Abaixo da meta, Brasil tem motivo para comemorar desempenho na Paralimpíada?

Thiago Cara, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br
Cleber Mendes/MPIX/CPB
Daniel Dias, ao lado de Andrew Parsons, durante Jogos Paralímpicos do Rio 2016
Daniel Dias, ao lado de Andrew Parsons, durante Jogos Paralímpicos do Rio 2016

Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), definiu como "a melhor da história" a participação do país nos Jogos do Rio 2016. A delegação, contudo, ficou abaixo da meta estabelecida pela própria entidade e ainda teve classificação final inferior a Londres 2012.

De fato, é possível ver o copo cheio e vazio para analisar o desempenho brasileiro nestas Paralimpíadas. No Rio, o país conquistou 72 medalhas, 25 a mais do que seu antigo recorde, em Pequim 2008; mas apenas 14 de ouro, abaixo do desempenho nos dois últimos Jogos.

Para o bem ou para o mal, a performance brasileira foi obtida com a maior delegação da história em uma edição do evento, com 287 atletas; recursos financeiros recorde, com mais de R$ 300 milhões investidos; e, claro, em casa, diante de um público que superou expectativas.

Bom ou ruim?

A classificação final do Brasil no quadro de medalhas foi o oitavo lugar, com 14 medalhas de ouro, 29 de prata e 29 de bronze. A Austrália, que fechou o almejado top 5, ficou bem acima no número de vezes que subiu no lugar mais alto do pódio, com 22 (teve mais 30 pratas e 29 bronzes).

Ainda ficaram acima da delegação brasileira a Alemanha, sexta colocada, com 18 ouros, 25 pratas e 14 bronzes; e a Holanda, sétima, com 17, 19 e 26, respectivamente - no total de medalhas, o Brasil superou esses dois países, mas seguiria atrás da Austrália (72 a 81).

Um dos motivos para o comitê brasileiro comemorar o resultado na Rio 2016 foi o fato de que o país ganhou medalhas em 13 modalidades diferentes, enquanto em Londres 2012 - quando o Brasil acabou em sétimo na classificação geral - foram apenas sete.

Todos os esportes que subiram ao pódio estavam entre os 15 contemplados pelo Plano Brasil Medalhas - lançado em 2012 justamente para que as delegações do país (olímpica e paralímpica) atingissem suas metas. Só atletismo, bocha, futebol de 5 e natação, porém, ganharam ouros.

Outro fato que o CPB comemora é que o Brasil saltou de 42 medalhistas em Londres, para 113 no Rio - incluindo os times de esportes coletivos. Segundo Parsons, o salto foi de 23% do total da delegação subindo no pódio há quatro anos para 39% em 2016.

Astros em baixa

Na metade vazia do copo está o desempenho de alguns atletas que chegaram ao Rio como grandes esperanças de medalha, mas decepcionaram. Alan Fonteles, por exemplo, foi ouro em 2012 batendo o astro Oscar Pistorius e, em 2016, não chegou sequer a uma final individual.

Terezinha Guilhermina, que conquistou dois ouros há quatro anos, também amargou decepções, com direito a duas desclassificações nas provas em que defendia o título. Saiu do Rio com duas medalhas: prata no revezamento e um bronze nos 400m T11, sua única láurea individual.

Friedemann Vogel/Getty Images
Terezinha Guilhermina saiu do Rio sem ouros
Terezinha Guilhermina saiu do Rio sem ouros

Na natação, André Brasil defendia três medalhas de ouro conquistadas em Londres, mas também não conseguiu voltar ao lugar mais alto do pódio. Faturou duas pratas (sendo uma no revezamento 4x100m 34 pontos) e dois bronzes (sendo um no revezamento 4x100m 34 pontos).

Entre os nadadores, o único a conseguir subir no lugar mais alto do pódio foi Daniel Dias, com quatro ouros - ainda assim, dois a menos do que em Londres. Outros que confirmaram o favoritismo foram a seleção de futebol de 5 e Silvania Costa, do salto em distância T11.

Jovens faturam 15 medalhas

Se nomes de peso não tiveram o rendimento esperado, jovens despontaram como boas esperanças para melhor o desempenho do Brasil em Tóquio 2020. Do total de medalhas, 15 vieram com atletas abaixo de 23 anos, idade que permite mais duas ou três Paralimpíadas.

O maior destaque foi Petrucio Ferreira, que, com apenas 19 anos, conquistou medalhas nas três provas que correu, sendo uma de ouro e duas de prata. "Fiquei sabendo que ele começou correndo descalço. Quando deram um tênis para ele, voou", brincou Daniel Dias.

Marcio Rodrigues/MPIX/CPB
Petrucio Ferreira, 19, conquistou três medalhas no Rio
Petrucio Ferreira, de 19 anos, conquistou três medalhas nos Jogos Paralímpicos do Rio

"Fator Rússia" e desconhecidos

A exclusão da Rússia, uma das maiores potências paralímpicas, abriu espaço para que mais países pudessem almejar medalhas tradicionalmente ganhas pelo país europeu. O Brasil, contudo, não conseguiu herdar nenhum ouro que foi russo em Londres 2012, ao contrário de seus rivais.

Há quatro anos, a Rússia conquistou 36 medalhas, a maioria no atletismo e na natação. O CPB diz ainda querer avaliar a questão mais a fundo, mas crê que Austrália e Alemanha herdaram ouros. "Por mais que tenham tirado um (rival), talvez, tenham trazido mais dois", disse Parsons.

Outra questão que impactou no não cumprimento da meta, segundo o time brasileiro, foram as estratégias usadas por Ucrânia e China, que dominaram os pódios na natação com atletas "desconhecidos", que não participaram da maioria das competições do ciclo paralímpico.

"Não acho correto esconder seus atletas", reclamou Parsons. "Se tivéssemos essas informações, talvez, revíssemos a meta. Essas circunstâncias fazem com que a projeção não seja fidedigna, deixamos de ganhar muitas medalhas que estávamos esperando."

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