Review: Madden 20 tem uma mudança que mais melhorou o gameplay em anos
Já é frequente aqui no blog a menção a "vale a pena comprar se o jogo é anual e muitas vezes parece apenas uma atualização de elencos?". Praticamente todo lançamento esportivo que tivermos eu vou acabar mencionando isso porque, bem, é o que importa para você que está lendo: saber o custo de oportunidade e se as mudanças – fora os elencos – são suficientes para gastar 250 reais num jogo novo.
Antes disso, preciso endereçar algumas coisas. Para começar o timing deste review: o Madden 20 já está disponível há algumas semanas mas estou soltando a revisão apenas agora. Preguiça? Não, claro que não. Mesmo tendo o tempo corrido, o Madden é uma prioridade para mim há muito tempo (até por ter sido uma imensa ferramenta de aprendizado tático do jogo). A questão é que não queria fazer uma revisão sem realmente jogar o negócio. Nem fazer uma revisão por cima só passando pano ou algo do gênero. Até porque para saber se realmente o jogo vale a pena é essencial que eu tenha algumas horas de jogo. Para complicar, houve alguns patches importantes desde o lançamento – então este é o review "definitivo", por assim dizer.
Agora, posso dizer que tenho essas horas de jogo para escrever aqui. Se você preferir vídeos a texto, fiz dois sobre o jogo, aliás: um com uma live de apenas gameplay – não falo em cima – e outro com uma revisão dos modos de jogo, as mudanças e o que você pode esperar de novidade para a versão 2020 do game. Abaixo, a live-review.
Aqui, a live só com gameplay entre Steelers e Patriots – que é o primeiro Sunday Night Football do ano.
Feito isso, vamos à análise.
A mudança que pode fazer você colocar a mão no bolso
Há algum tempo a comunidade de Madden percebeu uma coisa interessante: se você perdia um quarterback titular (ou apenas estava de saco cheio dele) poderia facilmente substituí-lo com um reserva aleatório e seu time não sofria tanto assim. Num esporte com teto salarial rígido e mudança frequente na balança de força por conta de uma decisão boa ou ruim na free agency e no Draft, não fazia sentido. Vou dar um exemplo de como isso é danoso: há muitos anos eu joguei um franchise mode no qual troquei Eli Manning por três escolhas de primeira rodada – pegando um calouro no ano seguinte. O baque, considerando que Eli estava no auge lá pelos Madden 09 – não foi tão sentido.
Ainda, no ano passado, fiz um longo franchise com os Patriots e, inevitavelmente, Tom Brady se aposentou. Acabei por substituí-lo pelo péssimo Brad Kaaya (que jogou marromeno no College em Miami e olhe lá). Mesmo que Kaaya tenha um braço absurdamente fraco para os padrões da NFL, isso não afetou meu jogo e... A Dinastia seguiu. Não faz sentido ser tão fácil assim, né?
Pensando nisso, alguns membros da comunidade do Madden faziam elencos (roster) com maior diferença entre o rating de grande jogadores e jogadores mais "normais". Confesso que já havia experimentado uma vez ou outra, mas a zona de conforto me impedia de fazer a mudança definitiva. Agora, não tem mais jeito: a própria EA fez a mudança de maneira que há "baques" claros no rating de jogadores bem conhecidos. Em outros anos, Patrick Mahomes – capa do jogo – seria 99 de overall. Neste ano, é 97.
Lembra o Eli que eu disse acima? Ele está no fim de carreira e não produz bem há algum tempo. Em outros tempos, dificilmente Eli Manning estaria muito longe da casa dos 80. Neste, é 72. Daniel Jones, seu reserva imediato, é 68 – mesmo sendo escolha top 10 do Draft, o que costumava impulsionar os status de calouros. A vida agora no Madden é assim: se você perder seu titular, alta possibilidade de se lascar, para não dizer outra coisa. Diga-se de passagem, é o que acontece na vida real.
Essa diferença entre os ratings fez com que o gameplay ficasse mais realista do que em anos. Sério, não é exagero: bastou isso para que a versão 2020 do jogo ficasse mais próxima do que acontece na vida real. Mas não foi apenas isso que mudou.
Mais uma ideia importada de outros jogos: o "poder especial"
É cada vez mais frequente a incorporação de conceitos de RPG nos modos franchise em games como Madden, NBA 2k e outros. Afinal de contas, o próprio nome do sistema diz: role play. Se você tem um método para evoluir os atletas como se estivesse num RPG, a coisa fica mais fiel à realidade – até porque as métricas de um RPG são apenas representações de habilidades tal qual pode ser medido em praticamente qualquer coisa da vida. Por exemplo, numa escala de 0 a 10, meu humor está 5, hoje. Se eu acabar vendo uma comédia, "ganho XP" nisso e o status vai aumentar.
Neste ano, o Madden recuperou um conceito antigo que havia sido retirado do game – as habilidades especiais, presentes no meio da década passada na geração PS2/XBox/GameCube. Elas já estão presentes no NBA 2k, vale lembrar. Em resumo, se você joga bem, seu atleta fica "in the zone" e praticamente imparável – experimente fazer várias cestas de 3 com Steph Curry no 2k e veja o que acontece. É o mesmo da vida real.
Então, para diferenciar ainda mais as estrelas de jogadores comuns, a EA introduziu dois conceitos: o Superstar e o Superstar X-Factor. Se você fizer boas temporadas com um dado jogador no franchise mode, ele pode ganhar um dos dois. O primeiro é menos apelão: certas coisas são feitas melhores do que outros jogadores o fazem. Exemplo: Tarik Cohen, que é superstar, tem uma animação de corte (juke) mais rápida do que a de outros atletas. Isso é refletido no jogo. Agora, o Superstar X-Factor, meu amigo, é quase que a Tela Branca do Akuma no Street Fighter. Esse é o conceito de outros games que o Madden importou, no caso específico, os de luta: a barrinha do especial.
