No poder há 21 anos, opositor acusa Nuzman de 'pedaladas'

Marcelo Gomes, especial para o ESPN.com.br
Getty
Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Rio 2016 e do COB
Alaor Azevedo e Carlos Arthur Nuzman: a disputa de poder no COB

Alaor Azevedo é um presidente de Confederação, velho conhecido de atletas, técnicos, amantes e praticantes do tênis de mesa no Brasil. Está no comando da entidade desde 1995, mesmo período no qual seu antes amigo e hoje adversário político, Carlos Arthur Nuzman, está à frente da presidência do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Ambos ultrapassam duas décadas no comando do esporte brasileiro.

Alaor Azevedo - que é médico de formação e já foi diretor administrativo de hospital - traz uma denúncia gravíssima contra o presidente do COB e do comitê organizador dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

AS PEDALADAS DE NUZMAN

Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Nuzman teria deixado de repassar às entidades esportivas uma verba de R$ 410 milhões. Dinheiro angariado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) da arrecadação de patrocínios nacionais e internacionais dos Jogos do Rio. Montante que ajudaria, e muito, a fomentar e desenvolver o esporte nesse momento de grave crise política e financeira.

Segundo Alaor, Nuzman teria feito uma manobra irregular com o dinheiro arrecadado para a Rio-2016. Manobra que, segundo o dirigente, foi realizada para fechar as contas da Olimpíada com um saldo positivo.

Na entrevista exclusiva à ESPN, Alaor chama o procedimento de ilegal e vai além: afirma que a ação de Nuzman foi uma "pedalada" tão grave quanto a que afastou a presidente Dilma Rousseff do governo federal.

E olha que não foi por falta de aviso do TCU (Tribunal de Contas da União).

Entenda o caso que também foi parar na Justiça do Rio de Janeiro. Um prejuízo para o esporte olímpico brasileiro de R$ 410 milhões.

Um legado para o alto rendimento que não houve.

Alaor: duas ações na Justiça contra o COB por prejuízo R$ 410 milhões às confederações com a Rio-2016

Alaor faz parte de um grupo de dirigentes que se perpetua no esporte. De qualquer forma, por causa da Lei Pelé, que foi alterada a partir de 2013 e passou a determinar que os presidentes de confederações esportivas não podem se reeleger por mais de uma vez, Alaor só poderá permanecer no cargo até os próximos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

Nos nossos arquivos, o presidente da CBTM também já teve o seu nome envolvidos em denúncias, como foram apresentadas no programa Histórias do Esporte - "A CPI do tênis de mesa" -, material produzido pelos jornalistas Roberto Salim e Ronaldo Kotscho. Exibida em junho de 2004,  a reportagem revelou suspeitas de corrupção na administração da confederação de tênis de mesa. Denúncias feitas por uma ex-funcionária da CBTM levadas ao Ministério Público e à Polícia Federal.

Entre as irregularidades estava o Projeto "A Grande Sacada".

Relembre o caso.

Histórias do Esporte: 'A CPI do tênis de mesa' de 2004 aponta irregularidades na CBTM 

Passados 12 anos da reportagem com o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Nesa, Alaor não se aprofundou no caso, mas também não fugiu do assunto.

Alaor, sobre a 'A CPI do tênis de mesa' em 2004: 'Fui absolvido em todos os níveis'

Em nova entrevista para a ESPN, Alaor se apresenta com outro objetivo, o de tornar-se pela primeira vez presidente do COB e acabar com a hegemonia de Nuzman, o comandante da entidade que caminha, sem chapa de oposição, para a quinta reeleição consecutiva. Formado em medicina, Alaor agora briga na Justiça para formar uma chapa que o colocaria na luta contra a permanência de Nuzman no poder. Tarefa que está praticamente perdida.

O COB NÃO TEM PROJETO

Nessa entrevista exclusiva, Alaor vai meter a boca no trombone. Vai falar da falta de transparência nas prestações de contas do COB, principalmente na organização dos Jogos do Rio. Vai falar da ditadura e do autoritarismo exercidos pelo comandante do esporte. Das manobras judiciais praticadas constantemente por Nuzman para que ele se reeleja sem dar chances a outros novos dirigentes, gestores ou ex- atletas. Vai falar de desperdício de dinheiro público, da falta de critério na distribuição da verba das loterias para as confederações.

Por que Alaor quer tanto ser presidente do COB? Assista e entenda a manobra na entrevista que vem a seguir.

