Rivera é primeiro a entrar no Hall da Fama da MLB por unanimidade. O que isso significa?
Babe Ruth reinventou o beisebol, fazendo do home run uma arma ofensiva constante para seu time. Em torno dele se construiu a franquia mais vitoriosa do esporte americano. Em uma época em que a MLB era a única liga profissional com repercussão em todos os Estados Unidos, o craque do New York Yankees foi a primeira superestrela esportiva do país. Durante décadas, os americanos usaram o termo “ruthian” para se referir a algo inigualável, o melhor possível. Um ator que tivesse uma interpretação “ruthiana” é porque foi ao ápice de sua categoria, digno de Oscar.
Claro, Ruth está no Hall da Fama do beisebol. Foi imortalizado na primeira turma, em 1936. Justo por tudo o que ele representa à modalidade. E nem assim sua escolha foi unânime. Ele recebeu “apenas” 95,13% dos votos. Ty Cobb, outro mito das primeiras décadas da MLB, teve mais adesão. E nem assim foi perfeito: 98,23% dos votos. Podemos pegar dezenas e dezenas de grandes nomes do beisebol - Honus Wagner, Walter Johnson, Willie Mays, Joe DiMaggio, Cy Young, Lou Gehrig, Ted Williams, Hank Aaron, Carl Yaztrzemski, Stan Musial, Mickey Mantle, Jackie Robinson, Sandy Koufax, Whitey Ford, Greg Maddux, Roberto Clemente, Randy Johnson, Carl Ripken Jr, Pedro Martínez… - e não acharemos um sequer, NEM UNZINHO, que foi eleito por unanimidade. Até esta quarta, quando Mariano Rivera foi eleito com adesão de 100% do eleitorado.
Obs.: Para ser eleito, o jogador precisa receber um mínimo de 75% dos votos. Ele se torna elegível cinco anos após sua aposentadoria. Ele perde a elegibilidade se receber menos de 5% dos votos ou se ficar dez anos na cédula de votação sem ser eleito. Depois disso, só pode entrar por meio de comissões especiais.
Trata-se de um feito notável do panamenho, maior fechador da história e referência do bullpen dos Yankees por 20 anos. Não é formas de diminuir o tamanho dessa façanha, mas é preciso entender o que ela representa, até como marco para as próximas votações do Hall da Fama.
Ter sido o primeiro jogador com 100% dos votos não significa que Rivera tenha sido maior ou melhor que seus companheiros no Hall da Fama. A discussão sobre quem é maior jogador da história ainda fica entre Willie Mays (tecnicamente mais completo, eleito com 94,68%) e Babe Ruth (mais influência na história do esporte). Essa conclusão, relativamente fácil, nos leva a uma questão: por que isso só aconteceu agora, 83 anos depois de o Hall da Fama do Beisebol ser criado?
O cenário do momento estava levando o eleitorado a chegar à unanimidade em algum momento. O arremessador Tom Seaver foi eleito com 98,84% em 1992 e carregou o status de jogador mais votado durante mais de 20 anos. Nolan Ryan, também arremessador, teve 98,79% em 1999 e quase igualou a marca. Mas, na primeira década deste século, o eleitorado se mostrou muito hostil.
Nas 14 eleições entre 2000 e 2013, apenas seis jogadores foram eleitos com mais de 90% dos votos (Ozzie Smith em 2002, Wade Boggs em 2005, Carl Ripken Jr e Tony Gwynn em 2007, Rickey Henderson em 2009 e Roberto Alomar em 2011). Nas seis votações realizadas desde 2014, já foram oito com mais 90%: Greg Maddux e Tom Glavine em 2014, Randy Johnson e Pedro Martínez em 2015, Ken Griffey Jr em 2016, Chipper Jones e Vladimir Guerrero em 2018 e Mariano Rivera em 2019.
O eleitorado continua sendo jornalistas que cobrem a MLB e são membros da Associação de Jornalistas de Beisebol dos EUA há dez anos. Mas houve mudanças nos últimos anos. Nos últimos anos, foram aceitos jornalistas que trabalhassem em sites (antes era exclusivo para quem estivesse em jornais). Além disso, profissionais que não estão mais atuando na cobertura da MLB perdem o direito ao voto.
Essas mudanças levaram a uma significativa renovação no eleitorado. Jornalistas mais jovens passaram a ter mais força, trazendo consigo uma nova forma de avaliar o legado dos jogadores (por exemplo, considerando com mais carinho as estatísticas mais modernas e tendo menos resistência ao voto em jogadores que utilizaram doping). Outra questão importante foi o escrutínio do público e o papel das redes sociais.
Muitos dos craques do passado deixaram de ter 100% dos votos simplesmente porque ninguém tinha conseguido ainda. Como a marca não havia sido alcançada por mitos como Ruth, Mays e Aaron, muitos jornalistas tradicionalistas achavam que o certo é que ninguém a atingisse. Com isso, alguns eleitores deixavam de votar propositalmente em alguns jogadores - aqueles cuja eleição era barbada - só para evitar que eles chegassem à unanimidade.
No entanto, o público começou a fiscalizar mais os votos. Não votar em algum jogador deixou de ser visto como uma proteção aos ídolos do passado, mas como atitude mesquinha. O sujeito pode não votar em jogadores como Greg Maddux, Pedro Martínez ou Chipper Jones, mas é melhor ter argumentos técnicos para isso. Ou então mantém o voto em segredo para evitar as críticas.
Mas esse processo parecia inevitável. Em 2016, Griffey Jr bateu o recorde de 24 anos de Seaver e foi eleito com 99,32%. Quando o ídolo do Seattle Mariners ficou a três votos da unanimidade, ficou evidente que ela apareceria quando a cédula tivesse o nome de um jogador que fosse incontestavelmente um craque, admirado como pessoa e que tivesse atuado diante de uma audiência nacional. Muitos apostavam em Derek Jeter, mas Rivera chegou um ano antes.
Com a quebra da barreira dos 100%, a tendência é que essa marca se repita de tempos em tempos. Jeter tem boas chances em 2020. Em 2022 há uma questão interessante com Alex Rodríguez e David Ortiz, dois jogadores espetaculares, mas com histórico - confirmado ou fortemente suspeito - de doping.
De qualquer modo, isso não mudará o fato de que o Hall da Fama do beisebol continuará sendo visto como o mais difícil de entrar nas grandes ligas americanas. Apenas 1,2% dos jogadores da MLB conseguem a imortalização. Na NFL, o índice é ligeiramente inferior, 1,1%, mas dá para considerar empate técnico se considerarmos que punters, kickers e long snappers são praticamente descartados como jogadores “imortalizáveis” (há apenas um punter e quatro kickers no Hall da Fama do Futebol Americano Profissional). Na NBA e na NHL nem há comparação: 3% dos atletas acabam ganhando um busto no Hall da Fama.
Fonte: Ubiratan Leal
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