Mustafá Contursi. Graças à ação do ex-presidente e poderoso conselheiro, Leila pôde concorrer nas eleições ao conselho palmeirense — e foi eleita com votação recorde, em fevereiro. Em outras palavras, ignorou-se o estatuto de um clube centenário.
O Palmeiras e Mustafá Contursi, mesmo diante das evidências apresentadas pela reportagem, preferiram não dar explicações sobre o caso à reportagem do UOL Esporte.
Mas deveriam fazê-lo.
Porque há coisas que o dinheiro não compra. Ou, pelo menos, não deveria comprar.
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