Na meca do futebol americano, o soccer ganha espaço com ajuda brasileira
No início de setembro a bola oval volta a voar oficialmente na NFL. O Dallas Cowboys não é necessariamente o time mais vitorioso da liga, mas é chamado de "America's Team" por conta de sua enorme e apaixonada torcida. Em média, a equipe levou 92.721 torcedores por jogo ao AT&T Stadium na temporada passada e vai manter números aproximados ou até maiores para 2018 e 2019.
O mesmo vai acontecer com o Dallas Mavericks na NBA. Apesar da fraca campanha na temporada passada, quando ficou fora dos playoffs e amargou a antepenúltima colocação na Conferência Oeste, foi o quinto em média de público na liga com média de 19.791 presentes por partida no American Airlines Center, cuja capacidade máxima oficial para basquete é de 20 mil pessoas. Agora, com a chegada do esloveno Luka Doncic, a empolgação aumentou entre os fãs dos Mavs. No mesmo local, o Dallas Stars, que não avançou à pós-temporada da NHL em 2017-18, levou 18.110 torcedores por partida.
Não exatamente na terceira maior cidade do Texas e nona dos Estados Unidos, mas na região metropolitana de Dallas, o Texas Rangers, que já teve George W. Bush como um dos proprietários e está localizado em Arlington, tem média de 26.202 presentes por jogo neste ano. Aliás, Dallas faz parte do grupo de 13 áreas metropolitanas norte-americanas com representantes nas quatro grandes ligas profissionais do país.
Nesse incrível cenário esportivo, onde os 7.4 milhões de habitantes de Dallas-Fort Worth têm na prática jogos para ir durante todo ano, ainda há espaço para mais um time.
"Eles são apaixonados por esporte, é impressionante. Em qualquer lugar, no shopping, nas ruas, sempre tem algo dos Cowboys. A gente sempre vê a estrela deles, mas o FC Dallas é o outro time que mais marca presença na cidade. Com lojas e todo material possível". Esse é o relato do lateral-esquerdo Marquinhos Pedroso, revelado pelo Figueirense, que desde o início de julho defende o FC Dallas, que em seus primórdios se chamava Dallas Burn e foi um dos clubes fundadores da Major League Soccer.
No ranking local da média de público, o time de futebol perde para os demais já citados. No ano passado, quando sequer chegou aos playoffs, o Dallas levou 15.122 torcedores por jogo, a menor marca da MLS. No entanto, não foi assistido por menos de 14 mil pessoas no Toyota Stadium, localizado em Frisco (distante 45 minutos do centro de Dallas) e com capacidade total para 20.500 pessoas devidamente acomodadas em um palco exclusivo para soccer, em jogo algum.
Neste ano a média tem sido basicamente a mesma, com 15.017, terceira pior marca da liga, mas com um fato que demonstra a solidificação do público: o Dallas é o líder da Conferência Oeste com 42 pontos após 23 jogos. Ou seja, ganhando ou perdendo, a torcida comparece de qualquer modo. Se a franquia do Texas fosse um clube da Série A do Campeonato Brasileiro, com a atual média, ocuparia o 12o lugar no ranking de público no primeiro turno.
"O jogo aqui é um evento para eles, é uma cultura diferente da nossa. Lembro de quando cheguei, no primeiro jogo que fui ver, quando perdíamos para o Atlanta por 2 a 1 e em momento algum a torcida parou de nos apoiar. Fazia ola, cantava as músicas, e no final viramos o jogo", diz Marquinhos, que é treinado pelo técnico colombiano Óscar Pareja e tem como alguns companheiros o experiente lateral suíço Reto Ziegler, o defensor hondurenho Maynor Figueroa e o atacante paraguaio Cristian Colmán. O FC Dallas tem um vice-campeonato da MLS (2010), dois títulos da Copa dos Estados Unidos (1997 e 2016) e é nacionalmente conhecido pela formação de jovens atletas.
O contrato do lateral, que antes passara por Gaziantepspor-TUR e Ferencváros-HUN, com o clube texano vai até 2021, e um dos responsáveis por sua contratação foi o também brasileiro Luiz Muzzi. Ele é diretor de Futebol do FC Dallas desde 2012, e antes trabalhou com o mesmo cargo na Traffic, onde dirigia o Miami FC.
A casa do FC Dallas, o Toyota Stadium, a partir de outubro passará a ter enorme importância para a história do futebol nos Estados Unidos. Está prevista para o dia 20 a inauguração do Hall da Fama do soccer norte-americano no local. "Todo o estádio está sendo reformado para o Hall da Fama", garante Bruno Paschoalini, Complex Supervisor do FC Dallas há três anos, e com experiência profissional nos Cowboys e nos Mavericks.
