Primeira transmissão, retorno da Bundesliga, jogo mais marcante: Gerd Wenzel relembra a carreira
A Bundesliga está de volta. Entre as grandes ligas de futebol no mundo, é a primeira a retornar durante a pandemia de coronavírus. Os canais ESPN vão transmitir três jogos nos próximos dias: RB Leipzig x Freiburg (sábado, 10h30), Colônia x Mainz (domingo, 10h30) e Werder Bremen x Bayer Leverkusen (segunda, 15h30).
Com o Campeonato Alemão de volta à grade de programação, Gerd Wenzel estará mais uma vez ao lado de Rogério Vaughan. Wenzel é uma das pessoas mais queridas da ESPN e na entrevista abaixo, contou um pouco da sua história no Brasil e na televisão brasileira.
Como foi a chegada da Bundesliga no Brasil?
É um prazer conversar sobre essa história já longa da Bundesliga no Brasil. Começou na realidade em 1991, quando a Bundesliga ofereceu à TV Cultura o Campeonato Alemão - na época, três temporada: 91-92, 92-93 e 93-94 - por 500 mil dólares. Na época, o presidente da TV Cultura era o Roberto Muylaert, e na hora ele pegou. Só que não tinha lá um comentarista que entendesse alemão. Quem fazia a narração era o José Goes, o comentarista era o José Trajano e de vez em quando pegavam alguém da colônia alemã, mas não deu certo. Até que um dia, meu amigo Antônio Alberto Prado, que era jornalista e diretor de Comunicação da Bayer, patrocinadora do Campeonato Alemão e que pagou esses 500 mil dólares, me ligou e perguntou se eu entendia de futebol. Disse que mais ou menos, acompanho um pouco. "Mas você acompanha a Bundesliga"? De vez em quando, pelo jornal. "É que acontece o seguinte, a TV Cultura está precisando de um comentarista". Mas eu não sou comentarista! "Não, vai lá, conversa com o Domingues, que é o diretor de Redação e vamos ver, de repente dá um samba". Liguei para ele, comecei a conversar com o diretor de Redação da TV Cultura, me perguntou se eu tinha experiência de TV e rádio, disse que não tinha. E aí ele me disse que eu estava contratado, porque minha voz seria inconfundível. "Seu timbre de voz, seu jeito de falar, seu pequeno sotaque de alemão, que ainda bem não é muito carregado". Isso foi em uma quinta-feira, no sábado tinha Rostock e Duisburg. Ele me perguntou se eu topava e disse 'vambora'.
E sua primeira transmissão?
Esse primeiro jogo foi uma loucura. A gente tem que entender que não havia internet, catava informação em um ou outro jornal alemão que achava nas bancas. Eu procurei me informar de uma forma ou de outra, com colegas alemães que eram fãs de futebol. Tinha um colega que trabalhava na Deutsche Bahn, com muitas revistas de futebol. O primeiro jogo foi Hansa Rostock x Duisburg e aconteceu um pequeno detalhe nesse jogo, que nos 20 minutos iniciais nós trocamos os times. Durante 20 minutos a gente inverteu as equipes! O Hansa Rostock para nós era o Duisburg e o Duisburg era o Hansa Rostock! Porque eles entraram com os uniformes B, que eram eequivalentes aos uniformes A do outro time. Temos que entender que a gente fazia essa transmissão com um monitorzinho de 32 polegadas, na época não havia alta definição, a imagem não era perfeita. Enfim, a gente embarcou em uma de inverter os times, até que uma boa alma ligou para a direação e informou que estávamos invertendo as equipes. Ainda bem que o jogo até então estava 0 a 0.
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Com o que você trabalhava nessa época?
Eu tinha e até hoje tenho uma empresa de eventos corporativos. Durante mais ou menos 20 anos trabalhei com eventos corporativos, convenções de vendas, simpósios, reuniões de treinamento. Eu fazia toda parte de organização dessa convenções, cheguei a fazer eventos no exterior, Uruguai, Argentina, Estados Unidos, México, para empresas brasileiras. Minha empresa estava a todo vapor e nas horas vagas eu fazia um comentário por semana na TV Cultura.
Muitos não conhecem sua rica histórica de vida. Como você chegou ao Brasil?
Bom, aí vamos voltar mais um pouquinho. Eu nasci em Berlim durante a II Guerra Mundial, em 1943, e quando terminou a guerra, que até recentemente completou 75 anos do fim, Berlim foi dividida entre a parte oriental e ocidental. A parte oriental ficou com os soviéticos e a ocidental com os aliados, nós ficamos morando em Berlim Oriental. Na década de 50, com o início da Guerra Fria, havia uma enorme preocupação com a eventual III Guerra Mundial. Minha mãe conheceu na década de 20, do século passado, uma família judaica para qual ela trabalhou. Essa família se refugiou no Brasil já em 1933, antes do Hitler assumir o poder na Alemanha e ela nunca perdeu contato com eles. Essa família sempre insistiu para que nós viéssemos para o Brasil, porque poderia estourar uma guerra, como realmente estourou. Depois insistiu que nós fôssemos para o Brasil, tendo em vista a situação pós-guerra na Europa, situação muito complicada e difícil. Meu pai já havia falecido, então minha mãe decidiu fugir de Berlim Oriental para o Brasil. Chegamos aqui no dia 21 de agosto de 1955. Viagem de navio, 21 dias, desembarcamos em Santos.