Alaor explica a manobra para tentar a candidatura e diz: 'Nuzman correria o risco de perder a eleição'

PROVANDO DO PRÓPRIO VENENO

Alaor não pode citar os nomes dos presidentes de confederações que, eventualmente,  o apoiariam em sua candidatura. Muitos têm medo de represália.

Todos sabem que se posicionar contra o sistema imposto há mais de 20 anos no COB pode custar corte de verba e desmoralização junto à direção da entidade e aos velhos apoiadores de Nuzman.

Alguns realmente não abrem mãos dos benefícios e dos agrados declaradamente vistos e conhecidos nos bastidores do comitê.

Aqui,  surpreendentemente, Alaor assume a culpa. Ele é um dos 30 presidentes de confederações que votaram em assembleias passadas no estatuto que é tão polêmico e antidemocrático.

Alaor se diz um dos culpados pela permanência de Nuzman há 21 anos na presidência do COB

DESCULPAS ESFARRAPADAS

Por que Carlos Arthur Nuzman faz manobras políticas e judiciais para permanecer por 25 anos no poder? Alaor Azevedo têm as respostas, inclusive, ouvidas da boca do próprio presidente do COB pouco antes dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Alaor e as 'desculpas' de Nuzman para ficar no COB: 'prestar contas' e 'efeito-Espanha'

TRANSPARÊNCIA ZERO

Nessas mais de duas décadas à frente da CBTM, Alaor afirma estar cansado de elaborar e apresentar projetos, propostas e sugestões para que sejam discutidas e debatidas com a direção do COB. Pior, diz não existir transparência nas prestações de contas da entidade e que os presidentes das confederações também não são consultados com relação às decisões da distribuição das verbas federais de patrocínios das empresas estatais, nem mesmo da Lei Piva.

Alaor: 'Se alguma confederação disse hoje que tem participação no COB, é mentirosa'

Veja os detalhes do estudo que avalia a governança do COB e de outros 13 países olímpicos além das solicitações na Justiça para apresentação de documentos

  • Estudo de governança da Inspire Sports Business
  • Solicitação de documentos do COB
  • Petição na Justiça para COB e Rio 2016 apresentarem documentos

CALA-BOCA

Na sequência da entrevista, Alaor fala da forma com a qual o presidente do COB conquista os apoios dos presidentes das 30 confederações de todos os esportes no Brasil. O medo de retaliações e as trocas de favores, o mundo nefasto da política brasileira praticado em sua plenitude no esporte do nosso país.

Alaor: Lei Agnelo-Piva ajuda, mas fortalece manutenção do poder de Nuzman

POÇO SEM FUNDO E O DESPERDÍCIO COM ALUGUÉIS

Enquanto muitos atletas olímpicos do Brasil não sabem como será o amanhã no alto rendimento, o Comitê Olímpico Brasileiro despeja centenas de milhões de reais para o pagamento de sua luxuosa sede na barra da Tijuca. Fora os milionários contratos de aluguéis de containers-escritórios para a Rio 2016. Aliás, se até os órgãos federais de fiscalização de dinheiro público como TCU (Tribunal de Contas da União) alertaram sobre o risco de Carlos Arthur Nuzman ser o presidente do COB e da Organização dos Jogos, por que nada foi feito? Alugar ou construir, eis outra questão levantada por Alaor.

Alaor: gastos absurdos com aluguel de sede do COB e containers-escritórios para a Rio-2016

DESAFIANDO NUZMAN

Alaor se mostrou muito preocupado com os rumos do esporte olímpico brasileiro, já que sua única fonte de renda no tênis de mesa é a verba que vem da Lei Agnelo-Piva, oriunda das loterias. Sabe também que o velho sistema de gerir o esporte, com seus estatutos fabricados para que não haja renovação, só beneficia os dirigentes e não os atletas do alto rendimento.

O presidente da CBTM termina a entrevista com um apelo aos colegas presidentes de confederações que estarão na votação da quinta reeleição de Nuzman, ainda sem data marcada, mas que todos sabemos o resultado. E lança o desafio.

Alaor pede debate aberto com Nuzman e fala: 'A guerra ainda não acabou'

A produção dos canais ESPN convidou o presidente do COB, candidato à quinta reeleição, Nuzman, para o debate com o presidente da confederação de tênis de mesa, Alaor. Estamos aguardando a resposta da assessoria de imprensa do COB para que a data do debate seja marcada.

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