Guerrilla Girls: um encontro entre arte e futebol
É das paredes do MASP (Museu de Arte de São Paulo) que vem minha inspiração para a coluna de hoje. Muitas vezes, as coisas precisam estar ali, estampadas, para que a gente reflita sobre assuntos que, na verdade, sempre estiveram diante de nossos olhos e não víamos com a devida atenção. Falo da inspiradora exposição "Guerrilla Girls: Gráfica 1985-2017", a linda mostra que é guiada por duas letras: F, maiúsculo, de FEMINISMO, e o M, também gigante, de MULHER.
Contextualizando:
O Guerrilla Girls, movimento coletivo criado em Nova York em 1985, influencia a arte com mensagens consistentes há bastante tempo, com atitude heterodoxa, bem humorada e visual chocante. O grupo, composto por artistas mulheres, usa números/manchetes/fatos para expor sexismo, racismo e corrupção no mundo da arte, na política e na cultura pop. É sobre aquilo que está nas entrelinhas, no subtexto, sobre o que se faz vista grossa, o injusto, conforme declarou em entrevista pra o Estado de São Paulo a guerrilheira que se apresenta como Käthe Kollwitz.
No passeio cultural no Masp, os mais de 100 cartazes produzidos ao longo de três décadas expressam com esse humor "ácido" e com estatísticas a arrasadora realidade do preconceito às mulheres. E, se falamos de um real preconceito em várias esferas, é claro que arte também é atingida em cheio ao quantificamos as oportunidades que artistas femininas tiveram de expor sua arte nos maiores e mais renomados museus do mundo.
E de como o corpo, a nudez feminina, se faz presente com intensidade nesses casos. Para se ter uma ideia, eis o contraste entre o pequeno número de artistas mulheres comparado ao grande número de nus femininos da coleção em exibição no Metropolitan Museum de Nova York (5% e 85% em 1989, e 4% e 76% em 2012) e no próprio MASP (6% e 60% em 2017).
****Destaco que, no Brasil, tivemos grandes expoentes femininos da arte: um privilégio de quem é berço das modernistas Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e de outras que vieram depois como Lygia Clark, Lygia Pape e Mira Schendel, talvez mais desconhecidas para o grande público.
Essa exposição aparece em minha vida numa semana em que a força das mulheres se fez também presente numa reunião da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma oportunidade única de se discutir o futebol feminino e de se exigir melhores condições para a modalidade com a criação de um comitê para o desenvolvimento do esporte, baseado numa cartilha inicial muito bem elaborada.
Estamos falando de inclusão, de oportunidade, de igualdade, de melhores condições, de transparência, de espaço, de investimento, de organização, de crescimento, falamos de tanta coisa, mas principalmente de MULHERES com "M" maiúsculo (e de Feminismo também). Penso que se essas guerreiras que hoje comandam esse movimento histórico que foi bater à porta da CBF fossem expor nas paredes do MASP ou de qualquer outro museu, suas lutas, seriam elas um pouco de "Guerrilla Girls do esporte".
Há uma riqueza cultural tão grande em nossa história brasileira relacionando a identidade do nosso povo a esse esporte que move multidões... Somos abastecidos com informações sobre a bola desde os nossos primeiros "suspiros" no mundo. Futebol é tão parte de todos nós, gostando ou não da modalidade, que nada mais justo que tratemos o futebol feminino da mesma maneira que tratamos o masculino.
Óbvio que mudanças levam tempo, mas verdade é que essas alterações precisam ser comandadas por pessoas qualificadas, que entendam do que falam para que possam também se fazerem compreendidas, cobrar por medidas e conseguir resultados esperados. Quem mais pode fazer isso senão aquelas que VIVEM intensamente o futebol feminino?!
Vale o sacrifício dessas atletas que preferem se aposentar da seleção brasileira a estarem em condições precárias. Lembro, ainda, que vale muito o esforço de uma ex jogadora como a querida amiga Amanda Moura que deixou uma carreira nos Estados Unidos, se qualificou e retornou ao Brasil influenciada por um conceito norte-americano de gestão esportiva para usar de sua expertise para aplicar na educação, nos projetos pensados para o futebol feminino, na base, nas próximas gerações e nas que já estão por aí brilhando sem o mesmo brilho/oportunidades que homens têm. Uma mineira que tem o sonho de levar o Brasil ao patamar de referência. É preciso acreditar!
Neste momento, é exatamente para isso que estamos torcendo. Diante de nossos olhos, o pedido de "vamos tratar o futebol feminino com a atenção que ele merece, país do futebol!". Um salve às Cristianes, Julianas, Amandas, Formigas e outras tantas envolvidas nessa luta!
Women power!
Guerrilla Girls: um encontro entre arte e futebol
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