Quem foi ao Centro Olímpico de Hipismo neste sábado, em Deodoro, ver os brasileiros Doda Miranda, Pedro Veniss e Eduardo Menezes tentarem medalha viu, na verdade, o show do britânico Nick Skelton.

Quem?

Trata-se de um ginete de 58 anos de idade com uma história para lá de curiosa. Entre outras coisas, tem um passado de bad-boy, passou cinco Jogos em branco, já quebrou o pescoço e só subiu a um pódio olímpico em Londres-2012, no salto por equipes.

O auge veio agora. No Rio, venceu uma disputa emocionante no salto individual que, de tão equilibrada, precisou de uma apresentação extra entre seis conjuntos para o desempate.

E Skelton levou. Ele não só foi perfeito de novo, zerando o percurso pela terceira vez no dia, como também foi mais rápido que o sueco Peder Fredricson, de 44 anos, que também se apresentou três vezes sem cometer nenhuma falha. No desempate, o tempo é o primeiro critério.

"Para mim, é o topo da minha carreira. Eu desejei isso por muito tempo, e ganhar agora, na minha idade, é algo incrível", disse o britânico da pequena Bedworth.

À esta altura, Doda, Veniss e Menezes já estavam eliminados há um bom tempo.

Skelton foi a Seul-1988, Barcelona-1992, Atlanta-1996, Athenas-2004 e Pequim-2008, mas sempre saiu de pescoço vazio.

E Sydney-2000? Não foi. Seu cavalo refugou em um obstáculo durante uma apresentação e o arremessou no ar. Quebrou o pescoço em dois lugares. Uma lesão quase fatal na espinha, e os médicos disseram que jamais voltaria a cavalgar.

Voltou. Em 2001, já estava montando.

Pai de dois filhos, Daniel, de 30 anos, e Harry, de 26, ambos envolvidos com hipismo, Skelton já teve de fugir da estão esposa nadando. Durante as férias nas Ilhas Maurício, Sarah desconfiou que ele a havia traído com Bettina Melliger, companheira de um cavaleiro suíço.

Ela o atacou com um soco em cima de um cais, e o hoje dono de duas medalhas olímpicas teve de pular na água para escapar da fúria. Quando voltou, achou o quarto trancado e soube que todas as suas roupas tinham sido jogadas no Oceano Índico. Melliger, curiosamente, virou sua esposa depois.

Em 1991, Skelton foi suspenso por dois meses após ser acusado de dopar o cavalo com o qual competia. Negou e disse que outro rival havia dado a substância a seu animal, mas mesmo assim pagou a pesada multa de 20 mil libras.

Certa vez, em Dublin, na Irlanda, bebeu demais durante uma noite e tomou uma punição do chefe da equipe de hipismo da Grã-Bretanha.

Em outra oportunidade, tentou, bêbado, invadir o quarto de hotel de dois saltadores mais jovens da equipe, o que lhe rendeu uma advertência.

Também tentou ocultar partes de um percurso outra vez para facilitar a vida de sua montaria.

Mas a idade foi chegando, Skelton, acalmando, e os tempos de bagunça ficaram para trás. No hipismo, deu certo. Nesta sexta, chegou ao ápice no Rio. Resta saber se irá a Tóquio-2020.

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