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Praticamente um brasileiro, sem perder a origem alemã.
Sempre digo: coração dividido, metade alemão, metade brasileiro. Em 2014, durante a Copa do Mundo, me perguntaram várias vezes para quem eu torceria, para o Brasil ou para a Alemanha. Eu sou o único campeão mundial nove vezes.
Como começou sua história na ESPN Brasil?
Eu já conhecia o Trajano da Cultura. Quando a ESPN começou a entrar com força nas transmissões internacionais, especificamente com o Campeonato Alemão, isso foi 1998, 99. De vez quando o Trajano já me chamava para fazer um ou outro jogo, mas quando entrou com força mesmo nos campeonatos internacionais, agregando Italiano e outros, ele me chamou. Eu me lembro direitinho até como foi, o Rogério conhece bem essa história. Diz que o Trajano, naquele salão que conhecemos bem, falou com a secretária dele "Ô Cristina, chama aquele maluco do Wenzel, porque nós vamos precisar dele". Aí a Cris me ligou, falou que o Trajano queria que eu fizesse os comentários do Alemão, será que você pode fazer? E foi exatamente no dia 7 de fevereiro de 2002, dia do meu aniversário, que o Trajano me deu esse presente. De voltar a fazer o Campeonato Alemão pela ESPN. Ou seja, tenho 18 anos de casa.
Neste final de semana, após tantas transmissões pela ESPN, terá uma experiência bem diferente, não é mesmo?
Vai ser uma experiência diferente para todos nós e todos os envolvidos no campeonato. Na realidade, estamos entrando, pisando em uma terra de ninguém. Uma terra que ninguém sabe exatamente o que vai acontecer. Sempre bom lembrar que serão jogos com portões fechados, não haverá público e com restritas regras de segurança sanitária. O Campeonato Alemão está paralisado há dois meses e uma semana, aproximadamente, não sabemos quais serão as condições físicas e técnicas das equipes e psicológicas dos jogadores. Alguns foram contaminados pelo vírus, outros tiveram amigos e familiares contaminados, estão com a cabeça eventutalmente em outro lugar. Então vamos ter uma situação, até para nós comentaristas, narradores, inédita em termos jornalísticos, de reportar o que está acontecendo em campo. O que se fala muito na Alemanha é que esse é um grande experimento de laboratório, e nós vamos fazer parte disso.
No caso da ESPN Brasil, uma transmissão feita de casa. Outra novidade.
Isso também. Já participei de programas de rádio, ao vivo, de casa, mas programa de TV será uma experiência inédita para todos nós. Com uma pequena infra-estrutura montada na nossa sala de estar ou no nosso home office, seja onde for, estaremos à distância. Vamos nos ver na tela, comentaristas e narradores, mas mesmo assim vai ser uma experiência que vai nos dar muita "cancha", extraordinária nesse sentido. O que nós vamos sentir falta é do estádio, do torcedor. As comemorações dos jogadores serão restritas também, não pode haver abraço, não podem chegar perto um do outro. Estou bastante ansioso para ver como tudo isso vai funcionar em campo.
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Qual é a sua melhor história desses 18 anos de ESPN?
A grande história, para mim, que realmente me pegou muito forte foi o jogo que fiz entre Alemanha e Argentina, no estádio Olímpico de Berlim, em 2006. Não foi nem a final de 2014. Porque foi um jogo pelas quartas de final e a Alemanha foi para os pênaltis, houve aquela famosa história do Jens Lehman, olhando as papeletas para tentar prever o canto que o adversário bateria. O estádio foi à loucura com aquela classificação da Alemanha para as semifinais, onde enfrentaria mais tarde a Itália. Essa foi a grande experiência que me tocou, cheguei a derramar algumas lágrimas ali, com o estádio inteiro cantando. Foi uma experiência realmente extraordinária na minha vida de comentarista.
Não podemos esquecer do bode, em Colônia.
Essa... Eu me lembro que nós fomos lá no estádio do Colônia fazer o jogo, tínhamos feito Borussia Dortmund e Schalke no dia anterior, 0 a 0, e fomos fazer o jogo do Colônia no domingo. Eu avisei o Rogério: "olha, Rogério, tem um mascote aí, um bode, é o mascote do Colônia". Fizemos uma entrada ao vivo do gramado e a tratadora do bode estava mais ou menos do nosso lado. Ainda falei para o Rogério, "não chega perto porque o bicho é bravo". Aí o Rogério resolveu fazer uma gracinha no bode, que tentou dar uma chifrada nele. O Rogério deu um pulo para trás! São experiências que não esquecemos.
Fonte: Gustavo Hofman
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