Quatro continentes e muitas experiências: conheça o técnico brasileiro à frente de Guiana
A diversidade de seleções e clubes no currículo de Márcio Máximo impressiona. Aos 59 anos, o treinador brasileiro comanda Guiana nas eliminatórias da Concacaf para a Copa do Mundo e luta pela classificação para a próxima fase. Terá, inclusive, jogo decisivo nesta sexta-feira contra São Cristóvão e Névis, de outro técnico brasileiro, Léo Neiva, cuja história já foi contada neste blog.
Carioca, super descontraído e com enorme experiência internacional, Márcio já fez parte da comissão técnica da seleção brasileira sub-17, onde foi um dos responsáveis por levar um jovem atacante do São Cristóvão, de nome Ronaldo, para a Granja Comary. Levado por Humberto Redes para ao Catar, também trabalhou nas seleções de base no país árabe para, depois, seguir a carreira de treinador. Vivência incrível: seleções das Ilhas Cayman e da Tanzânia, Livingston (Escócia), Young Africains (Tanzânia) e alguns clube brasileiros. Quatro continentes e muitas experiências.
"As pessoas quando falam em África têm uma ideia de fome, de guerras, e não é isso. A Tanzânia é um país que foi comunista por muito tempo e ainda possui algumas nuances do comunismo. É um país muçulmano também, basicamente muçulmano. Vários hábitos ainda são oriundos do tempo que eles ficaram fechados, era o comunismo chinês. Eles não tinham opção, iam para o lado americano ou para o chinês, de Mao Tsé-Tung. Optaram pelo Mao e pelo menos não houve guerra civil lá, já foi uma vantagem. Porém, não se desenvolveu tanto", lembra Márcio, que comandou a seleção tanzaniana de 2006 a 2010 e em 2014 esteve no Young Africains. "É um lugar belíssimo, com praias lindas, como em Zanzibar. Tive a oportunidade de fazer o safári no Serengeti também. Nossa vida no exterior possibilita algumas situações, que se não fosse pelo futebol, faríamos apenas o turismo tradicional".
A missão atual é levar Guiana para a próxima fase das eliminatórias da Concacaf. Com três pontos após duas rodadas, sabe que precisa da vitória contra São Cristóvão e Névis. "O Léo é um amigo de longa data, técnico jovem com enorme potencial. É sempre bom termos brasileiros inseridos no mercado, seja ele qual for. A exportação de técnico brasileiros tem sido difícil, temos poucos trabalhando no mundo", conta Márcio sobre a relação com o colega. "Nós importamos 50% da seleção, ingleses. Nosso desafio é unir os dois grupos, local e internacional, e tentar fazer uma equipe competitiva no curto período que temos de treino. Aqui mantemos um trabalho com os jogadores locais. Eles têm um potencial muito grande. Renovamos muito a seleção, a média de idade é de 23 anos, porque acreditamos que dessa maneira conseguimos mudar a mentalidade dos jogadores e adaptá-los ao nível intenso do jogo que queremos. Os jogadores precisam completar renda com trabalho. A tendência é que a liga se torne totalmente profissional em breve".
Márcio está na Guiana com o assistente Wilson Toledo. Eles têm promovido muitas mudanças, como o foco no futebol local. No início do trabalho, em 2019, 90% do elenco da seleção era formado por atletas que atuam fora do país. Assim como várias seleções do Caribe, Guiana busca jogadores de origem guianesa. "Curaçao, por exemplo, traz 24 jogadores de fora e não desenvolve o futebol local. FIFA e Concacaf deveriam se preocupar mais com isso. Não sei se limitando o número de jogadores estrangeiros, mas deveria haver um a ação que integrasse mais os jogadores locais".
Essa forma de trabalho não é a buscada por Márcio Máximo na Guiana, pelo contrário. "Precisamos definir o perfil do jogador que queremos. Não adianta trazer alguém da quinta ou da quarta divisão inglesa, que pouco vai somar à qualidade do time. Procuramos jogadores de 22, 21, que nem sempre jogam na equipe principal, mas que atuam na Championship. Temos atletas do Watford, por exemplo, que não estão no primeiro time, mas eventualmente entram nos jogos. Jogador é formação. Todos os casos possuem exceções, mas não é a tendência".
Situação diferente que ele viveu nas Ilhas Cayman, no final dos anos 1990. Quando recebeu o convite, considerou uma equipe de pouca relevância mesmo no continente, mas havia algo a mais. "Eu não ia aceitar o convite das Ilhas Cayman, porque considerei uma ilha inexpressiva. Na época, porém, o General-Secretário me disse que poderíamos contar com jogadores ingleses. Por ser território britânica, a seleção de Ilhas Cayman poderia usar os ingleses, daí vieram jogadores da Championship, da Premier League escocesa, houve uma mudança. Empatamos com a Jamaica, amistoso com o DC United, que era o time do Etcheverry, fizemos grandes jogos. Só que infelizmente, a FIFA não permitiu que utilizássemos esses jogadores nas eliminatórias para a Copa, porque eles não tinham ascendência caimanesa", explica.
No final das contas, foi justamente a experiência com atletas britânicos que lhe rendeu o convite para assumir o Livingston, na primeira divisão escocesa - primeiro treinador brasileiro na história a trabalhar no Reino Unido. A experiência não deu tão certo, já que o clube mudou de proprietário e não comprou totalmente as ideias de Márcio, de revelar jogadores. Mesmo assim, em seis meses por lá, conseguiu revelar jogadores como Robert Snodgrass, atualmente no West Brom. "Fui para a Europa através de uma ilha do Caribe, mas não sei se fiz a opção certa", conta o treinador, que também foi entrevistado em outros momentos por Southampton e Exeter.
O melhor trabalho em clube foi, sem dúvida, no futebol tanzaniano. "O Young Africains é o Flamengo de lá. O estádio, construído pelos chineses, que investem muito no leste da África, tem capacidade para 60 mil pessoas sentadas. Quando jogam Yanga e Simba, o grande clássico nacional, ficam 60 mil pessoas dentro e 160 mil fora querendo entrar". Antes, na seleção, subiu 80 posições no ranking da FIFA e levou a equipe para o Campeonato das Nações Africanas.
Graduado pela licença Pro da CBF, Márcio Máximo foca agora nas eliminatórias para a Copa. Sem esquecer suas raízes e suas ideias de formação do atleta.
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