Quatro anos para uma das Copas do Mundo mais polêmicas de todos os tempos
Faltam quatro anos para o início da Copa do Mundo no Qatar. No dia 21 de novembro de 2022, a bola vai rolar para a primeira partida oficial do próximo Mundial, que ainda tem mais dúvidas do que certezas. Não está definido o total de cidades e estádios que sediarão as 32 ou 48 seleções participantes. Além disso, denúncias de péssimas condições para os trabalhadores que preparam o país para receber milhões de turistas continuam aparecendo, a sombra da corrupção jamais abandonou a candidatura vencedora e a crise diplomática com outras nações árabes permanece.
O cenário atual mais provável e trabalhado pelo Comitê Organizador Local é de construção de seis novas arenas e renovação de dois antigos estádios, tudo isso em apenas cinco localidades e com distância máxima de 55km entre elas, o que vai criar um clima incrível entre as torcidas. A Fifa sofre pressão política para antecipar a ampliação do total de equipes, prevista e aprovada para 2026, já para o Qatar - proposta que não tem apoio do governo local.
Nos últimos anos, o país tem investido muito no futebol. Basta citar a compra do Paris Saint-Germain como maior exemplo internacional, enquanto regionalmente busca reforços estrangeiros para evoluir. Xavi, hoje no Al Sadd, se tornou um embaixador praticamente dessa política, e a seleção já há alguns anos tem naturalizado atletas também, como o brasileiro Rodrigo Tabata, que desde 2011 atua no futebol qatari. A imprensa foi outra que mereceu atenção governamental, com a criação do beIN Sports, braço esportivo do canal Al Jazeera.
A Copa de 2022 vai também provocar uma enorme confusão no calendário do futebol mundial, já que será a primeira a ser realizada entre novembro e dezembro. Para o Brasil, a adequação, na prática, será mínima, já que vai inclusive facilitar a vida dos dirigentes por se tratar de final de temporada. Na Europa, porém, interromperá tudo que estiver acontecendo. Entre junho e julho, a temperatura na região atinge rotineiramente mais de 40oC, enquanto no final do ano cai pelo menos dez graus.
Mesmo assim, todas as arenas, que devem se tornar elefantes brancos depois do Mundial, serão climatizadas. Al Duhail e Al Sadd, por exemplo, os dois times mais fortes do país, atuam em estádio para 10 mil e 15 mil pessoas, respectivamente. Para minimizar esse provável problema, a organização doará 170 mil cadeiras depois da Copa, reduzindo a capacidade de boa parte das nababescas obras, que mesmo assim permanecerão grandes para a demanda local.
Imagens divulgadas pelos organizadores mostram o andamento das obras nas sedes.
O custo de tudo isso, no entanto, vai muito além dos milhões de dólares investidos pelo Qatar, oriundos da terceira maior reserva mundial de gás natural e petróleo. A Anistia Internacional divulgou amplamente denúncias graves sobre trabalho forçado, restrição de liberdade e passaportes confiscados dos trabalhadores, quase todos estrangeiros. Segundo a Anistia, há hoje 1.7 milhão de imigrantes em todos setores produtivos do Qatar.
A organização denuncia que a maioria dos imigrantes que chegam para trabalhar nos estádios paga entre 500 e 4.300 dólares para empresas que os recrutam em seus países de origem - Nepal, Bangladesh e Paquistão formam o maior contingente. Em território qatari, recebem em média 200 dólares por mês - fora os atrasos ou ausência de pagamentos, comuns pelos depoimentos. De qualquer modo, são incontáveis os registros de documentos retidos pelos empregadores. Além do passaporte, a licença de trabalho não é fornecida, o que, na prática, torna os imigrantes cidadãos ilegais. Situação absurda que, por sua vez, faz com que eles tenham medo de deixar o local de trabalho para não serem presos pela polícia.
Não há também um número oficial de mortos; Sabe-se porém, que é altíssimo. As precárias condições fizeram com que o Governo do Emir Tamim bin Hamad Al Thani criasse o Workers'Welfare, um documento que regulamenta e exige tratamento adequado para todos trabalhadores. O último relatório, com dados de 2017, aponta 237 inspeções, mais de 2 mil horas investidas e 2.335 pessoas ouvidas. "Continuamos a introduzir iniciativas que demonstram grande independência, maiores direitos, melhores condições para os trabalhadores. O Qatar está inspirando todo mundo com suas políticas e programas", garantiu Hassan Al Thawadi, presidente do Comitê Organizador e secretário Geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado. Tudo contrasta com os relatórios independentes produzidos pela Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos.
Aliado a tudo isso, desde a metade do ano passado o Qatar enfrenta grave crise diplomática na região. Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Bahrein romperam relações após acusarem o vizinho de apoio ao terrorismo. Antes mesmo dos últimos eventos, a atuação da Al Jazeera na Primavera Árabe já irritara as nações árabes. Há ainda o bom relacionamento do Qatar com os Estados Unidos e o Irã, principal rival saudita, como pontos precários no relacionamento entre os países do Oriente Médio.
Some ainda mais as suspeitas de corrupção na escolha do Qatar como sede da Copa, apontadas pelo Relatório Garcia, e há um cenário bastante controverso para a próxima sede da Copa do Mundo. O que, mais uma vez na história, deixa a pergunta: qual é o verdadeiro custo do maior evento de futebol do planeta?
Fonte: Gustavo Hofman
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