Como os Beatles invadiram um jogo de futebol americano há 60 anos
Os Beatles estão no meio do campo. É intervalo de uma partida de futebol americano e eles animam a torcida com uma marcha. O público tentou entrar para dançar, mas não foi possível porque os jogadores queriam entrar logo no gramado, mesmo com a banda inglesa se negando a sair.
A cena acima parece resultado de um sonho envolvendo o show do intervalo do Super Bowl, os Beatles e uma mente muito imaginativa. Mas, em no universo alternativo regido pelos clássicos do rock, isso tudo aconteceu. Foi em 3 de fevereiro de 1959, data que completou 60 anos enquanto New England Patriots e Los Angeles Rams disputavam o Super Bowl de verdade.
Bem, mas como é possível os Beatles tocarem em um jogo de futebol americano de 1959 se a primeira turnê norte-americana da banda ocorreu apenas em 1964? Aliás, como é possível os Beatles tocarem em um jogo de futebol americano de 1959 se a banda só foi formada em 1960? Então acompanha o raciocínio.
Três de fevereiro de 1959 é uma data histórica no rock. Uma data triste. Na noite daquele dia, Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Bopper Richardson viajavam em um pequeno avião entre uma apresentação e outra no Meio-Oeste americano. O tempo era ruim e o piloto não tinha a formação adequada para navegar apenas por instrumentos. A aeronave caiu em Clear Lake, estado de Iowa. Ninguém sobreviveu.
A melhor definição para o impacto do acidente veio apenas 12 anos depois. Don McLean, um adolescente na época da tragédia e grande fã de Buddy Holly, compôs em 1971 o épico “American Pie”, em que chama o 3 de fevereiro de 1959 de “o dia em que a música morreu”. Desde então, é assim que a data é conhecida até hoje.
Em “American Pie”, McLean descreve diversas cenas cotidianas dos Estados Unidos da década de 1950, com pessoas levando suas vidas normais sem imaginar que, naquele dia, a música morreria. Uma das cenas era uma partida de futebol americano. Não fica claro se é um jogo profissional, universitário ou escolar, nem em que cidade ele teria ocorrido:
“The players tried for a forward pass / With the jester on the sidelines in a cast / Now the half-time air was sweet perfume / While sergeants played a marching tune / We all got up to dance / Oh, but we never got the chance / 'Cause the players tried to take the field / The marching band refused to yield / Do you recall what was revealed / The day the music died?”
Tradução livre:
“Os jogadores tentaram um passe para frente / Com o animador na lateral do campo / Agora o ar do primeiro tempo tinha passado / Enquanto os sargentos tocavam uma marcha / Todos nós levantamos para dançar / Oh, mas nós nunca tivemos chance / Porque os jogadores tentaram tomar o campo / A banda se recusou a parar / Você se lembra o que foi revelado / No dia que a música morreu?”
Os “sargentos” eram os Sargeant Peppers, os Beatles. E, pela cronologia do terceiro parágrafo desse texto, fica óbvio que a banda de Liverpool não estava nos Estados Unidos tocando no intervalo de um jogo de futebol americano em fevereiro de 1959. Mas “American Pie” vai mais além do “dia em que a música morreu”. A canção usa as cenas cotidianas dos anos 50 como pano de fundo para diversas referências referências que acabam traçando a trajetória da música e a agitação cultural da virada da década de 1960 e 70.
O futebol americano era mais que um jogo. Era a juventude tentando se fazer ouvir e protestar em movimentos em favor dos direitos das mulheres, contra o racismo e contra a guerra. O animador do lado de fora era Bob Dylan (que ficou ficou recluso em 1966 após sofrer um acidente), os sargentos eram os Beatles, que entravam em ação como a voz da geração e agitavam os manifestantes. Os jogadores que tentavam expulsar quem curtia a música eram as autoridades buscando tomar as ruas de volta.
McLean nunca deixou completamente claro o que quis dizer em cada verso de “American Pie” e interpretações diferentes se espalharam. De qualquer modo, em 1989 foi gravado um clipe para a música que deixava claro que os sargentos eram os Beatles (a partir de 4:00 no vídeo acima).
Obs.: “American Pie” foi regravada em versão reduzida por Madonna em 2000. O trecho que menciona a partida de futebol americano foi cortado. Em 2005, enfim os Beatles realmente entraram em um jogo de futebol americano, ainda que indiretamente. Paul McCartney, um dos líderes da banda, foi a atração do intervalo do Super Bowl 39 com um repertório composto apenas por músicas dos Beatles (“Drive My Car”, “Get Back”, “Live and Let Die” e “Hey Jude”). Os jogadores não precisaram expulsá-lo para retomar a partida, em que os Patriots venceram o Philadelphia Eagles por 24 a 21.
Fonte: Ubiratan Leal
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