Carta aberta: respeito
Pensei muito se devia ou não escrever esta carta aberta. Ao escrever, um monte de gente vai me odiar, muitos vão ficar bravos. Mas, vendo o que vem acontecendo com nosso esporte e seus resultados, prefiro a ira de alguns do que dar as costas e ser mais um que vive do sistema do faz de conta, ou que vê e não tem coragem de encarar.
A palavra respeito no tênis me foi ensinada no primeiro dia que entrei em uma quadra. José Flávio Nunes me disse. Respeite este esporte sagrado, respeite seus adversários e respeite a história do esporte.
Todos devem saber que venho batendo bola com a molecada. Hoje foi o dia mais triste que vivi desde que começou. Se entro aqui para bater palma, falar das coisas lindas que venho vivendo, entro também para mostrar o lado ruim. Foi pedido que eu abrisse um horário para jogar com um grupo de meninos que jogam muito bem. Dos melhores meninos que temos no Brasil. Pedido pesado. Marquei hoje às 14:00h, desmarquei reuniões, me compliquei com meus filhos e minha esposa para estar lá na hora certa. Eu fui. Alguém mais foi? Alguém me avisou? Um contratempo, um erro de comunicação, um lapso... Não importa. Ninguém foi, ninguém ligou. Culpa dos meninos? Não. Nem um pouco. Eles estavam jogando. Culpa dos técnicos.
Quando faço uma entrevista e digo que nosso tênis está atrasado, que precisamos evoluir, tomei porrada de todo lado da classe de treinadores de tênis. Quando fui ao encontro nacional da CBT, em dezembro, muitos me olharam com a cara torta e fizeram comentários como: 'já que ele é tão bom, que pegue a meninada toda'. Quando se critica, a primeira reação é achar que eu sou do contra, que quero sacanear, que tenho algum interesse. Aqui valem algumas ressalvas. Primeiro: não quero ser capitão da Davis. Segundo: não quero um cago político. Terceiro: não me preocupo se ajudam ou não os meus sobrinhos. Quarto: não falo para me promover. Então, por que você fala, Fino? Porque eu amo o meu esporte. Eu vivo dele e ele é meu sustento.
Hoje, saindo da quadra, percebi uma coisa muito triste. Será que nossos técnicos realmente respeitam nossa história? Será que eles acham que podemos de alguma maneira ajudar? Tenho minhas dúvidas. Quantas vezes esses técnicos que hoje têm bons jogadores na mão me ligaram, ligaram para o Guga, para o Saretta, para o Jaime, para o Koch, Kiki, para o Ricardinho e trocaram informações? A sensação que tenho é que, no nosso país, as pessoas (técnicos) acham que fomos 1, 25, 34 ou top 50 porque nos deram os pontos. No fundo, não sabemos nada. Pergunto. Quem sabe são vocês?
Duro? Sim. Muito duro. Mas o tênis brasileiro tem história e nós fazemos parte dela, e está na hora de começar a respeitar a história de TODOS. Como queremos que nossos tenistas tenham engajamento, brilho nos olhos, se os técnicos deles não respeitam a história do nosso tênis?
Eu teria dado o que fosse para poder conversar com um ex-25 do mundo. Eu paro tudo que posso quando estou conversando com o Guga (como estive na piscina e nos cafés da manhã no Rio Open). Cada frase do Thomaz Koch e história me alimenta, cada segundo com o Kiki é uma aula de tênis e de vida. Aí eu pergunto.
Vivemos a era dos técnicos que sabem tudo. Mas os resultados estão aí é não enganam quem entende do esporte. Vocês também são responsáveis. Venho falando em troca, em debate, em união. Um dia teremos que fazer isso ou quem sabe resetar e fazer uma grande limpa.
Abraço a todos.
Fonte: Fernando Meligeni, blogueiro do ESPN.com.br
Carta aberta: respeito
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.