Se você consegue passes longos com Patrick Mahomes, ele entra in the zone e vira um super-sayajin praticamente – passando a bola até 15 jardas mais longe do que o normal. Tom Brady já tem naturalmente o "poder" de ter mais rotas para jogar com (veja na live de gameplay que fiz) e, se você ficar "in the zone", ele fica com o "poder" do jogo avisar qual recebedor está livre. Odell Beckham Jr, vide abaixo, vira o Diabo da Tasmânia quando tem a bola em mãos após a recepção.
Mermao o Odell ta mt apelao em run after catchhttps://t.co/zXHfWmoU5J pic.twitter.com/JJZW7E8Yxx
— Antony Curti (@CurtiAntony) September 2, 2019
A parte ruim é que o cara fica absurdamente apelão. Mesmo. Nesse jogo que fiz o vídeo acima, Odell teve 350 jardas. Eu basicamente só passei a bola para ele. Então é algo a se pensar por parte da EA, tentar balancear um pouco, nem que seja de leve, para que ainda faça sentido com a realidade.
Nem tudo são flores
O que impede uma "nota máxima" deste review são as inevitáveis comparações com o NBA 2k. Embora ambos sofram do mal do século chamado pay-to-win em forma de Ultimate Team, ao menos o MyLeague (equivalente ao franchise mode do Madden) é muito mais completo. Das opções de customização de uniformes e arenas até mesmo a possibilidade de contratos de forma que faça sentido com a realidade. Vou dar um exemplo: quando você assina um contrato na NFL, raramente todos os anos tem valores iguais. Você pode colocar mais dinheiro no início, para um jogador mais velho – o chamado front loaded. Ou, então, no final – quando terá mais espaço na folha, o chamado back loaded. No NBA 2k você pode fazer isso. No Madden, não.
Ainda faltam inúmeras opções no franchise e isso é bem frustrante. O "encontrar troca", tão útil no NBA 2k, não existe no Madden (basicamente você tem que fazê-las na raça). De toda forma, isso não quer dizer que o modo seja ruim: a incorporação dos "arquétipos", bem ao estilo RPG, fez todo sentido e deu nova alma ao jogo. Você não vai evoluir a velocidade de Tom Brady se ele é um passador de dentro do pocket, por exemplo. Então, ao ganhar XP, você tende a melhorar atributos que façam jus ao estilo (leia-se: "role", para fins de RPG) dele. É como as classes no RPG, basicamente.
Houve praticamente uma única adição ao franchise mode – e nem vou falar em Pro Bowl, pelo amor de Deus. Agora, há certos diálogos que aumentam a possibilidade de dar mais XP para uma dada situação. Isso de certa forma já acontecia no FIFA: o jogador vem cobrar tempo de jogo, você coloca ele e se ele jogar bem ganha mais experiência. Ainda, os contratos (valores, em específico), estão mais difíceis de serem assinados. Isso é bom. Mas ainda falta muita coisa para ser arrumada no franchise. Até pelas inevitáveis comparações com o 2k.
Sai Longshot, entra QB1
A possibilidade de um modo carreira não é novidade no Madden. É uma das muitas coisas que foram retiradas do jogo e adicionadas como novidade agora. A diferença é que no PlayStation 2 você podia jogar com qualquer posição. Agora, só quarterback. A mudança é bem-vinda em relação ao Longshot (a versão Madden de Alex Hunter, do FIFA), que praticamente era um filme interativo digno de SEGA CD (embora menos polêmico que Night Trap, veja referências depois).
Você escolhe para qual college vai e entra substituindo o titular nas semifinais do College. Basicamente, joga apenas duas partidas – não há todas as universidades disponíveis, só algumas, mas ainda assim é uma saborosa lembrança do antigo NCAA Football, também da EA Sports. Depois, Combine... Draft... E pum! O modo vira um franchise como jogador – algo que já existia no Madden antes. Então, na prática, a mudança foi pequena e em algumas horas você se vê de volta ao modo antigo. Para ser sincero, eu matei isso em duas horas e nem quis jogar mais, voltei ao modo carreira de time como um todo.
Compro agora, espero promoção, o que faço?
A mudança no gameplay foi maravilhosa e bem-vinda, como disse. Fez com que eu voltasse a ter a vontade de jogar Madden como nunca antes – pelo jogo em si, não as perfumarias de franchise mode e ultimate team. Então, valeu a pena ter o jogo desde o início de agosto por conta disso. Mas... Ainda falta muito. Alguns reviews vão falar sobre "o jogo estar na direção certa" ou "é o melhor Madden em anos". Isso é verdade. Mas, ao mesmo tempo, não vale o preço cheio de um lançamento triple A, os salgados 250 reais.
Até porque um patch baixável da versão 2019 poderia adicionar boa parte das coisas que falei acima. E você não precisaria gastar tanto. Embora outros jogos façam mais sentido com a orientação "espere promoção", a temporada da NFL é curta demais para isso. Então é uma escolha difícil. Se eu fosse você, esperaria um pouco para não pagar o preço cheio. Dito isso, é, sim, o melhor Madden em anos. Só esperamos que o final da geração PlayStation 4/Xbox One ainda possa ver um Madden mais completo – em especial no franchise mode, renegado em favor da máquina de fazer dinheiro chamada ultimate team.
Recomendação: Espere promoção (mas não por muito tempo, porque a temporada da NFL é curta!).
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Review: Madden 20 tem uma mudança que mais melhorou o gameplay em anos
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