E Paulo André não apenas joga: se diverte
Eram apenas 4 minutos de jogo quando Lucho Gonzales errou um passe na saída de bola e entregou a Éverton, que acionou Luan, sozinho diante do goleiro Santos. O craque gremista ajeitou e bateu de esquerda. A bola tocou alta na trave. No rebote, Ramiro isolou. Por um triz, o Atlético Paranaense não saiu perdendo o duelo que se tornaria o melhor jogo deste início de Campeonato Brasileiro. Se o Grêmio, dentro de casa, tivesse marcado logo no começo, a coisa poderia ter desandado para os lados do Furacão. A partida acabou 0 x 0, mas com status de 2 x 2.
Mas tivesse a bola entrado, críticos rasos abririam goelas em suas análises sobre o Atlético. O jogo planejado por Fernando Diniz seria rotulado de suicida, utópico, inviável. Os atletas do Furacão seriam diminuídos em sua técnica, incapazes de fazer valer o risco de uma proposta tão ousada. E um projeto bonito poderia sofrer sua primeira grande instabilidade.
Mas Luan chutou na trave. E o jogo seguiu em ótimo nível para o que estamos acostumados aqui no Brasil. Duas propostas diferentes, ambas com mais qualidades que defeitos, se confrontando no gramado da Arena do Grêmio.
Leio depoimentos de Paulo André na imprensa, vejo trechos de sua participação no Bem, Amigos. Um jogador que pensa, algo raro. É ótimo vê-lo falar. E Paulo André disse que nunca se divertiu tanto jogando futebol como agora, no Furacão. Confessa estar reaprendendo o esporte que virou sua profissão. “Fernando Diniz cria o caos”, diz o zagueiro, como se emprestasse o delicioso bordão do querido Rômulo Mendonça. Mas um caos aparente, que tem uma ordem, um planejamento treinado à exaustão. A saída de bola é feita nos treinos muitas vezes contra 12 caras no time adversário. “E a gente consegue sair tocando com 12. Quando chega no jogo, fica mais fácil, porque tem um a menos”, explica. Paulo André vai além. “Às vezes, dá vontade de rir”.
Que coisa bacana. Um zagueiro experimentando, aos 34 anos, sabores que jamais havia sentido em todos os seus anos de carreira no Brasil, França e China. E se divertindo, reconhecendo no treinador a “loucura sadia” dos inovadores. Paulo André é figura chave dentro e fora do campo, fechando o grupo em torno de sua liderança e da proposta de Diniz, a quem chama de “mentor”. Sobre a bola na trave de Luan, ele diz: “Erros vão acontecer. Mas para cada um, há muitas oportunidades de gol que criamos por conta dessa ideia”. É essa a conta que uma calculadora rasa não consegue fazer.
Diniz está ainda no início de sua carreira de treinador e busca espaço. Vamos, então, com calma. O Atlético é sua maior oportunidade até agora. Sua ideia de jogo de “futebol total”, fazendo do passe e da movimentação seus grandes pilares ofensivos, permanece. O que muda são os jogadores, a cultura do clube, as ambições, o tamanho da torcida. Pequenas adaptações de um conceito ousado, libertário, idealista de se jogar e entender o futebol. Levar adiante uma proposta assim é trabalho hercúleo. Por isso, creio que seja impossível, para quem ama o futebol, não torcer por ele. A não ser que você seja Coxa ou Paraná, claro, porque aí já é pedir demais...
Fonte: Maurício Barros
E Paulo André não apenas joga: se diverte
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