Parem de hipocrisia e deixem os jogadores conversarem
Kyrie Irving bate-papo com Kevin Durant. Escândalo! LeBron James troca ideia com Anthony Davis. Ultraje! Bryce Harper fala de Mike Trout. Ilegal!
No vocabulário do esporte americano, algumas circunstâncias transformam essas conversas em “tampering”, “adulteração”. A acusação é que elas ferem as regras estabelecidas para negociação de jogadores com clubes e geraram protestos de dirigentes e explicações por parte dos jogadores. Parece estranho, mas vamos voltar um pouco.
O mercado das ligas americanas seguem regras bem definidas. Há datas para janela de transferência, há período para negociação do clube com seus atletas para tentar renovar contrato e há período em que a negociação é livre para qualquer franquia que deseje um jogador sem contrato. E quem fecha o negócio são os general managers, os diretores esportivos dos times. O processo não prevê que um jogador de uma equipe entre em contato com outro para convencê-lo a se juntar a ele no futuro.
Essa prática se tornou comum na NBA, ganhando notoriedade com o Big Three do Miami Heat -- LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh -- e o quarteto de All-Stars do Golden State Warriors -- Stephen Curry, Klay Thompson, Kevin Durant e DeMarcus Cousins --, esquadrões que foram possíveis pela participação de atletas no trabalho de sedução de amigos.
Em relação ao equilíbrio técnico da liga, essa prática não foi das melhores. Ela criou duas dinastias (a do Heat não teve o impacto que se imaginava, mas foi um domínio absoluto na conferência por quatro anos) e diminuiu o equilíbrio em quadra. Por isso, tanta gente fica desconfiada quando Irving e Durant, dois jogadores que ficarão sem contrato ao final desta temporada, e LeBron e Davis, esse último pretendido pelo Los Angeles Lakers do primeiro, são vistos trocando ideia. Será que estão armando mais uma panelinha no basquete?
Foi o que o beisebol se deparou quando Bryce Harper, recém-contratado pelo Philadelphia Phillies, confirmou que tentará convencer Mike Trout a se juntar a ele ao final de 2020, quando termina o contrato do melhor jogador do mundo com o Los Angeles Angels. O time californiano protestou, acusando Harper de “adulteração”.
Do ponto de vista das regras de negociação estabelecidas pelas ligas, bate-papos e declarações públicas podem até soar fora dos limites. Fica, porém, um questionamento aos dirigentes, jornalistas e até torcedores que se escandalizam tanto essas conversas: já ouviram falar de WhatsApp, SMS, e-mail, Instagram Direct ou mensagem direta no Twitter?
Jogadores são amigos, é natural que conversem sobre os mais diversos assuntos. Desde questões de jogo até banalidades como “você conhece um restaurante bom na cidade onde farei minha próxima partida?” ou “já ouviu a nova música do fulano?”. No meio disso, é óbvio que falam do que seus times precisam e como a presença do amigo ajudaria.
Escandalizar-se por declarações ou conversas públicas é hipocrisia, é querer manter aparência de que o processo é inteiramente controlado por empresários e dirigentes, quando todos sabem que há tempos os jogadores também participam disso.
Então, que deixem os jogadores falarem, e os dirigentes que tratem de fazer propostas que sejam mais sedutoras do que a proximidade do amigo. Até porque isso acontece. No All-Star Game da MLB de 2016, os jogadores do Boston Red Sox não tiveram o menor pudor em mostrar a Edwin Encarnación -- então no Toronto Blue Jays, mas em fim de contrato -- como o queriam para substituir David Ortiz, que se aposentaria no final do ano. Encarnación se deixou levar no momento e assinou um bom contrato… com o Cleveland Indians.
Fonte: Ubiratan Leal
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