Aliás, a estrutura do FC Dallas vai muito além do palco principal. O Centro de Treinamentos em Frisco tem 20 campos oficiais, e ainda há uma segunda base de treinos, em Dallas, com outros 12 gramados de medidas oficiais e mais sete menores. Nada, porém, que se compare ao AT&T Stadium. "É coisa de louco o estádio, nunca vi igual. Os Cowboys são grandes demais, é a marca de esporte mais forte que existe", cita Paschoalini, se referindo à lista de marcas mais valiosas do esporte elaborada pela Revista Forbes.
O comentarista de futebol americano dos canais ESPN, Paulo Mancha, já esteve no Texas, assistiu a um jogo do Dallas Cowboys e teve a oportunidade de conhecer bem Dallas. "Eu não esperava ver tantas menções ao 'America’s Team' fora do estádio em si ou das áreas comerciais da cidade. Daí a grata surpresa ao passear pelos cinco terminais do gigantesco Aeroporto Internacional Dallas-Fort Worth. São nada menos que quatro lojas totalmente dedicadas ao Dallas Cowboys, além de um restaurante temático", conta o jornalista em seu blog Viajando pelo Esporte.
Dallas ainda tem mais dois times profissionais: desde 2016, os Wings levam o nome da cidade na WNBA, e desde o ano passado o lacrosse masculino tem um representante local também, os Rattlers.
"Dallas é apaixonada por vitórias e já faz um tempo que os times daqui não conquistam um título. Os Cowboys não vencem o Super Bowl desde 1995, mas é um time de gerações, cujo sucesso no passado para de uma família para outra. Os Stars ganharam a Stanley Cup em 1999, os Mavericks venceram seu único título em 2011 e os Rangers já jogaram a World Series, mas nunca venceram. Quando os times estão bem, a paixão aumenta. Com os Cowbows sempre há paixão", conta Todd Archer, repórter da ESPN que cobre o dia a dia do Dallas Cowboys.
Para sorte dos times profissionais de Dallas, não há grandes universidades na região, e sim em outras cidades do estado. A maior paixão do texano é, sem dúvida alguma, o futebol americano - e principalmente seus times de escolas e faculdade. Texas A&M leva multidões de 100 mil pessoas para seu estádio em Brazos County, assim como Texas Longhorns em Austin. Isso sem falar em outros programas tradicionais da modalidade no estado, como Baylor, Texas Tech e TCU.
Ao menos os habitantes de Dallas podem sentir o gostinho do futebol americano universitário de vez em quando. O Red River Showdown é um jogo disputado no terceiro final de semana de outubro, no Cotton Bowl normalmente lotado com 92 mil torcedores, que reúne uma das grandes rivalidade do país: Oklahoma Sooners e Texas Longhorns. Há ainda o Cotton Bowl Classic, que passou a ser jogado no AT&T Stadium e tem times variados a cada edição
Culturalmente, o estado do Texas é muito influenciado pela cultura latina, afinal, tem longa e polêmia fronteira com o México. Segundo censo de 2010, cerca de 66% da população de Dallas é formada por hispânicos.
"O texano é muito receptivo, e eles mesmo dizem que são os mais receptivos dos Estados Unidos. Em qualquer restaurante ou outro local sempre se fala inglês e espanhol", garante Marquinhos Pedroso, que vive em Frisco, perto do estádio, com a esposa. "O público latino é maior, sem dúvida, mas os americanos têm muitos season tickets, que dão direito a toda temporada", completa Paschoalini, sobre os torcedores que frequentam as arquibancadas em jogos do FC Dallas.
A cidade, que cresceu economicamente com a chegada da ferrovia em meados dos anos 1870, ficou marcada negativamente na história com o assassinato de John Fitzgerald Kennedy e hoje tem mais shoppings centers per capita do que qualquer outra dos Estados Unidos tem na formação de seu povo o esporte, e vai cada vez mais se abrindo para o soccer.
"O FC Dallas tem seu nicho e eu acredito que esteja crescendo, assim como o esporte continua a aumentar em popularidade no país. Eles vão superar Cowboys, Rangers, Mavericks e Stars? Provavelmente não, mas oferecem um produto sólido e demonstram a habilidade de achar jogadores talentosos sem investir enormes quantidades de dinheiro", finaliza Todd Archer.
Fonte: Gustavo Hofman
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